Capítulo 27

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Bárbara

Quando eu tentei abrir os olhos pela primeira vez, não consegui. O meu cérebro fritou por conta da claridade, e eu tive que voltar a fechá-los, e respirar fundo, antes de novamente criar coragem pra acordar.

Minha cabeça doía, meu corpo doía, minha garganta e a minha boca estava toda machucada. E o pior de tudo, eu nem reconhecia aquela casa... aquele quarto.

Não era o quarto da Beatrice, nem o do Lucas, da Luiza, da Bianca, e muito menos o do Canalha. Também não era o meu quarto.

Abaixei o olhar para o meu corpo, e vi que eu estava coberta somente pelo edredom, pois não vestia nada, nem uma peça de roupa e bizarramente minha memória me traia, e as lembranças da noite passada sumiam da minha cabeça como se não houvessem existido.

Por alguns minutos eu ignorei a dor de cabeça, e forcei a minha memória a lembrar de algo que fosse útil.

Eu fui pro baile, com a Beatrice e com o Lucas. Mas não fiquei com eles, eu procurei o Padilha, ele mandou todo mundo sair do camarote e a gente ficou trocando um papo maneiro lá. Até o Canalha chegar.

Eu estava tão puta com ele, e com o que ele havia feito, que lembro de só ter o visto e ficado extremamente puta. 

Padilha e eu fomos beber então. Eu bebi um copo. Tentei forçar a minha cabeça, pra lembrar de mais bebida, ou se eu havia usado alguma parada, mas não lembrava de nada depois disso.

Cocei os olhos e vi minhas roupas jogadas no chão do quarto.

Prendi o meu cabelo no alto da minha cabeça, de qualquer forma, e vesti a minha roupa, demorando mais tempo que o necessário, porque eu realmente estava destruída.

Depois eu saí do quarto devagar e na ponta dos pés, com medo do que eu poderia encontrar depois daquela porta. De cara, vi um homem que devia ter uns quarenta anos, todo tatuado, com uma cicatriz no rosto, tomando café.

- Bom dia - ele sorriu pra mim, colocando a xícara de volta na mesa, e largando o celular dele.

Fechei os olhos, tentando reconhecer aquele homem de algum lugar. Mas eu não fazia ideia, só esperava que eu não tivesse dado pra um desconhecido.

- O Padilha foi na padaria, logo logo ele já chega.

Respirei aliviada ao ouvir isso. Eu tinha dado pro Padilha, talvez isso fosse menos pior. Concordei com a cabeça, para o homem.

- Bárbara, né? Ele tava falando bastante de você nos últimos dias.

Bárbara: Desculpa. Eu preciso ir. Sabe me dizer que horas são?

- Senta aqui comigo, pô - vi o olhar descarado dele descer para as minhas coxas que estavam expostas, e o sorriso em seu rosto aumentou - Meu nome é Diogo. Sou da paz, logo menos meu moleque chega aí pra falar contigo.

Bárbara: Achei que o Padilha não tivesse família - comentei, estranhando.

Diogo: Ah, é um filho da puta mermo - ele negou com a cabeça - É eu e ele no mundo. Meu filho. Mas nem sempre pude estar tão presente, então ele tem esses dramas mesmo.

Bárbara: Hum. Tchau - acenei, indo até a porta.

Diogo: Calma aí, garota. Tu não tá na Penha não.

Bárbara: Que? Como assim?

Diogo: Padilha vem pra cá de vez em quando, brotou contigo aqui no Chapadão. Da uma segurada aí, daqui a pouco ele te leva embora.

Eu fiquei puta. Como eu tinha ido parar em outro morro sem nem me lembrar de nada?

Bárbara: Eu vou embora agora.

Eu nem tinha terminado de falar e a porta foi aberta, o Padilha entrou por ela, com a maior cara descarada e sorriu chegando perto de mim.

Nem perdi tempo e meti um tapa na cara dele.

Padilha: Que isso, Bárbara? Tá maluca?

Ouvi o pai do Padilha dando uma risada e murmurando algo como "a mãe era assim também", mas não dei muita bola, porque não fez nenhum sentido na minha cabeça.

O Padilha segurou o meu pulso com força, e eu chutei a perna dele.

Bárbara: O que você colocou na minha bebida, seu merda?

Padilha: Bala, só o que tu pediu.

Bárbara: O teu cu. Eu nem tomo bala, eu não gosto! - gritei, me desfazendo do aperto dele - Porra, e mesmo que eu tivesse pedido alguma parada, eu tava inconsciente e mesmo assim acordo sem roupa na tua cama em outro morro, bem longe da minha casa! Que tipo de homem é você que transa com alguém sem consciência?

Ele negou com a cabeça, fechando a cara.

Padilha: Tu não tava inconsciente, Bárbara. Bem pelo contrário!

Bárbara: Eu tava tão consciente que nem lembro de nada do que aconteceu - respirei fundo - Você pelo menos usou camisinha?

Padilha: Tu disse que não precisava.

Bárbara: Vai tomar no seu cu, na moral - empurrei o corpo dele pra longe do meu.

Por sorte, ele nem tentou vir atrás de mim. Então eu só desci aquele morrão todo e pedi um Uber de volta pra Penha.

Tinha várias ligações e chamadas perdidas no meu celular, eu mandei uma mensagem pra minha mãe, falando que ia pra casa, e que explicava tudo pra ela depois.

Com certeza o meu pai estava querendo me matar, a minha mãe enlouquecendo, e a Bianca aliviada por não ser a única decepção da família.

E eu, quando entrei no Uber, a única coisa que consegui fazer foi me encolher no banco traseiro e chorar baixinho, sem que o senhor muito simpático que dirigia percebesse.

Estava me sentindo suja, usada e humilhada. E o pior de tudo é que eu sabia que o pior ainda estava por vir.

Saturno Where stories live. Discover now