Capítulo 19

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André

A esperei na sala de estar por quase uma hora. Para não ficar impaciente acabei pegando um livro para me destrair e ver o que mais poderiam estar falando sobre a nossa chegada. Porém aqui era diferente, não havia nada no jornal que indicasse a nossa chegada. Não havia qualquer mensão de nada envolvendo a politica, somente as benfeitorias dos coroneis que permeavam aquela cidade.

— Demorei? — ela desceu as escadas com seu vestido manga longa e fiquei intrigado. Eu nunca tinha reparado como aquilo era uma marca registrada dela, nunca tinha me atentado por muito tempo, já que nos casamos no inverno e era normal e depois ela se afastou completamente e eu não fiz questão de saber o por que daquele comportamento, mas agora estava me incomodando, o que será que tinha de errado?

— O tempo necessário — sorri e me levantei indo em sua direção. Estendi minha mão para que ela segurasse assim que chegasse no último degrau da escada.

— Você parece cansado, algo te preocupa? — ela estava ficando melhor em ler minhas feições e não sei se isso era bom ou ruim.

— Acredito que seja somente o cansaço da viagem.

— Então é bom que tenha uma boa noite de sono — puxei a cadeira para ela se sentar.

— Tentarei — me sentei na cabeceira e olhei pela primeira vez para as comidas servidas. Gabriela tinha feito um excelente trabalho.

O arroz estava soltinho, o frango bem assado e as batatas pareciam brilhar. Eu não gostava dos exageros e sim do simples e aparentemente a mulher tinha acertado em cheio.

Comemos conversando sobre amenidades, Maria Rita gostava de ouvir eu falar sobre o que faria no dia seguinte e me deixou falar mais do que devia. Mesmo ela tendo se aberto mais para mim nesses útimos dias, a chegada aqui parecia ter roubado um pouco de suas palavras.

— O que pretende fazer amanha? — perguntei assim que ela pousou os talheres dando-se por satisfeita.

— Acho que vou me interar mais sobre essa casa, ver o que as meninas precisam e deixar tudo organizado.

— Mas já está tudo organizado — ela se remexeu desconfortável na cadeira. A verdade é que sua obceção por conferir se a casa era realmente segura voltava a se manifestar. — Maria, está tudo bem, eu verifiquei a casa antes de você vir para cá. Usei todos os requisitos que você pediu quando fomos para Antunes. Eu...

— Eu sei — ela abaixou a cabeça e não me encarou — É só que..

— Você está com medo e eu entendo — segurei sua mão por debaixo da mesa. — Eu não quero que você sinta isso, eu quero que você confie em mim.

— Eu confio André, mais do que possa imaginar. — podia ver a verdade em seus olhos.

— Então acredite que eu nunca pegaria uma casa caindo aos pedaços para nós.

— Minha casa não estava caindo aos pedaços, mas ela... — era mais um pedaço da história que ela ainda não queria me contar. — Ela não resistiu.

— Essa vai cumprir sua função.

— Tem certeza? — ela levantou seus olhos para mim, marejados — Tem certeza que nada acontecerá conosco aqui.

— Tenho, eu tomei todas as medidas cabiveis para que você se sinta segura. Amanha mesmo a equipe de seguranças que Antônio contratou para ele e para Álvaro chegará para cuidar de nós.

— Isso é bom. É bom eles não serem daqui.

— Por que diz isso?

— Eles seriam corrompidos se fossem daqui. — levantei a sombrancelha. — Se as pessoas continiuam como bem penso, manda quem pode obdece quem tem juízo. Esse é o mantra daqui.

— Entendo — mas eu não entendia. O que será que tinha tanto no povo daqui. Eu já tinha as informações de Antônio, as informações do jornal que li no dia anterior e o que Maria me contava.

— Não André, você não entende até que aquele maldito faça algo — ela se levantou assustada — Vou para o meu quarto, obrigada pelo jantar. — ela se retirou me deixando sentando olhando para a parede branca a minha frente.

Fiquei assim por um tempo e quando resolvi me levantar para ir até ela e tentar arrancar mais alguma coisa, Kate apareceu na sala.

— Senhor, posso lhe falar por um minuto? — concordei com a cabeça.

— Claro, diga — voltei a me sentar.

— Sua esposa já morou em Colinas, não morou?— ela questionou e fiquei sem saber o que dizer.

— Tinha família aqui — respondi sem confirmar.

—Se ela já morou aqui, é uma sorte que tenha conseguido sair com vida. Ninguém deixa esse lugar. Ninguém que tenha nascido aqui. — ela fou baixo — Não deveria tê-la trazido.

— O que quer dizer? — me levantei e cheguei mais perto dela.

— Se ela fugiu daqui e descobrirem que ela voltou, não será bom.

— Quem descobrir?

— O coronel. Aquele homem é dono do lugar todo, tem olhos em cada buraco da rua, não se deixei enganar com sua fala mansa e cara de bom homem, ele é o demônio.

— Por que está me dizendo tudo isso?

— Por que acho que sei quem é sua esposa. — o medo em seus olhos transmitia tudo o que eu via em minha esposa. Ninguém parecia querer falar muito sobre o tal coronel, mas sempre que o faziam era a base de medo e receio.

— E quem é ela? — minha voz estava urgênte.

— A prometida do Coronel.

Fiquei sem chão. Se isso fosse verdade tudo se encaixaria e o medo de Maria estaria mais claro do que nunca para mim. Isso tudo se encaixaria como um quebra cabeças formando o mapa de destruição que havia sido a vida de Maria.

Da mesma forma que eu queria conhecer sobre tudo, eu tinha medo de descobrir pelo que ela tinha passado, as coisas pareciam surreais para alguém como eu que nunca precisou sofrer para conseguir nada, nem mesmo a liberdade que eu tinha.

Descobrir que alguém proximo a mim foi uma pessoa infeliz boa parte da vida e que continuava assim por minha culpa me torturava um pouco mais.

— Sente-se, quero que me conte tudo o que sabe! — e foi o que ela fez.

O conde domado - Livro 3 - sem revisãoWhere stories live. Discover now