61 - Fonte de ouro

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Kira

Naquele mesmo dia, o Tácio chegou ao hospital com um buquê de rosas gigantesco, e eu precisei usar de todo meu poder de atuação para fingir que nada havia mudado entre nós, mas vê-lo novamente fez eu me sentir com muita raiva.

-Meu amor, tive tanto medo de te perder, estou feliz que esteja bem. -Ele diz e em seguida beija minha testa, involuntariamente eu me encolho e me odeio por isso porque ele pareceu perceber o meu recuo ao beijo dele.

-Foi um grande susto. -Digo forçando um sorriso.

-Eu só soube que viajaria com a equipe daquele jogadorzinho depois do acidente, tive uma séria discussão com a Chloe que te pôs nessa enrascada, não podemos mesmo confiar em nada relacionado aquele cara, era pra ter sido apenas ele naquele jatinho.

Engulo seco. Todos os sinais do péssimo caráter do Tácio sempre estiveram aqui, eu estava totalmente cega.

Ele se aproxima do curativo sob meu corte no rosto.

-E quanto a esse curativo grande em seu rosto? Será que eu posso ver?

-Acho que nã... -Antes que eu terminasse a frase, ele mesmo retirou o curativo para ver o corte.

-Meu Deus, Kira. -Seus olhos estavam assustados.-Parece bem profundo.

-Eu sei...

-Não podemos nos desesperar, a medicina avançou muito, deve haver alguma solução pra isso, não se preocupe. -Ele andava de um lado para o outro.

Ele parecia desesperado e preocupado.

-Eu já volto, vou conversar com seu médico.

📸📸📸

Julian

O meu quarto no hospital estava lotado de olhares de pena, já não bastava os enfermeiros me verem como um cachorrinho com a pata quebrada, tive de encarar o olhar do meu avô de extrema tristeza, os olhos da minha mãe lacrimejando e ouvir minha irmã Maitê perguntar o porquê de eu não levantar daquela cama para brincar com ela.

Meu pai e a mãe da Maitê também vieram, se o conheço bem, ele não gostaria de estar ali naquele momento, ele até evitava olhar pra mim e também não disse uma só palavra desde que chegou. Tento manter um bom relacionamento com ele por conta da mini eu, Maitê, porém não há nada que me deixe pior do que o seu desprezo por anos. Minha mãe conseguiu perdoar as traições e até convive bem com a nova família dele, mas eu jamais consegui perdoar sua ausência.

Ana Fontes, minha empresária conversava com o técnico do Águias pelo telefone, estava claramente aflita, mas apesar de tudo aquilo, eu não me sentia mais desesperado, estou com vida para "correr atrás", e é isso que importa.

-Filho, o seu pai já providenciou uma cadeira de rodas pra você. -Minha mãe diz.

-É mesmo? Depois diga o preço pra Ana, ela irá te transferir o dinheiro. -Digo sério, e minha frase pareceu pesar 1 tonelada pelos olhares dos que estavam em volta.

-Não quero que me transfira dinheiro algum, Julian. A cadeira é um presente. -Disse sério, mas sem nem mesmo conseguir me olhar nos olhos.

Gostaria de dizer muitas coisas. Gostaria de dizer que agora eu não precisava mais implorar pelo seu dinheiro quando faltava algo para o meu avô em casa, porque agora eu sou muito mais rico do que ele, e agora NADA falta. Gostaria de dizer que não vê-lo nos jogos já não dói mais, e que eu não preciso de sua presença como antes, mas não disse.

-O Julian precisa descansar agora, família. O horário de visitas terminou. -O enfermeiro anuncia.

Meu avô, minha mãe, Stella e Maitê se despedem com um abraço, e meu pai vai embora sem nem mesmo tocar minha mão.

🏀🏀🏀

Kira

Nos olhos dele eu vi a decepção e o medo de perder sua "fonte de ouro", não se tratava de como eu estava me sentindo, mas única e exclusivamente das marcas que a partir de agora certamente encerrariam os contratos comigo quando soubessem da cicatriz que vai ficar no meu rosto.

O Tácio abandonou sua profissão de mestre de muay thai para ser exclusivamente meu empresário, e agora vendo o desespero em seu olhar, vejo que sempre se tratou de dinheiro, como meu empresário ele fatura muito mais do que no muay thai, e logo veio à tona todos os conselhos que me fizeram abandonar o muay thai também.

Vários flashbacks surgiram em minha mente:

Capítulo 4 - Lutadora, Kira vence Dandara, aluna mais experiente do ISC

"-As aparências enganam mesmo. Loira, alta, olhos azuis... Você já esteve em uma agência de modelos antes? -riu sozinho. -Meus parabéns pela luta, bem vinda ao time, Kira."

Meu estômago embrulhou ao lembrar da forma como ele me seduziu para que eu confiasse nele, e na primeira oportunidade me convencer a largar o muay thai, acabar com minha autoconfiança, saúde física e mental. Desenvolvi ansiedade e transtorno alimentar, e ainda é tão difícil encontrar dentro de mim a Kira que eu costumava ser, mas no fundo eu sei que ela ainda está viva aqui.

Quando Tácio voltou para o quarto, precisei fingir que dormia, pois eu não sabia se conseguiria olhar nos olhos dele, sem dizer com todas as palavras que eu o odeio por destruir minha vida.

E quando ele finalmente foi embora, eu consegui chorar. Chorar muito.

📸📸📸

Julian

No dia seguinte tivemos alta, e eu tive que segurar minha emoção ao vê-la no final do corredor pela primeira vez depois do acidente, não podia demostrar todo mix de sentimentos que percorriam dentro de mim, mas não conseguia parar de olhá-la, a Kira é a mulher mais linda que eu já vi, e eu já a vi em todos os seus momentos, e meus olhos ainda brilha como se fosse a primeira vez.

Acompanhando ela, estava o cara que atualmente é o que eu mais odeio, Tácio.

A mãe da Kira também veio buscá-la junto com o Tomás, que logo veio correndo me abraçar.

-O que aconteceu com suas pernas, Julian? -Perguntou.

-Elas resolveram descansar um pouco, amigão, mas logo, logo eu volto a andar.

-Entendi. sinto muito por isso.

-Obrigado.

-Julian, que bom que está vivo. -Recebi um abraço da mãe dela.

Kira apenas acenou ao se aproximar, mas seus olhos estavam marejados como se quisesse chorar.

Achei que seria ignorado pelo mestre cuca, mas ele fez questão de apertar minha mão e susurrar na altura do meu ouvido.

-Você sempre consegue estragar tudo, seu merda.

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ImprováveisWhere stories live. Discover now