Capítulo 46

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Filipe 🃏

Ouvi os fogos sendo disparados no céu, e meu coração perdeu uma batida.

Alana deu um pulo do meu colo com o susto, mas eu a segurei com força, não deixando que se afastasse. Ela não me olhou, e eu não olhei pra ela. A gente não podia fazer isso, se não ia falhar, eu tava ligado.

Senti a respiração dela acelerar, e meus olhos me traíram completamente quando encararam o seu rosto nervoso. Minha criança apertava os olhos, usando a força para mantê-los fechados.

Eu percebi que ela estava a um ponto de surtar.

Ret: Alana.

A mão dela encostou no meu peito, se afastando.

Alana: Não me olha, por favor.

Ret: Olha pra mim, Alana.

Alana: Não quero, Filipe. Eu não quero - choramingou, abraçando o meu pescoço, e escondendo o rosto no meu peito.

Ret: Tu quer fugir? Se esconder? Ficar aqui?

Alana: Eu não consigo. Não sou covarde. Mas eu não tô com uma sensação boa, cara. Eu tô com medo do que vai acontecer.

Eu dei um cheiro no pescoço dela, e concordei com tudo o que ela falou, porque sentia a mesma parada. E era isso que me assustava.

Ret: Olha aqui - forcei ela a se afastar de mim, segurando o seu rosto entre as minhas mãos, para que pudesse olhar em seu rosto. Alana abriu os olhos devagar, e eu vi a ponta do nariz dela ficando vermelha, mostrando que ela queria chorar - Foda-se o que a gente vai encontrar lá fora, eu não quero saber de nada, se tu tiver que atirar, tu vai atirar. Se tu tiver que passar por cima de alguém, faz sem pensar duas vezes. Não tá na hora de deixar o coração comandar, se ligou? Agora tu vai agir na frieza, sem olhar pro lado. Tu vai fazer o teu, e vai mostrar que consegue passar por essa porra sozinha!

Alana: Você vai ficar bem? - perguntou, devolvendo o olhar na mesma intensidade.

Ret: Vou estar do teu lado, parceira - ela concordou com a cabeça, e engoliu o nó que havia se formado em sua garganta - Independente do que rolar, Alana, independente de pra onde eu for, pra onde tu for, independente de tudo... me promete que vai ficar viva.

Alana: Se eu cair... - eu nem deixei que ela completasse a frase.

Ret: Eu vou te buscar em qualquer lugar do mundo. Confia nas minhas palavras.

Alana: Eu confio.

Ret: Então acredita quando eu digo que se der merda pra mim, tu vai se sair bem. Eu vou dar os meus pulos, não entrei no crime ontem, sou macaco velho no bagulho e já passei por coisa que Deus duvida.

Alana: Eu não quero ficar sem você.

Ret: Tu não vai ficar - entrelacei nossos dedos, dando um beijo na sua mão - Sou teu Filipe, pô. Vou sempre dar um jeito de voltar pra tu, criança.

O barulho dos tiros do lado de fora me fizeram acordar pra vida. Empurrei a Alana do meu colo, deixando ela sentada no sofá, enquanto prendia o colete envolta do meu corpo. A criança levantou, meio cambaleando, e fez a mesma coisa. Mas eu vi suas mãos tremerem pra caralho.

Alana: Filipe - me chamou, antes que eu abrisse a porta. Eu parei, e ela se aproximou, abraçando o meu corpo. Cheirei mais uma vez o pescoço dela, querendo gravar na memória cada detalhe daquela menina - Nem é a melhor hora pra falar, e talvez até seja cedo. Mas não quero que você saia por essa porta sem saber que eu te amo, e que valeu a pena cada segundo que a gente viveu junto.

Senti meu nariz apertar, e os olhos arderem.

Pô, eu não podia perder aquela garota de jeito nenhum.

Antes dela eu era só um homem fechadão pra vida, fechado pra tudo e pra todo mundo. Era um merda nos meus relacionamentos. Não só romanticamente falando, mas com a minha família e com os parceiros também. E a Alana chegou igual um furacão revirando tudo de cabeça pra baixo. Hoje, sem dúvidas nenhuma, eu era um cara bem mais leve por conta dela... por conta das coisas boas que ela me fazia sentir.

Ret: Criança... - ela juntou os lábios nos meus, calando a minha boca. Senti o gosto salgado das lágrimas dela, fazendo o meu peito apertar fortão.

Alana: Me fala quando a gente se ver de novo.

A Alana me empurrou pra sair da frente dela, e pulou pra fora do galpão, correndo pra se esconder entre uma construção e outra. Depois que eu retomei a minha consciência eu coloquei a pistola na mão e fui atrás dela.

Os caras não estavam pra brincadeira. Caveirão blindado subindo, o águia rondando no ar. O engraçado é que pra isso o governador tinha dinheiro.

Porra, sem caô. O bagulho estava sinistro.

Eu e a criança ainda não tínhamos precisado atirar em ninguém. Porque fomos escondidos descendo o morros, sem que ninguém nos visse e sem vermos muitas pessoas também.

Mas foi por pouco. Por muito pouco que ela não ganhou um tiro bem no meio da testa, quando tentou sair de trás de um muro, pra entrar na viela. Alana se espremeu ficando abaixada do meu lado, e eu fiz sinal pra que ficasse quieta.

Contei até três, e foi só bala nos verme.

Mas eles eram em um número bem maior do que nós dois, e estávamos completamente encurralados ali, não tinha nem pra onde correr.

Ouvi os passos deles se aproximando mais uma vez, e encarei o outro lado da rua.

Um segundo pra atravessar.

Um segundo que podia ser fatal.

Morrer lutando sempre parecia uma opção mais agradável.

Ret: A gente vai correr pro outro lado - falei no ouvido dela, que me olhou assustada - Vai na frente e não olha pra trás.

Alana: Filipe...

Ret: Não vai rolar nada comigo, é a tua cara que está manjada. No três, Alana. Não olha pra trás.

Ela não concordou, mas eu comecei a contar de qualquer forma. Quando o número três saiu da minha boca, a criança ficou de pé, correndo pro outro lado da rua. Eu fiz a mesma coisa, e menos de um passo de distância separava a gente.

A chuva de tiros foi ouvida. O clarão foi visto. Mas eu só senti as minhas pernas fraquejarem quando já estava quase do outro lado da rua, junto com ela. A ardência no meu ombro doía, incomodava e queimava.

Ret: FILHA DA PUTA! - gritei, sentindo o meu corpo cair no chão, quando outro tiro atingiu a minha perna.

Tudo aconteceu em uma fração de segundos.

E quando eu me dei conta a Alana estava jogada na minha frente, cobrindo o meu corpo com o seu próprio corpo, gritando alto pra caralho, e descarregando o pente das duas armas que segurava nas mãos, na direção dos policiais.

Eu até tentei reagir, tentei atirar, pra pelo menos poder ajudar ela em alguma coisa.

Mas o meu corpo perdeu todos os sentidos quando eu ouvi ela gritando o meu vulgo, ainda sem parar de atirar.

Lado a LadoWhere stories live. Discover now