Capítulo 15

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André

Ciumes?! Era isso mesmo que eu estava vendo em Maria Rita?

Eu custaria a acreditar que Lana sentiria qualquer coisa, já a verdadeira parecia transparecer mais do que gostaria e isso estava me fazendo a ter uma nova perpctiva de futuro.

Seus olhos não me encaravam em momento algum depois que a garçonete se afastara. E isso sempre foi comum em todas as vezes que saimos. Sempre alguém fazia algo e eu esperava um reação dela que não vinha. Fechada demais para olhar ao redor.

Com certeza Lana era a parte sombria e Maria Rita a parte viva. Conheci no convento a personalidade de Maria Rita e me apaixonei, porém me casei com Lana que não entendia o que estava acontecendo e não queria ser confrontada nem tirada de seu mundo protetor.

— Como quer que eu te apresente? — ela me olhou assimilando as palavras.

— Não acho que no início seja bom me chamar de Maria Rita, todos saberiam que sou em Colinas.

— E isso não é bom? — uma nuvem negra cobriu seus olhos e me arrependi do que tinha dito.

— É bom se quiser que as pessoas que fizeram mal a mim e minha família venham de encontro conosco assim que pisarmos em Colinas — sempre esquecia que havia pedaços da história que eu não sabia.

— Quer me contar mais um pouco sobre isso? — estiquei minha mão na mesa esperando que ela colocasse a dela. — Somente o que achar que eu deva saber. — ela demorou um pouco a esticar a sua mão, mas por fim não resistiu ao nosso contato.

Era assim, pequenos passos de cada vez. Pequenos contatos que estavam cada vez nos conectando. Eu gostava da maneira que ela estava me olhando e da forma que sua mão cabia dentro da minha. Gostava dos pequenos sorrisos que ela dava enquanto nossos toques ocorriam. Eram tantas emoções que me deixavam confuso.

— André, não sei ainda o que esperar, mas se tudo estiver como antes, eu corro perigo e você também. Aquele povo só pensa em dinheiro, custe o que custar — sua voz era baixa e irritada e triste. — Eles tiraram tudo que eu mais amava no mundo e tenho certeza que eu voltar para lá será o indicio de que o plano deles não deu certo e eles vão querer terminar o serviço. Eu sou uma testemunha chave. Mesmo que eu seja pequena perto da corrupição e dos planos que eles tem, tenho certeza que não vão querer nenhum tipo de dúvida sobre eles.

— Você confia em mim? Em minha família? — falei tentando não me abalar com o que tinha escutado.

— Claro que confio, mas eu tenho medo André. Não por mim. Eles já me mataram uma vez — ela deu de ombros e aquilo cortou meu coração — Meus pais.... eles não tiveram opção. Não lhe deram escolhas, na verdade...

— Na verdade?

—Gostariam de pedir? — a garçonete voltou naquele exato momento e Maria se recostou na cadeira e soltou minha mão. Bufei de irritação. Olhei para a mulher que me olhava de forma sorridente, mas morreu o sorriso assim que viu a ira que passava por meu rosto pelo interrompimento.

— Dois pratos do dia. — declarei e voltei a olhar para minha mulher que encarava a moça.

— E dois copos de água — ela falou e continuou a olha-la. — Não precisamos de mais nada, pode ir — a mulher me olhou por um segundo e se afastou. — Abusada. —sorri satisfeito.

— Continue o que estava falando. — estiquei a mão mas dessa vez ela não a segurou. Quase, bem quase mesmo, arrastei a cadeira até o lado dela e a envolvi em meus braços. Eu sabia que era isso que eu precisava naquele momento.

Precisava do seu toque, do seu cheiro em meu nariz, de seu calor em meu corpo. Eu precisaca dela cada dia mais. Era uma urgência que eu nunca tinha sentido antes, uma angustia que me consumia toda vez que ele dizia que estava em risco. Eu só precisava protegê-la do mundo e tudo ficaria bem.

A comida chegou poucos minutos depois e comemos em silêncio. Nossos olhares se avaliavam e pequenos sorrisos escapavam de nossas bocas. Era um mundo paralelo no qual estavamos vivendo e eu gostava muito disso.

Voltamos para o carro, onde Joaquim já nos esperava, e entramos voltando para a viagem até a próxima cidade em que passariamos a noite.

No trajeto Maria acabou dormindo e a puxei para meu ombro para que ela ficasse mais confortável.

— Senhor, posso perguntar uma coisa — Joaquim me olhou pelo retrovisor.

— Claro — eu já imaginava o que seria.

— A senhora... mudou. — ela falou baixo e eu confirmei com a cabeça.

— Quando chegarmos a Colinas você vai entender. Vou precisar muito da sua ajuda.

— O que precisar, senhor. — confirmei e voltei a olhar a paisagem enquanto o dia se esvaia.

Chegamos ao hotel perto das 20h e a cidade estava em completo silêncio. Entramos e nos destinaram um quarto no segundo andar, final do corredor.

Não deixei que Joaquim levasse nossas malas, eu podia ver o quanto ele estava cansado e o mandei ir descansar. Maria Rita e eu eramos capazes de nos virar.

— Prefere jantar agora ou depois de tomar um banho? — perguntei enquanto ela abria sua mala sobre a cama.

— Acho que vou me refrescar primeiro. Estou com calor.

— Deveria colocar roupas mais leves para a viagem. Só anda com essas mangas longas, querida. Isso pode te fazer mal — ela não percebeu que eu a observava e ficou paralisada após minhas palavras.

— Eu ... eu prefiro assim — ela gaguejou e um alerta se acendeu em minha cabeça. Tinha mais alguma coisa que ela não estava me contando.

— Maria? — ela levantou seus olhos para mim e os abaixou rapidamente.

— Sim... — sua voz já estava mais áspera.

— Quer ir tomar banho primeiro? Ou posso ir? — mudei o que ia perguntar para não criar mais nenhum atrito desnecessário. Ainda não estava no momento para descobrir o que mais ela estava escondendo. Em poucos dias eu já tinha descoberto coisas demais.

— Pode ir, vou arrumar minhas coisas primeiro. — confirmei com a cabeça e peguei minha troca de roupas.

Teria que ter cuidado com as palavras, ou traria a tona Lana de volta, e eu não queria de jeito nenhum. Queria ficar com Maria o tempo todo e não estava pronto para entender que as duas eram uma só.

O conde domado - Livro 3 - sem revisãoWhere stories live. Discover now