1 = 0,9999999....

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Park Jimin 

Às vezes me pergunto por que não escolhi a matemática? Por que simplesmente não me formei em matemática? Eu tive duas chances e nas duas eu escolhi outras coisas. Isso diz muito sobre mim, eu pensei muito sobre aceitar o convite de Benjamin e pesei cada medida, ficaria em casa e estudaria um pouco mais, inventando uma desculpa qualquer para ele ou iria com ele e restabeleceria minhas prioridades.

Eu resolvi restabelecer minhas prioridades. Quando se tem 14 anos e um diploma nas costas tudo parece menos importante do que realmente é, meu cérebro funciona um pouco mais avançado do que a maioria, isso significa que eu já não vejo sentido em coisas simples como brincar de bonecas ou ler livros infantis, é como um desperdício de tempo e inteligência, além do mais eu fui criado assim "apenas faça o que lhe trará algo Jimin, nada, além disso" e assim foi, até eu simplesmente não aguentar, e chegar na beira do precipício onde por 0,9999999... % eu não pulei, todavia isso foi o suficiente para eu parar nada mais nada menos do que a ala psiquiátrica de um hospital, e meus pais nem mesmo sabem disso.

Depois de quase um ano preso em um local que me fez odiar de todas as formas a cor branca, eu nunca mais fui o mesmo, felizmente meu cérebro ainda continua perfeitamente bem, e eu estou definitivamente curado do mal que me seguiu durante tantos meses, mas depois disso mesmo que de forma delicada eu estava mudando, e agora com 18 anos eu me sinto diferente, veja, nas minhas primeiras horas como um "adulto" eu participei de um ménage, bebi mais do que deveria e hoje estou eu em um encontro com um cara que definitivamente eu nunca imaginei que sairia.

- Porque não a matemática, Park Jimin? - o jeito como meu nome saia por entre seus lábios era extremamente sexy, mas ainda assim não parecia tão bem aos meus ouvidos, não como o Park que Jungkook se acostumou a dizer naquela festa, ainda que sua voz parecesse estar mais longe a medida que o tempo passava, parecia a melhor forma de pronunciar o meu sobrenome.

- Por que não física? Na matemática é a ciência dos números, a física é a ciência relacionada a natureza e as propriedades de matéria e energia. Calor, luz, magnetismo, não importa, é incrível, cada detalhe. - Respondi, havia amor em minha voz, talvez a única coisa que eu pudesse dizer sobre o amor.

- Sabe Jimin, você é como 1 = 0,999999..., essa é a equação favorita do matemático Steven Strogatz, ele dizia que ela era simples, provocativa e lindamente equilibrada, eu lhe vejo assim. - proferiu, ele estava equivocadamente errado sobre mim, e foi ali naquele momento que eu lembrei de o porquê não ter escolhido a matemática, pelo mesmo motivo que escolhi inventar uma desculpa e sair daquele restaurante o mais rápido que consegui. Porque a matemática nunca foi minha prioridade, e Benjamin também não é, nem ele e nem suas cantadas com equações simples e toda a ladainha que ele diz para todas as pessoas. Eu não era simples, e não tinha nada equilibrado em mim, muito pelo contrário, desde aquela merda de festa tudo tem sido uma corda bamba, eu não confio mais em mim, no meu corpo, em minha mente.

Eu precisava de mais, mais do que a física, do que a astronomia, mais do que todos os números, eu só precisava descobrir.

[...]

- Então você o deixou no meio do jantar? - exasperava Hope, ao me perguntar pela segunda vez, o porquê de eu ter chegado tão cedo quando eu deveria segundo ela,  "estar transando loucamente"  com Benjamin.

- Deixei, inventei-lhe que você estava passando muito mal e que precisava da minha ajuda. A questão é que ele não é o que eu preciso agora, preciso focar em meu estágio, assim consigo um lugar na NASA antes dos 23. - Contei, tirando minha roupa de sair, permanecendo apenas com a calça.

- Você definitivamente não é normal, o homem mais gato do time de vôlei da faculdade e um puta matemático te chama para jantar e você foge? Surreal! - para ela isso seria um feito e tanto, para mim isso não importava, eu era muito mais do que o chaveirinho de Benjamin Floyd.

- Olha é minha mãe me ligando. - Mostrei o visor do telefone, para enfim encerrar o assunto. - Olá! Mãe, aconteceu algo? - voltei para meu quarto fechando a porta e apoiando meu celular em minha escrivaninha.

- Temos uma novidade para você, Jimin, mas queremos contar todos juntos, QUERIDO, JINHYUN, O JIMIN ESTÁ NO TELEFONE. - Chamou e rapidamente meu pai já estava ao seu lado, animado, mas demorou alguns longos minutos para meu irmão gêmeo aparecer, com a mesma cara de tédio de sempre, eu me perguntava se fazia a mesma cara.

- A gente está morando a quinze minutos de você Jimin. - falou Jihyun sem humor acabando com o que seria a grande revelação de minha mãe, e saindo logo em seguida. - ESTOU SAINDO - pude ouvir seu grito do outro lado da tela, deixando ali meus pais cabisbaixos.

- Por que vieram para cá? Onde estão morando? - perguntei, por um milésimo de segundo eu imaginei que diriam por que sentiram saudades de mim durante todos esses anos, mas recebi a seguinte resposta.

- Seu pai está trabalhando em uma nova empresa aqui, ficamos muito impressionados em saber que moramos tão perto de seu 'campus' querido. - Contou minha mãe e eu apenas concordei. - Faremos comida coreana no almoço de domingo, ficaria muito feliz se você pudesse comparecer. - Convidou.

- Eu ver mãe, checarei o cronograma da faculdade. - respondi, me despedindo logo depois, ao deitar em minha cama eu observei atentamente o meu quarto, era todo em cor neutra, com poucos detalhes brancos, um quadro enorme cobrindo quase meia parede com contas que eu fazia apenas para desestressar, além de papeis e 'post-its' colados por todo ele, nunca uma foto, ou algum objeto significativo, até mesmo meus prêmios ficavam guardados embaixo da minha cama, porque não tinham um significado o suficiente para mim, nada tinha e eu estava exausto disso. 

A Fórmula da Liberdade - JikookOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz