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Harry Styles

"Uma velha facção já conhecida pela polícia voltou à tona nos últimos dias. No início da tarde, foram identificados os dois corpos achados dentro do quarto do motel localizado na entrada de Milford. O primeiro identificado como Zayn Javadd Malik, de 25 anos. Acredita-se que ele era comparsa de Adhara Linobs, de 32 anos. Adhara é filha de Kyno Linobs, um dos maiores mafiosos que já existiram nos anos dois mil na região noroeste dos Estados Unidos. Kyno morreu no final de 2010, em confronto com a polícia após uma operação de tráfico internacional de armas. Adhara e a mãe não foram indiciadas e nem responsabilizadas pelo crime. Adhara era adolescente na época dos fatos, mas parece ter querido seguir os mesmos caminhos do pai sob o pseudônimo de Heraclito. A polícia ainda investiga a motivação do assassinato, assim como a teia de todos os crimes em que Hetaclito está envolvida. Acredita-se que ela possuía mais de cem homens sob seu comando. Estaremos noticiando qualquer informação que seja passada."

Meu corpo se tenciona completamente e o nome Zayn ecoa em minha cabeça como uma fita cassete com defeito. Ao ouvir seu nome em alto e bom som ressoar na pequena televisão, minha ficha infelizmente cai, levando junto o lampejo de esperança que ainda havia em mim. É aquela espécie de baque invisível que só é sentido quando a realidade aterrorizante colide direto com o peito, fazendo com que o coração pareça diminuir drasticamente de tamanho.

Em algum lugar em minha alma ilusória, eu ainda acreditava que ele pudesse ser salvo. Mas sua foto estampada no jornal da madrugada me prova totalmente o contrário.

Nunca tive uma relação muito próxima com Zayn, nunca fomos amigos de fato, mas éramos companheiros. Fomos o que nos permitimos ser, nos aprofundamos até onde o outro permitiu, e de certa forma, criamos um laço que talvez seja maior que uma amizade precisamente dita. Ele tinha os próprios demônios, assim como todos nós, e embora ele tenha dito que estava em paz e que não conseguiria viver com isso, eu queria que todos nós nos salvassemos dessa situação que nenhum de nós escolheu entrar.

Eu queria um milagre.
Mesmo sabendo que é impossível.

Heraclito acabou conosco.
Com Zayn ela só foi até o fim.

Rolo na cama, no quarto parcialmente escuro e pego meu celular na mesa de canto, abrindo o bloco de notas. Solto um suspiro pesaroso, cansado e extasiado, ouvindo o barulho quase insuportável do ventilador de teto invadir meus ouvidos. Olho para o teclado por um bom tempo antes de começar a digitar.

Oi, praga.

Prometi a mim mesmo que assim que estivesse em segurança, eu escreveria para você. Minha memória não é das melhores e minha cabeça não está tão boa quanto eu gostaria. Tenho medo de esquecer alguma coisa. Queria compartilhar cada segundo da minha vida com você nos mínimos detalhes, para que quando nos encontrarmos novamente, eu possa te contar absolutamente tudo de forma minuciosa.

Não sei onde está, se está bem, se está seguro, se tem acesso aos noticiários…

Bem… acabei de ver no jornal da meia noite que o corpo de Zayn foi identificado.

É isso. É irreversível.

Eu queria tanto voltar no tempo para evitar esse momento. Às vezes, penso que deveria ter sido eu, eu que deveria ter morrido naquele quarto de hotel, que aqueles tiros deveriam ter sido disparados em meu peito, talvez assim, eu não precisasse estar sozinho neste instante sendo tomado por todos os fantasmas da minha mente.

É torturante estar em minha própria companhia, nem eu me aguento às vezes.

Eu quase morri ao ter que fazer tudo sozinho. Eu odeio fazer as coisas sozinho, Louis, se você ao menos soubesse. Acho que desaprendi a como me virar, justo eu, que sempre fui só. Chega a ser irônico, não é?

CARDINAL [L.S]Onde histórias criam vida. Descubra agora