Capítulo 23

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Filipe

Quando eu recebi a ligação do D2, avisando que o Galego tinha entrado em contato com ele e que o pai dele e da Alana tinha aparecido, eu nem perdi tempo e dei fuga na minha mulher, indo direto pra salinha onde tinham trancado o velho.

O D2 me fez prometer, a muitos anos atrás, que eu mataria aquele desgraçado. E de fato eu tentei, mas foi tanta merda, uma atrás da outra, que eu nem consegui cumprir com a minha missão.

O Rafael, o governador, a Ravena, Alana sequestrada, o Deco, minha última vez trancado na gaiola... e por último a nossa filha, logo depois veio a minha segunda princesa, e dali em diante eu fiquei totalmente em função da nossa família, e esqueci desse imundo asqueroso.

Quando a Babi era um bebê ainda, nem tinha completado um ano de idade, eu soube pelo D2 que o velho tinha voltado a ser preso, e deixei ele mofando lá dentro, acreditando que não ia ter que me preocupar em sujar as minhas mãos com o filho da puta. Mas eu tava bem errado no bagulho.

Larguei a moto de qualquer jeito no meio da viela, e encontrei o Canalha, Galego e a Bárbara na porta da salinha.

Ret: O que tu tá fazendo aqui? - perguntei, olhando direto pra minha pirralha.

Bárbara: Eu tava na contenção na hora que ele chegou. Tava falando com o Lucas - o Galego encarou ela - Pai, porque ele apareceu agora?

Ret: Pra eu nunca ter paz nessa vida - bufei - Vai pra casa ficar com a tua mãe. Eu saí e ela tava dormindo, não vai entender nada quando acordar.

Galego: Eu te levo - ele falou pra minha filha, e me encarou em seguida - Meu pai tá aí dentro. Ele tá bem puto, tô ligado que a relação dele e do velhote nunca foi das melhores.

Bárbara: Você vai contar pra minha mãe?

Eu concordei pra ela.

Ret: Depois que eu fizer o que tem que ser feito. Tenho certeza que ela não vai se importar, esse pedaço de merda nunca fez diferença na vida dela, nem do Daniel.

Bárbara: Ta, mas... por que vocês querem matar ele? O que o cara fez de tão errado?

Tirei a pistola da cintura, e dei um beijo na cabeça da minha garota, antes de entrar na sala. Mas ela puxou a minha mão, não deixando eu entrar sem responder nada.

Ret: Ele mexeu com quem não devia, filha. Só isso.

A Bárbara não fez mais perguntas difíceis e eu entrei na sala com o Canalha logo atrás de mim. Aquele era dos meus, e a cópia do pai dele... adorava torturar.

O Daniel estava sentado de frente pro pai, que estava jogado e acorrentado no chão. Já cheguei cuspindo na cara do porco, e dando um chutão na perna dele.

Denis: Por favor. Eu tô aqui pra recuperar o tempo perdido, eu preciso dos meus filhos agora - ele chorou, tentando se proteger, quando eu dei mais um chute na perna dele.

Ret: Teus filhos? Tu tá metendo essa realmente? - gargalhei, negando com a cabeça - Tu tem alguma parada pra falar sobre isso, D2?

D2: Tenho, claro que eu tenho. Tá todo morto por dentro por causa de um câncer, e aí agora tu vem se preocupar com os "teus filhos", agora tu vem procurar a gente, seu merda?

O Canalha sentou do lado do Daniel, em outra cadeira, e ficou olhando para o velho, com os braços cruzados.

D2: Precisa de dinheiro, né? Tá morando na rua desde que saiu da cadeia. A quanto tempo? Duas ou três semanas? Não tem pra onde correr e veio atrás da gente... - ele deu uma risadinha sarcástica, jogando a cabeça pra trás - Pô, Denis, eu achava uma opção bem melhor tu se contentar em morrer de fome, ou morrer com essa porra desse câncer te comendo por dentro, porque eu te garanto, meu parceiro, que a parada aqui vai ser bem mais dolorida pra tu.

Denis: Daniel, você é meu filho! Que tipo de filho é você?

D2: Que tipo de pai é você, cuzão? Que tipo de lixo de ser humano é você? Tu acha que eu não vi tu na maldade com a tua própria filha? - ele gritou, levantando da cadeira, pra ficar de cara com o filho da puta - Essa parada me atormenta até hoje e eu tô ligado que só vou ter paz depois que ver o teu sangue no chão!

Eu fechei os olhos, respirando fundo.

Não mata de uma vez, Filipe. Não faz isso. Se controla, tortura até ele se arrepender por ter nascido.

Repeti o mantra na minha cabeça por umas três vezes, me controlando pra não disparar e fuzilar aquele arrombado todinho.

A porta da salinha foi aberta, e eu me desesperei vendo a Alana entrar, com a maior cara de deboche e a Bárbara logo atrás, com cara fechada de bandida.

Alana: Pô, reunião de família e ninguém me chamou? - ela colocou as mãos na cintura, encarando o velhote - Oi, pai. Que desprazer em ver o senhor.

Eu me aproximei dela, mas antes disso, o Canalha estava mais perto, e levantou da cadeira, parando na frente da Babi e tentando puxar ela pro lado de fora.

Bárbara: Me solta, Renan - ela reclamou, fazendo cara feia.

Canalha: Vai pra casa, Babi.

Bárbara: A minha mãe deixou, então não é você que vai me impedir.

Canalha: Para com a palhaçada, o bagulho vai ficar quente, tu não vai aguentar.

Bárbara: E tu vai pagar pra ver?

Ela desfez do toque dele e sentou na cadeira que antes o Daniel estava sentado. O Renan suspirou, me olhando como quem pedia ajuda.

Ret: Criança - encostei na cintura da minha mulher, tentando com o olhar, pedir pra que ela fosse pra longe daquele lugar. Ela não tinha que passar por mais aquele trauma - Eu resolvo. Sai daqui e leva a Bárbara.

A minha criança negou com a cabeça, colocando a mão por cima da minha e entrelaçando os nossos dedos.

Alana: Eu tava acordada - falou, me olhando - Todas as vezes, eu estava acordada, sei que é por isso que o Daniel odeia ele... porque ele viu também. Eu só ficava parada e torcia pra que não encostasse em mim, pra que aquilo acabasse de uma vez. E eu quero acabar com isso agora.

A Alana me desconsertava da mesma forma que fazia a dezenove anos atrás. Qualquer coisa que mexesse com ela, me atingia dezenove vezes mais. E de repente a ideia de acabar com ele de uma vez por todas me pareceu muito boba, muito fraca.

Aquele homem ia apodrecer na minha mão.

Ouvi a risadinha da minha filha, e vi o Renan sentando do lado dela, de braços cruzados. A Bárbara cruzou as pernas.

Bárbara: É Vovô, eu acho que a gente vai se divertir bastante.

Saturno Where stories live. Discover now