55 - Incompletos

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Julian

5 meses depois...

Isso é muito louco, de repente, me vejo no centro das atenções, como se estivesse em um turbilhão de luzes e flashes. A torcida vibra a cada cesta minha, É uma mistura intensa de ansiedade e felicidade que percorre meu corpo a cada passo que dou. Quando estou correndo na quadra e as pessoas gritam meu nome, eles sabem quem eu sou.

Em apenas três meses, muita coisa mudou em minha vida.

A começar por ter que largar a empresa do meu pai, para me dedicar apenas ao basquete, isso fez com que meu pai se mudasse para perto da empresa, consequentemente para perto da gente, tive medo de como minha mãe reagiria, afinal, o meu pai trouxe a sua nova família também. Tive medo que seu grau de depressão evoluísse novamente, mas felizmente eu me enganei, ao conhecer a minha irmãzinha Maitê, eu pude ver os olhos da minha mãe felizes e repletos de compaixão.

A menininha conseguiu conquistar de tal forma o coração da minha mãe, que ela não teve escolha a não ser perdoar o meu pai.

5 meses depois, a minha mãe convive normalmente com o meu pai e sua família, ela se reergueu, e eu não poderia estar mais feliz por ela, queria poder dizer que também o perdoei por tudo que fez, mas eu estaria mentindo.

Eu me mudei do prédio antigo, e trouxe o meu avô comigo, a minha mãe preferiu continuar onde estava, hoje eu consigo cuidar do meu avô com o meu dinheiro e dar a ele todo conforto que merece.

1 mês após a minha contratação no Águias de Elite, eu convenci o técnico a conhecer o trabalho do meu manito e hoje, Juanito e eu jogamos juntos pelo Águia. Um sonho realizado.

Mas ainda assim eu não me sinto completo, nem com toda fama, dinheiro, com a família se estabilizando novamente, eu sinto que falta algo, ou melhor, alguém. Toda minha saudade concentrada em 1,75m da mais pura beleza que eu já conheci.

Faz 5 meses que não encontro a Kira pessoalmente, vejo algumas notícias, desfiles, e coisas sobre a carreira de modelo dela, de longe, como nunca estivemos. O nome Kira Wainberg está por toda parte.

Me questiono se fiz a escolha correta ao terminar, e por mais que meu coração me diga que não, o meu orgulho sempre me dirá sim. A minha raiva reacende mais forte a cada foto que ela aprece ao lado daquele imbecil do mestre cuca.

Parece que a procuro por toda parte, e a procuro em todas as garotas que eu saio e nunca a encontro, acho que devo forçar-me aceitar que tudo acabou e nada mais será como antes.

-Senhor Julian, o seu carro chegou. -Meu funcionário anunciou me despertando dos pensamentos ruins, e trazendo a tona a lembrança de mais um jogo emocionante que está prestes a acontecer.

-Obrigado, Bartolomeu. -sorri ao ver meu avô vestido com a camisa do time, um boné e uma corneta. -Preparado, velhinho?

-Sempre estou, neto!

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Kira

Ao alcançar a passarela e começar a desfilar, percebo que algo extraordinário está acontecendo. As câmeras não param de clicar, e os aplausos ecoam pelo ambiente de forma ensurdecedora. A vibração da energia é arrebatadora, como uma onda de calor que percorre todo o meu corpo. O meu nome está em toda parte.

Quando termino o desfile, sou recebida por uma chuva de elogios e abraços calorosos. A equipe de bastidores está sorrindo e me parabenizando.

Chloe Mercer, que é exigente até sobre como se comporta minha sombra, está sorrindo.

É então que percebo que algo mudou, algo que vai além do desfile de hoje, pela primeira vez em meses eu consigo gostar dessa sensação.

Tácio me recebe com um abraço apertado e um beijo na bochecha.

-Impecável, meu bem. -Disse com um enorme sorriso.

-Olha a forma como me trata, depois me diz que não sabe o motivo dos sites de fofoca dizerem que somos um casal. -Respondi brava olhando em volta, para checar se não teria nenhuma câmera a postos.

-Isso só depende de você. -Sorriu e piscou um olho.

-Kira? -Uma voz mais do que familiar me chamou atenção.

-Rosa! -Eu a abracei.

-Vim acompanhar o jogo do Juanito nessa cidade, quando soube que estava por aqui, vim correndo te ver. -Ela disse enquanto me abraçava.

Meu coração disparou. Isso significa que Julian também irá jogar aqui por perto.

Ao perceber a presença do mestre, Rosa o cumprimentou em sinal de respeito curvando a cabeça, por mais que o mestre tenha parado de dar aulas de muay thai no ISC para apenas focar em ser meu empresário.

-Bom te ver, Rosa. Como vai o ISC com o novo mestre?

-Ele está se saindo bem. -Rosa forçou um sorriso, ela nunca gostou do mestre Tácio.

Fisicamente eu estava ali no meio dos dois, mas minha mente já havia focado na possibilidade de ver Julian novamente. Faz 5 meses que eu não o vejo. Meu coração anseia por vê-lo, mas lembrar de como em um momento de fragilidade, ele foi correndo para a casa da Maressa, ainda me dói muito, e a forma como acabou me fere cada vez que lembro.

Esperei o mestre se afastar da gente, para finalmente perguntar.

-Como ele está?-Coço a garganta.

-Muito bem, Kira. Agora Julian é um grande astro de basquete.

Acho que a Rosa não entendeu o que eu quis perguntar, eu acompanho as notícias sobre o grande Julian que joga pelo Águias de Elite, mas eu queria mesmo era saber sobre o "Juliano" que um dia pude chamar de meu.

-Onde será o jogo deles? -Me recompus.

-Arena Oráculo. -Rosa deu um sorriso pequeno. -Acha que está preparada para vê-lo?

- Não sei dizer, também não sei se vou. -deu um meio sorriso.

-Kira. -Chloe, minha chefe me chamou com um gesto.

-Tenho que ir, Rosa. -Eu a abracei mais uma vez. -Obrigada pela visita.

-Torço para que volte logo. -Ela confessou no meu ouvido enquanto me abraçava, senti que ela deixou implícito vários significados naquela frase.

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Julian

Águias de Elite reunidos em círculo no centro da quadra ouvindo atentos a orientação final do treinador.

Cá estou eu, diante da quadra, com o calor das luzes do ginásio sobre mim e o som da bola quicando no piso. O som da torcida me dá ainda mais energia.

A equipe ao meu redor, uma sincronia que vai além das palavras. Sabemos instintivamente onde cada um está, como se fosse uma coreografia ensaiada milhares de vezes. Os olhares se encontram, transmitindo confiança e determinação.

O jogo começa, e aos poucos eu me sinto o dono do lugar, ao fazer a primeira cesta no jogo e a torcida vibrar meu nome, tenho certeza que nasci pra isso.

Ao passar a bola para o Juanito, meus olhos percorrem a torcida que há por trás dele, e então eu a vejo, de óculos escuros e cabelo preso, a reconheceria em qualquer multidão. Kira. Ao avistá-la, minha respiração quase parou por um instante. Ela estava lá, no mesmo lugar onde sempre a imaginei nos meus sonhos ideais e mais íntimos, ela pareceu perceber que eu a vi, pois abaixou a cabeça como se quisesse se esconder.

-ATENCIÓN, MANITO! -Juanito me alertou.

Minha atenção precisou se voltar ao jogo, mas no minuto seguinte, ao olhar na mesma direção, ela não estava mais lá.

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ImprováveisWhere stories live. Discover now