𝐌𝐞 𝐝𝐞𝐬𝐜𝐮𝐥𝐩𝐞

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Constantine

     Não conseguimos dormir a noite inteira, nenhum dos dois conseguiu e talvez nunca mais eu consiga.
     A minha cabeça dói mais que nunca e nenhum remédio é capaz de sanar isso. Pela manhã, John bateu na porta do quarto e eu me levantei para abrir, a passos lentos.

- Eu fiz o que me pediu, tudo vai parecer um assalto, mas não pude fazer nada sobre como o...- Ele exitou.

- Corpo.

- Ela foi torturada, Tine. Qualquer legista consegue perceber isso.

- Que se foda a porra do legista, continue o seu trabalho.

     Fechei a porta de novo. Tudo vai ser assim agora, vou precisar me referir a ela como alguém sem vida, um corpo morto, isso não é justo.
     Quando Íris chegou um tempo depois ela me abraçou, não disse nada, só me abraçou o máximo de tempo que achou necessário. Fez o mesmo com a Morgan, a abraçou e ninou, fez o que eu não consigo agora.
     Ela só disse que ia dormir mais um pouco e que tomaria café quando acordasse. Diferente de mim, ela dormia e acordava, assustada e choramingando. Quando se dava conta de que estava em casa, passava a mão no rosto e afagava o próprio cabelo, para voltar a dormir. Teimou para deixar um dos abajures com a luz acesa. Eu disse a Íris que tomaria café depois, fiquei com a Morgan para que pelo menos tentasse dormir, então quando acordava não estava sozinha. Ela dormiu enquanto brincava com a minha mão, estalando os dedos dela ou então comparando o tamanho com a própria mão. Mais uma vez acordou assustada e passando a mão no rosto.

- Você está segura agora - Beijei a testa dela, senti me abraçar e puxar para perto. - Está tudo bem.

     Retribui o abraço com cuidado e fiz cafuné até que ela conseguisse dormir por mais de vinte minutos. O máximo que dormiu foi trinta minutos e só, pelo menos conseguiu dormir. Só levantou quando se sentiu mais disposta.

- Preciso ir a um lugar.

     Pelo que eu fui informado, o funeral será hoje a tarde. Quero falar com a família dela pessoalmente, com o pai, avó...

     Eles não gostavam de mim, nunca gostaram, mas a Sarah nunca quis que eles a proibissem de ter amizade comigo. E então, um dia eles me chamaram para um almoço e de lá para cá me aturaram bem.

- Vai voltar tarde?

- Eu não sei. Preciso falar com a família dela.

- Certo.

- Não vai querer ir no funeral, não é?

- Prefiro ficar em casa, não gosto de funerais ou túmulos. - Só acenei positivamente e levantei. - Se não for chegar antes do jantar, avise.

- Eu vou chegar.

     Beijo a testa da Íris e saio de casa.
     Eu fui para o cemitério bem mais cedo do que deveria, fiquei dentro do carro, observando as pessoas de preto chegando, a família chegando acompanhada do caixão fechado, pensando se realmente deveria sair ou voltar para casa antes que alguém me visse.

- Merda. - Sussurro para mim mesmo e me forço a sair do carro.

      Acompanhei a cerimônia ao lado da família, era muita gente, muito preto, muito choro, os choros das pessoas estavam me causando uma dor de cabeça infernal. Ela não gostava de metade dessas pessoas, todos tão falsos e pesarosos.
      Estava sol, mas tudo parecia nublado, nada estava claro para mim. Foi uma cerimônia bonita, embaixo de tendas para conter os raios de sol, com discursos preparados de uma hora para outra, até porque ninguém esperava um funeral da noite para o dia, com caixão fechado para que ninguém visse o estado em que a garota se encontrava, a "triste fatalidade", continuou sendo uma até o fim. Quando tudo acabou, horas depois, e todos já estavam se retirando, a avó dela me abraçou de imediato, está com o rosto cansado e triste. O pai dela parou ao meu lado, esperando eu soltar a senhora.

Marriage of ConvenienceOnde as histórias ganham vida. Descobre agora