Equação da superfície mínima

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Park Jimin 

Qual é a graça de almoços em família? O domingo antecede a segunda o que significa que eu teria que estudar no dia seguinte, o que também significa que eu deveria ficar em casa e não deixar meu cérebro atrofiar enquanto tenho que sorrir e acenar. Em contrapartida, havia muito tempo que eu não via meus pais pessoalmente, passei a maior parte de minha infância e adolescência longe deles, e mesmo que não admitisse, eu sentia falta, principalmente de Park Yu Sung, o pai mais incrível que eu poderia ter.

Em uma loja de conveniência. De todos os lugares do mundo, de todas as partes de Glendale, foi em uma loja de conveniência que eu o encontrei, e diferente de quando eu surtei e fui parar na ala psiquiátrica, o meu corpo surtou, meu cérebro parou de processar as coisas, e a única coisa disponível era sorrir e acenar, ele parecia receoso em falar comigo, um pouco mais do que eu estava, mas foi educado, como se quisesse que eu fosse o mais rápido possível, e eu fui, assim que paguei o vinho, ouvindo da senhorinha o quanto eu era um menino-bonito e que meninos bonitos não deveriam beber, entrar no carro e respirar fundo foi a melhor coisa que meu corpo pôde fazer.

- Cheguei. - gritei assim que minha mãe abriu a porta e pulou em meus braços me abraçando com a mesma força que usou para se despedir de mim.

- Está tão grande, tão bonito. - Segurou meu rosto com suas minúsculas mãos, deixando um beijo em minha testa.

- Não é como se você não soubesse como estou, Jihyun está aí para te dar todas as características que necessita. - Exprimi, retribuindo o abraço rapidamente e me separando quando avistei alguns metros adentro, com um avental rosa florido, óculos de grau e os cabelos para o alto. Era meu pai. Eu corri até ele sem me privar de sentir nada, e o abracei o mais forte que consegui, porque era assim que ele media a minha força quando eu era pequeno.

- A semelhança de vocês me assusta, mas ainda sim, continua mais fraco que seu irmão. - Beijou o topo de minha cabeça, a diferença de tamanho era grande. - Estava com saudades minnie Mike, está tão lindo quanto seu irmão. - Me afastou para ir até às panelas e desligar o fogo.

- Engraçado, dizem que filho homem sempre fica do lado da mãe, onde que deu errado? - Demandou minha mãe, me arrancando uma risada de leve.

- Acho que quando você teve dois seres humanos iguais. - Jihyun respondeu descendo as escadas. - Olá clone. - Cumprimentou, dando dois tapas em minhas costas.

- Olá rascunho. - O provoco na mesma intensidade.

- Mesmo após anos, nada mudou. - falou minha mãe arrumando a mesa.

- Eu trouxe vinho, me disseram que esse é bom. - Mudei de assunto colocando em cima da mesa.

- Vinho no almoço? Por que não deixamos para o jantar? - pergunta meu pai, avaliando a garrafa.

- Por mim tanto faz, não vou ficar para o jantar. - Declarei, ajudando meu pai com os acompanhamentos.

- Oh por que não querido? Faz tanto tempo - eu já conhecia essa reação, era comum quando dizia que estava sem tempo.

- Porque estar aqui faz o cérebro de gênio apodrecer, é um milagre que ele tenha aceitado seu convite. - Envenenou Jihyun.

- Se inveja matasse hein... - deixo a frase em aberto me sentando na mesa.

- Não comecem. - pediu meu pai. - Até que enfim em casa, como se sente minnie Mike? - indagou.

- Bem eu acho. - Respondo sem realmente saber o que eu estava sentindo ao estar em família mais uma vez.

- Claro que ele está bem, como sempre vocês foram atrás dele feito um cachorro. - Se estressou.

- Jihyun por que não relaxa um pouquinho? Não estou aqui para tirar seu lugar de filho favorito, nem mesmo vou ficar por muito tempo, sabe, eu tenho muita coisa para fazer ao invés de ficar bebendo, e fazendo festinhas do pijama. - Sorrio de lado. - Sabe, a gente oferece o que tem de melhor e as pessoas escolhem quem elas desejam estar por perto. Eu ofereci minha inteligência, o que você ofereceu? Cinco minutos no banco de trás do carro? - foi o suficiente para ele pular por cima da mesa tentando me bater.

- JIMIN E JINHYUN PAREM AGORA - gritou o patriarca da família, com o rosto vermelho. - Peça desculpas Jihyun. - Exigiu.

- Desculpas - falou a contragosto.

- Jimin... - olhou para mim sério, o que me fez recuar.

- Desculpa. - Revirei os olhos.

- Pelo quê? - perguntou.

- Você não perguntou isso pa... - Recebi o olhar frio mais uma vez, o que me fez bufar de raiva.

- Por dizer a verdade. - Eu sabia que nada iria mudar e sentia seu olhar queimando em minha nuca. - Por falar que você é indecente. - Não olhei para nenhum dos dois, mas já estava mais cansado do que após fazer uma equação diofantina.

No dia 03\08\2001 eu nasci, e como um peso em minha vida Jihyun nasceu também, 20 segundos de antecedência, vinte segundos que me fizeram ser o filho mais novo, o segundo lugar, a segunda opção. Eu sei, sou inteligente e tal, QI de 231, mas mesmo que para as outras pessoas eu fosse o destaque, em casa eu sempre seria o segundo lugar.

Jihyun sempre foi muito vaidoso, o que ganhou o coração de minha mãe que queria ao menos ter uma menina, além disso, detinha todo o carisma e comunicação que me faltava, ele era engraçadinho, dançava como ninguém e isso era a chave direta para o coração das pessoas. Eu gosto de ficar em meu quarto e ignorar tudo e todos, o que só me fazia servir apenas como o menino superinteligente, as pessoas vinham e me perguntava contas que elas nem mesmo sabiam responder e eu achava isso ridículo e apenas ignorava e voltava o que estava fazendo. Eu não tinha necessidade de atenção como meu irmão, queria pessoas confiáveis e no mínimo decentes ao meu lado. Meu único amigo durante muito tempo foi meu pai e os livros e agora Hope, que mesmo sendo esquisita, mostrava que era um pouco esperta e muito leal. Isso faz com que duas pessoas aparentemente iguais, com 20 segundos de diferença, fossem ainda mais discrepantes no quesito personalidades, e se odiavam mais do que tudo no mundo.

A Fórmula da Liberdade - JikookWhere stories live. Discover now