Capítulo 65

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Filipe 🃏

Sete dias caçando aquele filho da puta, pra quando encontrar, ele armar uma cilada pra eu cair. Mas pelo menos o bicho foi tão burro, que caiu junto comigo.

Os dois com a ficha suja, os dois foragidos da polícia e os dois com a peça na cintura. Nem deu outra, os cana meteram a gente em uma cela, e a única opção  que me restou foi ligar pro Rato, pra pedir pra ele acionar o advogado.

Claro que eu já tinha feito o meu. O Deco caiu, e eu fiz questão de avisar pra todo mundo o motivo de ele ser caçado aqui fora. Os vermes não deixaram ele na minha cela, porque não podia, já que a gente caiu junto... mas eu consegui ouvir os gritos dele, de onde eu tava, e me dava a maior satisfação saber que ele tava sofrendo pra um caralho. A punição ali dentro podia ser melhor do que qualquer uma que eu ia dar pra ele. Estupro dentro da cela nem tinha perdão, estuprar a mulher de um bandido... tinha nem salvação, os cara iam pra matar mesmo.

Mas agora ali, sabendo que o Deco tava sendo cobrado, não aliviava a neurose na minha mente. Tinha várias fita me preocupando. Minha coroa, meus parceiros, minha mulher e a criança que ela carregava na barriga.

Como que ia ser o bagulho? Quanto tempo eu ficar longe dela, longe de casa? A Alana não podia se estressar, o médico tinha falado que era uma gravidez de risco, então como ela ia reagir quando soubesse que eu caí?

Ret: Marques - chamei o parceiro, que já tinha conhecido da outra vez que fiquei trancado - Tem um radinho, aí? Precisava trocar uma ideia com uma pessoa.

Ele concordou com a cabeça e me estendeu o celular que estava escondido embaixo do único colchão que tinha no ali.

Um colchão pra cinco homens. E a gente que se fodesse pra dormir.

Salvei direto o contato da Alana, e chamei.

📲

Ret: Criança

Alana: Filipe?

Ret: Mais alguém te chama assim?

Alana: Cara, o que tá acontecendo? Onde você tá? Pelo amor de Deus, eu sei que a gente não tá bem, mas para com a palhaçada e volta logo pra casa, eu juro que faço o que você quiser.

Eu sorri, lendo a mensagem dela.

Ret: Te amo, parceira. Tô com tanta saudade de tu.

Alana: Eu te amo, Filipe. Volta pra casa. Por favor.

Ret: Vou fazer o meu melhor. O advogado vai tentar limpar a minha barra mais uma vez, pagar fiança e os caralho. Tu tá bem? Tu tem que ficar bem.

Alana: Vou ficar bem com você aqui.

Ret: Tô sempre contigo.

Alana: Você tá bem? Tá machucado?

Ret: Não. Eu caí, mas o Deco caiu também. Ele tá sendo cobrado por tudo o que fez contigo.

Alana: Não me importo com o Deco, quero saber de você.

Ret: O Rato vai cuidar de ti. O Grego também. Eles tão na missão, confia neles, até eu dar meus pulo e sair daqui.

Alana: Volta pra casa, Filipe. Por favor. Por favor.

Ret: Eu sempre vou dar um jeito de voltar pra tu, se ligou?

Alana: Vou te ver. Quando tem visita?

Ret: Não te quero aqui. O bagulho é tenso, Alana. Tu tem que ficar de boa, tem que descansar por causa da criança aí.

Alana: É uma menina. Fui no médico hoje.

Eu pisquei, respirei fundo, tentei entender o que eu estava sentindo ao saber disso. Nada. Indecifrável. Medo, e tudo me remetia a Alana.

Ret: E tu tá bem?

Alana: Só vou ficar quando você estiver aqui comigo.

Ret: Se cuida, Alana. Não me deixa nervoso. Tenho que confiar que tu vai ficar bem, que tu vai sair dessa sem eu. Tu é forte pra caralho, eu sei que tu consegue.

Alana: E se eu não quiser ficar longe dela, e nem de você?

Ret: Eu não consigo ficar longe de tu, minha criança. Não sei como vai ser. Não sei. Tem muito bagulho na minha cabeça ainda. Mas eu não vou ficar longe de ti - o Marques fez sinal, que os cana tavam vindo - Te amo, tenho que devolver o celular. Te amo, Alana. Se cuida, por favor.

📲

Eu apaguei o contato dela, e bloqueei, pro Marques não ter o número e nem a foto da minha mina no radinho dele.

Devolvi o celular e fui tentar dormir um pouco, sentado no chão e com a cabeça encostada na parede.

A Alana tinha me dito que era uma menina. Eu nem sabia o que pensar disso. Mas a onda bateu tão forte na minha cabeça, que eu sonhei com ela. Com elas.

Minha criança tava brincando com a criança menor no colo, e elas riam uma pra outra, segurando duas bonecas no colo.

A pequena me viu e fechou a cara, cruzando os braços. Eu sentia que tava puto também, mas não sabia porque. Nós tava num parquinho que tinha na quebrada, perto da quadrinha.

Alana olhou de mim pra criança e riu.

Alana: Vocês são iguais, acho incrível.

- Briga com ele, mãe.

Alana: Por que? - ela perguntou, provocando a mini onça.

- Porque ele é chato e não gosta de mim.

Ret: Eu gosto de tu - fiz careta.

Sonho doido, eu nem gostava mermo.

- Então aceita que eu sou sua filha, parceiro - ela falou apontando o dedo pra mim e metendo maior marra de bandidinha.

Alana: Ela é sua filha mesmo.

Ret: Não é. É tua filha - olhei pra pirralha - E olha aqui, tu não fala assim comigo, tá? Tem nem tamanho pra meter essa banca toda!

Ela deu de ombros, fazendo bico.

- Então me aceita, tiozão. Se não eu vou embora e ela... - a garota apontou pra Alana - ... não vai te perdoar!

Ret: Tu vai embora pra onde, maluca? - eu baguncei o cabelo dela, porque isso deixava a menina toda brava - Se liga, sou teu pai. Vai dormir que amanhã é outro dia.

Ela soltou uma risadinha, arrumando o cabelo. Vi a Alana sorrir de lado, olhando pra menina.

- É você que tá dormindo, pai.

Acordei suando frio, com aquele sorrisinho debochado na minha cabeça.

Pai.

Porra, caralho. Ela me chamou de pai.

Lado a LadoWhere stories live. Discover now