Capítulo 35

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Canalha

O plano era bem simples. Eu e o Lucas tentaríamos invadir o morro do chapadão na noite daquele dia, atrás do Deco e do Padilha. Estávamos ficando cada vez mais sem tempo, e todos sabiam bem que o Ret, Alana, Rato e o Salvador, não podiam pisar naquele lugar de jeito nenhum. Então a missão ficou na nossa conta.

Quer dizer, mais ou menos. Até a Bianca bater na porta do galpão, no maior desespero, e o Ret ir abrir alucinado, achando que tinha rolado alguma parada séria.

Ret: Que que tá rolando? - ele perguntou, puxando ela pra dentro, e olhando na rua, pra ver se ninguém tava por ali.

A Alana largou tudo e foi correndo pra perto da filha, tentando fazer ela falar alguma parada, mas a garota tentava recuperar o fôlego.

O Rato deu um pouco de água pra sobrinha, e ela tomou tudo de uma vez só, sentando no sofá que tinha ali.

Bianca: Cara, segunda feira eu vou entrar na academia! - ela reclamou, ofegante.

Ret: Qual foi do bagulho?

Bianca: Babado, pai. Babado grande!

Alana: Fala, Bi. O que aconteceu? - ela perguntou, tentando equilibrar toda a falta de paciência que o marido tinha.

Bianca: Ai, mãe... a Bárbara só faz merda, na moral, bate nela.

Ai o assunto me interessou.

Não que eu não me preocupasse com a minha cunhada. Claro que eu me preocupava, mas até então tinha achado que era só zoeira o bagulho.

O Ret respirou fundo, olhando pra cima, e eu tentei me levantar do chão, pra ir até perto deles e perguntar o que tava rolando. Mas o meu pai segurou o meu braço, e negou com a cabeça. Uma forma de me avisar que era pra eu sossegar, porque nem era o melhor momento pra isso.

Ret: Eu tenho até medo de perguntar - ele deu um puxão no cabelo da Alana, que devolveu com um chute na perna dele - Tuas filha só dão dor de cabeça.

Bianca: Mas eu nem fiz nada! - ela se defendeu.

Alana: É sim. As minhas filhas só dão trabalho - ela falou pro Felipe, com a maior cara de deboche - Mas é a que todo mundo conhece como Retinha que tá dando dor de cabeça, não é não?

D2: A treta de família não pode ficar pra depois? - perguntou, chamando a atenção para si - A Babi tá bem?

Graças a Deus alguém tinha se metido. Eu já tava perdendo a minha paciência.

Bianca: Ela é maluca, então eu não sei - meu pai ainda tentou me manter parado no lugar, mas eu empurrei a mão dele pra longe, e fiquei em pé, me aproximando deles.

Filipe meteu a cara fechada. E a Alana continuou olhando pra filha.

Canalha: Qual foi, Bianca?! Manda o teu papo.

Bianca: Ela me ligou hoje cedo, me pedindo um favor. Consegui uma mecha do cabelo do Japa pra ela... - o Ret levantou a mão, pra ela ficar quieta.

Ret: Conseguiu o que? - a voz dele saiu exasperada, com o susto.

Bianca: Isso mesmo que você ouviu. Uma mecha do cabelo do Japa. Perguntei pro que ela queria, mas ela fez o maior suspense do mundo e não quis me contar - ouvi o suspiro pesado da Alana, provavelmente ela já imaginava o que a filha tinha feito. Mas tava todo mundo meio perdido ainda - Eu não tinha entendido nada, e fiquei meio ligada na dela o dia inteiro. Vão acreditar em mim se eu disser que vi ela entrando na casa do Grego, querendo falar com a Fabiana?

Alana: Ai, caralho - ela levantou na mesma hora, e foi até a mesa, onde tinha deixado a sua arma, e pegou de volta, colocando na cintura - Vai pra casa da tua avó, Bibi. Depois a gente te busca.

Bianca: Eu quero ir pegar a minha irmã.

Alana: Com armas, sangue e a grande possibilidade de ver a sua mãe matando uma cachorra? - a Bianca negou com a cabeça várias e várias vezes - Foi o que eu pensei.

Ret: Pera aí, pera aí - ele pediu, segurando o braço da Alana - Por que a Bárbara tá se metendo nisso?

Galego: A Babi tá tão envolvida nisso quanto todo mundo aqui, pô - ele comentou, com a voz baixa.

Salvador: Mecha do cabelo do Japa, pra que caralho ela quis uma mecha do cabelo do Japa? Ela acha que o filho menino não é filho da Fabiana?

A Alana revirou os olhos.

E o Ret negou com a cabeça, bufando,

Ret: Claro, porra! O Japa não é filho do Grego, a pirralha descobriu esse b.o e foi tentar tirar algum bagulho da Fabiana - ele me encarou nervoso, e se eu não tivesse tão nervoso, eu até ia ficar feliz por ter ganhado a moral do sogrão - Ela te falou alguma coisa?

Eu neguei com a cabeça.

Ela mal tinha falado comigo o dia todo. Só avisado como estava, perguntado como eu estava, mas nada muito além disso, eu tava focado em me preparar pra missão.

Canalha: A gente não pode perder tempo. A Fabiana é maluca.

A Alana sorriu de lado, me encarando.

Alana: A Bárbara é minha filha, eu confio bastante na loucura dela, e não vai render tão fácil pra vagabunda da Fabiana!

Ret: Sem arma? Sem proteção? - ele perguntou - Ela é bem doida mas não é a mulher maravilha. Bora buscar essa garota. Salvador, tenta falar com o Grego. Tenta saber onde o mano tá, se o bagulho esquentar lá na casa do cara, só ele vai conseguir acalmar.

Todo mundo já foi animando e pegando munição e armamento, com o colete na frente do peito.

Alana: Talvez ela não precise de uma pistola na mão - ela apontou pra própria cabeça - Talvez a maior arma da Babi seja a inteligência.

Ret: Eu vou contar com isso - ele murmurou, nervosão.

Demorou nem meio segundo pra sairmos em direção a casa do Grego, encima das motos e dos carros.

A Alana e o Ret se despediram de Bianca rapidinho, pedindo pra ela ir pra casa. Mas foi me olhando que ela sussurrou com a voz baixa:

- Por favor, não deixa eles se machucarem.

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