42 - Culpada

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Julian

Há 12 anos atrás...

—Vamos turma, quero que formem uma fila. Os papais estão na plateia ansiosos para verem a apresentação de vocês, então se comportem! —A professora alertou.

O frio na barriga, o coração acelerado e o medo, acompanhavam o pequeno Julian de 9 anos minutos antes de sua apresentação do dia dos pais.

Será que ele veio dessa vez? ele prometeu.

A tarefa dada pela professora era que cada um dos alunos lesse a carta que escreveu pro pai, como forma de homenageá-los.

Julian segurava sua carta feita em papel azul como se fosse uma joia preciosa. Ele passou horas desenhando a figura do pai ao seu lado.

Ao acessar o local de apresentação, os seus olhos esperançosos percorreram cada fileira em busca do seu pai, a sensação de vergonha só aumentava a medida que procurava e não o encontrava.

As outras crianças começaram a ler suas cartas e serem abraçadas e beijadas pelos pais orgulhosos, os olhos de Julian começaram a lacrimejar quando percebeu que sua vez de se apresentar havia chegado... mas o seu pai não.

—Sua vez, Julian. —Encorajou a professora.

Julian deu um passo tímido a frente. Ao olhar mais uma vez pra plateia, notou no meio dela a figura de sua mãe com um sorriso largo lhe dando um tchauzinho, e a sua vergonha se amenizou. Ela sempre estava ali para apoiá-lo.

O pequeno Julian coçou a garganta e abriu a cartinha.

Pai, desculpa pelo senhor ter que trabalhar tanto, e obrigado por ter jogado basquete comigo mês passado mesmo estando cansado, eu adorei. O senhor ainda me deve uma revanche. Eu sinto a sua falta todos os dias e eu conto as horas pra te rever e falar do seu cabelo engraçado. —um meio sorriso logo se apagou. — Obrigado por ter vindo, papai.

Lágrimas pesando uma tonelada cercaram os olhos de Julian que saiu correndo da apresentação direto pro banheiro.

Ele não veio.

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O meu pai nunca deixou que o que dependesse do dinheiro dele faltasse pra mim. Quando eu era criança, ele supria sua ausência com os melhores brinquedos assim que chegava em casa depois de longas viagens de trabalho, mas pra mim, isso nunca foi o suficiente.

Desde que eu me entendo por gente, o meu pai nunca esteve em nenhum dos meus aniversários, em nenhuma apresentação do dia dos pais na escolinha, e em nada que fosse minimamente importante pra mim.

Em todo aniversário eu o esperava o dia inteiro, com os os olhos fixos na janela, na esperança de ver o seu carro sendo estacionado na nossa rua, mas isso nunca aconteceu. O Julian de 7 anos se culpava por ele ter que trabalhar tanto, e se entristecia por sua ausência, mas o Julian de 21 anos aprendeu a se virar sozinho sem ele.

Ver o Tomás tão feliz com a atenção que estávamos dando pra ele, não tinha preço. Meu passado veio a tona e só eu sei as cicatrizes que meu pai me deixou por nunca estar presente pra me ajudar a me defender e me ensinar as coisas da vida, mas com o tempo ele deixou de fazer tanta falta.

—Vocês viram como eu acabei com aquele goleiro?! — Tomás perguntou animado enquanto caminhávamos pra fora do clube.

—Você foi incrível, tom! —Kira disse orgulhosa.

—Você foi o melhor, sem dúvidas, amigão. —Baguncei o cabelo dele. — Tá afim de um sorvete?

—Chocolate!

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