Cap 1 - Ele é meu filho

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Asmodeus olhou em torno, avaliando a pista de dança, fervilhante de corpos seminus. O Screamer's estava bombando naquela noite, repleto de mulheres vestindo couro e homens mal encarados, que pareciam ter uma longa ficha criminal.

Asmodeus e seu acompanhante não destoavam nem um pouco dos outros, com a diferença de que eles eram assassinos de verdade.

- Quer dizer que você vai mesmo fazer isso? -perguntou Min Yoongi, chamado pelos irmãos pelo apelido, Suga.

Asmodeus ergueu a vista da mesa baixa e encarou o outro vampiro. - Sim, vou.

Suga mexeu seu uísque e sorriu tristemente. Apenas as pontinhas de suas presas ficaram à mostra. - Você é maluco, A.

- Isso você está careca de saber. -Suga inclinou o copo em sinal de acatamento

- Mas você está cada vez mais ousado. Agora está querendo pegar um ômega inocente, que nem imagina no que está se metendo, e colocar sua transição nas mãos de alguém como Alexander. É uma temeridade.

- Ele não é mau, apesar das aparências - Asmodeus terminou sua cerveja, mostre um pouco de respeito por ele.

- Eu o respeito pra caramba. Mas essa é uma péssima ideia. -Suga tentou novamente.

- Preciso dele.

- Tem certeza disso?

Uma ômega de microssaia e botas até as coxas, usando um Top feito de correntes, acercou-se da mesa deles. Seus olhos reluziam por baixo do rímel carregado e os quadris se remexiam de tal modo quando caminhava, que pareciam ter articulação dupla. Asmodeus dispensou a com um aceno, sexo não estava em seus planos naquela noite.

- Ele é meu filho.

-Ele é mestiço, A, e você sabe muito bem como ele se sente em relação aos humanos -Suga balançou a cabeça. - Minha tataravó era humana e você não me vê comentando isso perto dele.

Asmodeus ergueu a mão para chamar a atenção da garçonete e apontou para sua garrafa vazia e o copo de suga quase no fim.

- Não vou deixar que mais um de meus filhos morra. Não se houver uma possibilidade de salvá-lo. E de qualquer modo, não se pode dizer com certeza se ele vai se transformar. Pode ser que ele acabe vivendo uma vida feliz, sem jamais experimentar o que herdou de minha parte. Já aconteceu antes.

E ele esperava que o mesmo acontecesse com seu filho, que ele fosse poupado. Porque, se ele completasse a transição e se transformasse em um deles, passaria a ser caçado como todos os vampiros.

-Asmodeus, se ele realmente chegar a fazer isso será porque tem uma dívida com você, não por querer fazê-lo de fato.

- Qualquer meio é válido, desde que eu o convença a fazer.

-Mas, você não percebe o que está reservando ao ômega? Ele é um bárbaro quando se alimenta e a primeira vez pode ser um bocado violenta, mesmo quando se está preparado, coisa que ele não está.

-Vou conversar com ele.

-E o que vai falar? Vai chegar para ele e dizer "Oi, sei que você nunca me viu na vida, mas sou seu pai. E sabe do que mais? Você ganhou na loteria da evolução, você é um vampiro. Vamos para a Disneylandia.

-Nesse exato momento eu odeio você.

Suga se inclinou para frente, os ombros fortes destacando-se sob a jaqueta de couro negro. -Você sabe que falo para o seu bem. Só acho que você deveria pensar melhor - houve uma pausa tensa, talvez eu mesmo pudesse fazer isso.

Asmodeus o olhou secamente. -Você acha mesmo que depois de fazê-lo voltaria para casa tranquilamente? Lalisa fincaria uma estaca no seu coração e deixaria que o sol completasse o serviço, meu amigo.

Suga fez uma careta. -Tem razão.

- E depois ela viria atrás de mim. Os dois estremeceram.

- Além do mais... - Asmodeus recostou-se enquanto a garçonete depositava as bebidas sobre a mesa. Esperou até que ela tivesse ido embora para continuar a falar, mesmo sabendo que o som do rap, pulsante e ensurdecedor, não a teria deixado escutar coisa alguma - Além do mais, estamos vivendo uma época perigosa. Se algo me acontecesse...

-Eu tomaria conta dele.

Asmodeus segurou forte o ombro do amigo. - Sei que sim. Mas, Alexander é melhor - não havia menosprezo em seu comentário, era apenas a constatação de um fato - não há ninguém como ele.

- Ainda bem -disse Suga, com um meio-sorriso.

Os outros membros dos anjos de sangue, um círculo fechado de guerreiros fortemente unidos que trocavam informações e combatiam juntos, compartilhavam a mesma opinião. Em matéria de vingança, não havia outro como Alexander, e ele caçava seus inimigos de maneira tão obcecada que beirava a insanidade. Era o último de sua linhagem, o último vampiro de sangue puro que restara no mundo, e embora sua raça o reverenciasse como rei, ele desprezava tal posição. Era quase trágico que fosse ele a melhor escolha para que o filho mestiço de Asmodeus sobrevivesse. O sangue de Alexander, tão forte, tão puro, aumentaria as chances de ele completar a transição se fosse ele a tomá-lo. Mas Suga não deixava de ter razão. Era quase como entregar um virgem nas mãos de um tarado.

De repente, a multidão afastou-se para os lados bruscamente, abrindo caminho para alguém. Ou para alguma coisa.

-Merda. Aí está ele - murmurou suga. -Virou seu uísque de uma vez. -Não me leve a mal, mas estou saindo fora. Essa não é uma conversa que precise da minha participação.

Asmodeus observou o mar de gente abrir espaço como se quisesse escapar daquele vulto imponente que se destacava de todos. Fugir é um bom reflexo do instinto de sobrevivência.

Alexander, quase dois metros de puro terror trajado em couro. Seus cabelos negros e indomáveis como o próprio dono. Seu óculo escuro escondiam-lhe os olhos jamais vistos por alguém, os ombros tinham o dobro do tamanho dos da maioria dos homens, no rosto a um só tempo aristocrático e brutal, transparecia o rei que era por nascimento e o guerreiro no qual o destino o transformara. E a onda de perigo que o precedia era o seu melhor cartão de visitas.

Quando aquela emanação de ódio frio alcançou Asmodeus, ele virou seu copo e sorveu toda a cerveja em goles contínuos. Realmente esperava estar fazendo a coisa certa.


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Anjo Sombrio (MALEC)Where stories live. Discover now