Capítulo 31

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Bárbara

Depois do que aconteceu, eu fui levada ao postinho do morro, a Dani e a Laura me acompanharam, e logo depois a tia Kelly veio também. Eu tomei vários remédios e fiz alguns exames também, onde foi constatado sim que teve ato sexual.

Eu só não entendia como o Padilha foi capaz de enganar todo mundo por todo esse tempo, e a trouxa aqui caiu feito uma idiota.

As meninas evitaram tocar no assunto, mas se mostraram disponíveis a fazer qualquer coisa que eu precisasse, o que foi muito fofo, porque sem elas, eu estaria sozinha.

Meus pais se preocupavam comigo, mas o jeito de lidar deles era completamente diferente. Assim como os meus tios. Meus primos nem souberam do que estava acontecendo, e eu pedi pra que não soubessem, quanto menos gente envolvida, melhor seria.

A Laura me perguntou se eu queria ir pra casa, ou pra outro lugar, depois que tinha feito tudo. Mas eu só queria a minha cama, um banho bom, e descansar um pouco.

Com exceção da minha avó, a casa estava vazia quando eu cheguei, e mesmo sabendo que no lugar deles eu provavelmente agiria da mesma forma, aquilo me decepcionou um pouco, porque eu precisava da minha família por perto nesse momento.

Vivi: Oi, minha princesa - ela sorriu fraquinho pra mim, e veio me abraçar - Como você está se sentindo?

Fiz uma careta, olhando pro vestido roxo que eu tinha roubado da minha irmã.

Bárbara: Suja.

Kelly: Vai tomar um banho, Babi. Tenta relaxar um pouco. A gente vai te esperar aqui embaixo.

Eu concordei com a cabeça, mordendo a bochecha.

Meu celular tinha descarregado, e eu liguei ele antes de entrar no banheiro, na esperança de ter pelo menos uma mensagem dos meus pais, ou tios. Mas não tinha nada.

Me arrastei até o banheiro, rasguei aquela merda de vestido, jogando no lixo... depois eu compraria outro pra minha irmã, ela também não ia querer aquele negócio se soubesse o que tinha acontecido.

Fiquei embaixo da água chorando, esfregando cada parte da minha pele e tentando lembrar de alguma coisa, durante uns quarenta minutos. Até a Laurinha bater na porta do banheiro, perguntando se eu estava bem e se precisava de alguma coisa.

Me forcei a sair do banho depois disso, e após encarar o meu reflexo por três segundos no espelho, eu desisti, indo direto pro meu quarto e colocando o maior moletom que encontrei no meu guarda-roupa.

Laura: Ei - ela entrou no meu quarto devagarinho - Quer conversar?

Bárbara: Obrigada por não me deixarem sozinha - agradeci, sentando na minha cama.

A minha tia pegou a escova de cabelo das minhas mãos, e começou a pentear os meus fios, com a maior calma do mundo.

Laura: Somos sua família, não vamos te deixar sozinha - ela respirou fundo, e eu soube que estava pensando no que dizer - Eu só tô aqui porque não sei atirar, não pensa que eles estão errados por ir atrás desse filho da puta. O Deco já fez mal demais pra todo mundo no passado, ele não pode voltar agora.

Eu não respondi, porque não tinha uma resposta para aquilo, e quando ela terminou, me pediu pra descer, porque as meninas tinham preparado um jantar pra mim.

Achei muito bonitinho, todos os pratos que eu mais gostava, dignos de um banquete.

Vivi: Quando acabar de comer tem brigadeiro de sobremesa.

Sorri fraquinho pra ela, e me sentei na mesa, pra tentar comer um pouco.

Elas conversaram sobre vários assuntos, e as vezes até conseguiam me distrair, mas na maior parte das vezes eu lembrava do que tinha acontecido, e ficava em silêncio.

Depois que comeram, elas foram arrumar tudo, e na cozinha só ficou eu, a minha avó, e a tia Kelly.

Não queria perguntar do Renan, mas eu queria saber dele, então fui obrigada a deixar o orgulho um pouco de lado.

Bárbara: Ele já sabe? - perguntei, sentindo os olhares das duas na minha direção.

A Kelly concordou, com aceno receoso.

Kelly: Ele ia pro postinho, pra te ver. Mas saiu com os meninos e com a Alana - eu fiz bico, concordando com a cabeça e mexendo com a comida no meu prato, que eu não havia conseguido comer - Vocês brigaram?

Bárbara: Tipo isso. Eu fiz merda.

Minha avó soltou uma risadinha, e sentou ao nosso lado.

Vivi: Me lembro que a uns anos atrás o seu pai só vacilava com a Alana e ficava exatamente igual você está agora - eu olhei pra ela, esperando que continuasse a falar - Tudo o que eu aconselhei ele a fazer, foi mudar. Demorou muito, foi vacilo atrás de vacilo, mas olha onde eles estão hoje.

Bárbara: E como eu faço isso?

Vivi: Pra pessoas como você e o Filipe tudo é complicado, tudo é sério e irreversível. Para de ser um pouco orgulhosa e escuta um pouco do que o Renan quer... tenta fazer do jeito dele também, a mudança não vai acontecer se você ficar sentada esperando ela cair no seu colo.

Franzi o cenho, fazendo careta.

Bárbara: Você, por um acaso, está falando pra mim a mesma coisa que falava pro meu pai?

Vivi: Com ele deu certo - ela me deu uma piscadinha.

Eu empurrei o prato pro meio da mesa, e descansei o meu rosto encima das minhas mãos.

Bárbara: Eu gosto do seu filho, Kelly - desabafei - Mas não conta pra ele.

Ela riu, e afagou o meu braço, com um carinho.

Kelly: Vou deixar você contar - ela falou baixinho, como se fosse um segredo.

Saturno Where stories live. Discover now