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Onze meses antes.

Harry Styles.

Balanço o copo de vidro em minha mão, fazendo com que os cubos de gelo dancem em meio ao uísque. Embora o vento atravesse as pequenas frestas das janelas de madeira deste bar vagabundo, consigo sentir o rubor do álcool esquentar minhas bochechas.

Não deveria estar bebendo em uma terça-feira, mas às vezes é necessário medidas extremas para dissipar sentimentos conturbados.

Sinto que não pertenço, não me encaixo, não me adapto. Tudo parece tão diverso. Cada lugar, cada situação. Sinto que afasto as pessoas de mim. O encanto que consigo emanar nos primeiros minutos parece simplesmente desaparecer com o tempo. Não sou constante. Não consigo manter alguém encantado por mim por mais de uma semana. Não sei se é a minha personalidade conturbada, se é a minha intensidade desmedida.

Parece que minhas melhores qualidades são justamente a munição para o fim.

Não que a minha vida seja apenas envolta em relações, mas é cansativo pensar que nada dá certo. Qualquer um quer entrar e me invadir, mas nunca permanecer de fato. Sinto que permaneço de luto em vida. Perdendo sempre. Me esqueci como é a sensação de ganhar.

Me sinto só.

Tomo um gole do uísque on ice e volto o copo para a madeira rústica do balcão. O cheiro de perfumes masculinos invadem o local e não me contenho em lembrar de todos os amores que perdi nos últimos anos, desde que descobri a minha sexualidade.

Aos vinte e dois, minha primeira namorada, Alisson, terminou o que tínhamos depois de sete meses porque disse que não dava para planejar a vida com alguém que não fazia questão de crescer; que se contentava em trabalhar como segurança de boates de swing durante toda a madrugada. Disse que não confiava em mim.

Depois vieram Hugo, Phillipe, Alan e Gustan, que após três encontros me dispensaram sem motivo. Apenas sumiram da minha vida exatamente como entraram: de forma inesperada.

Percebi com eles, que apesar da minha bissexualidade assumida, eu sempre tive preferência por homens.

Depois vieram mais alguns inúmeros. Que me dispensaram igualmente, sem nenhum pudor. Alguns porque eu falava alto demais, minha personalidade era exuberante demais, as idades não batiam, ou eu precisava amadurecer. Cheguei a ouvir até que eu "era bom demais e merecia alguém que pudesse me dar o melhor."

Não consigo contar nos últimos anos quantas vezes meu pobre coração foi partido.

Impressionante como são as coisas. Se uma área da sua vida não anda bem, parece que todo o restante se degrada. Eu não tenho vontade de fazer nada. Não tenho ânimo para viver. Não tenho vontade de seguir em frente. Detesto meu trabalho, detesto a minha vida, detesto as pessoas que me cercam. Passo a maior parte do meu dia em uma cama, dormindo ou tentando dormir. Eu trabalho e vivo no automático.

Nos últimos anos perdi meu brilho.
Me tornei mais engessado.
E isso me dói mais do que eu posso expressar.

Viro o restante do uísque na boca, fazendo uma careta, e olho para o relógio de pulso.

19:55

Preciso estar na Dome às 21:00, mas minha vontade é simplesmente desaparecer nesta cidade escura, fria e vazia. Deixo dez dólares sobre o balcão e me levanto, saindo do bar.

O ar gelado do inverno atinge o meu rosto e eu ajeito a minha toca sobre os cabelos. Meu dinheiro é tão pouco, que não posso me dar o luxo de pedir um Uber para o trabalho. Desde que saí de casa, me banco sozinho, e cada coin conta no final do mês.

CARDINAL [L.S]Where stories live. Discover now