Capítulo 17

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VICENZO COLLALTO

— Ocupado? – ouço a voz de Jane, ela está parada no batente da porta do meu escritório, onde leio alguns papéis.

— Apenas deixando o tempo passar! Entre. – digo, sem pensar duas vezes, Jane entra usando apenas um babydoll de seda branca. – O que faz aqui?

— Vim ver se está tudo bem, já está tarde. – encara o relógio, voltando sua atenção à mim – Estou lhe esperando pra dormir.

— Virou rotina, não é? – brinco, tirando um sorriso dela. Jane rola os olhos, sentando-se a frente da minha mesa.

— Nesse tempo que estamos juntos acabei adquirindo alguns hábitos, alguns deles é querer dormir no mesmo horário que meu marido. – fala – Não posso?

— A senhora que manda aqui, apenas obedeço como um bom marido. – digo brincando, quando ela fica seria e me olha intrigada. – Eu disse algo errado?

— Não! Não disse, eu que estou com a cabeça na lua. – mente, olhando para as mãos.

— Não há necessidade de mentir pra mim, somos casados e precisamos confiar um no outro. – falo, atraindo sua atenção – Que tal assim, eu falo um segredo meu e você faz o mesmo?

— Pra que isso?

— Para podermos nos conhecer melhor, não acho justo dormimos na mesma cama, viver sob o mesmo teto e não sabermos o segredo um do outro. Não quero ser um completo estranho para você.

— Você têm razão! – abre um sorriso, levantando-se e indo até o sofá estofado no escritório. – Sente-se aqui, vamos conversar.

— Como quiser. – faço o que ela manda, me sentando e abrindo alguns botões da blusa social preta. – Eu começo?

— Prefiro – diz tímida.

— Bom.. – respiro fundo – Eu não sei lidar com o amor, Jane.

— Porque diz isso?

— Para ser mais sincero, eu nunca tive demonstrações reais do que é o amor. Pra mim ele ainda é uma metáfora, de escritores que lhe criarão para deixar os livros com um ar mais romântico. Nunca fui amado, por alguém que quisesse estar comigo de verdade. Eu sempre fui fechado, distante e até mesmo rígido com pessoas que queriam entrar na minha vida.

— Quando meu irmão nasceu, eu apenas tinha cinco anos e fui induzido à amadurecer e ajudar na criação de Cristian. Deixei de ser uma criança comumoara estar ao lado dele, o que claramente não é culpa do mesmo. Aos meus dez anos, Cristian finalmente já podia andar com os próprios pés, então fui mandado para o treinamento.

Engulo seco.

— Como você deve imaginar, lá não era um lugar ideal para uma criança de dez anos. Eles me moldaram da forma que meu pai achava necessário, mostrando como a pessoa que eu admirava, não se importou em como eu voltaria. Em semanas de tortura, acabei fazendo um amigo lá dentro, fiz um amigo. Lorenzo tinha doze anos, ele também estava lá por ordens do seu pai. Mas diferente de mim, ele não saiu de lá. – o olhar de pena de Jane me deixa envergonhado.

— Lorenzo era mais forte do que eu, mas infelizmente teve uma pneumonia pela friagem do local. A falta de limpeza dos machucados, a comida estragada e toda a pressão que sofremos, foi demais pra ele. Desde então, decidi que iria honrar sua memória por eu andasse – retiro o pingente dele de cruz, que está pendurado no meu pescoço por baixo da blusa.

— Sinto muito, Vicenzo! Eu jamais poderia imaginar algo desse tipo. – ela toca minha mão, em forma de conforto. — Acho que é a minha vez, não é?

— Não precisa fazer isso, se não se sentir confortável! – falo, mas ela abre um leve sorriso balançando a cabeça.

— Eu não sou uma italiana legítima, muito menos tenho sangue dos Savóia correndo em minhas veias. E diferente de muitos que pensam que minha vida foi fácil, infelizmente não foi assim, eu sofri muito durante muitos anos da minha vida. Não acreditavam que eu podia ser uma boa mulher para a sociedade como minhas primas.

— Isso me causou uma depressão muito grande, eu me via no fundo do poço, mas em uma tarde, Tio Salvatore não aguentou me vê daquela forma e foi conversar comigo. – abre um sorriso tímida, olhando para as mãos – Ali ele me mostrou que eu não precisa ter medo do meu futuro, ou do que as pessoas pensam, porque pra ele, eu sou e sempre serei sua sobrinha querida.

— Alguns anos depois, eu continuei sofrendo nas redes sociais, eventos e até mesmo dentro da associazione. Então comecei a lutar, me vi livre e com espírito mais leve depois que a adaga virou minha melhor amiga. Mas com medo de quê mais alguém vivesse essa vida, eu comecei a me envolver com Mathias.

— Savóia? O seu primo? – pergunto, supreso.

— Exatamente. Começamos há nos envolver, sem relações sexuais, porque apesar de tudo eu sabia que precisava me manter virgem. Eu apenas queria que meus futuros filhos tivessem sangue Savóia, para que assim, não sofressem o mesmo bullying que eu à minha vida inteira. – respira fundo – É isso.

— Compreendo seu pensamento, mas você é muito importante, meu amor! – seguro seu rosto, fazendo ela arregalar os olhos pela forma que eu falo – Não deixe que diminuam você pela sua nacionalidade ou o sangue que carrega, seja confiante e mostre que não precisa de um DNA para ser a mulher foda que é.

— Você é incrível, obrigada! – segura meu rosto, olhando em meus olhos – Eu amo você, Vicenzo. Talvez eu esteja falando isso de forma desajeitada e com incertezas na mente, mas estou confiante do meu sentimento.

— Que bom, porque também estou certo do sentimento que cresce em mim! Eu amo você, e estou aqui para tudo que precisar. – beijo seus lábios, aprofundando de forma deliciosa.

Minha. minha.

A Inglesa - Nova Era 1 - ContoWhere stories live. Discover now