Epílogo [parte um]

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Louis Tomlinson.

Doze horas antes.

Entro no táxi de forma apressada, olhando para o céu acinzentado que há um tempo atrás parecia completamente azul. Os pingos de uma chuva fraca caem preguiçosamente sobre o parabrisa. Um por um.

ㅡ Para onde, senhor? ㅡ O motorista pergunta após um tempo. 

Eu não sei bem o que responder. Eu não sei para onde estou indo. Não sei nem porquê entrei neste táxi. O motorista me encara através do retrovisor, como se aguardasse uma resposta, ㅡ resposta essa que não faço ideia de qual seja. Minha voz trava e eu não consigo falar.

"How am I supposed to live without you" toca baixo no rádio, e por um longo instante, é apenas isso que eu ouço, até ser surpreendido completamente pelo som do meu nome sendo gritado do outro lado da rua.

Olho através dos pingos da janela e vejo Hugo atravessar a rua, correndo em minha direção. Nosso olhar se encontra por um breve segundo, mas antes que eu possa pensar em fazer qualquer coisa, como num piscar de olhos, assisto seu corpo ser atingido por um carro em alta velocidade, o arremessando há alguns metros no asfalto. Sinto o baque em cada um dos meus ossos, como se fosse eu que tivesse sido atingido. Abro a porta do carro em desespero, com as mãos trêmulas, e começo a correr pela avenida, sentindo os pingos de chuva caírem e molharem o meu corpo.

Meu coração está na boca, minhas mãos tremem incontrolavelmente, meus passos desesperados e vacilantes na mesma medida.

Quando me aproximo de seu corpo estirado, não consigo controlar meu corpo e meus joelhos cedem, me fazendo cair no chão molhado. Estou pronto para virar o seu rosto para encará-lo, mas quando olho diretamente, em completo desespero, percebo que não é Hugo que está caído, sangrando, bem em minha frente. É um homem que eu nunca vi na minha vida.

Seus traços são quase angelicais, sua pele numa tonalidade perolada quase cintilante, e apesar de seu corpo sangrar e tremer, seu rosto permanece intacto e pacífico. Suas bochechas rosadas são banhadas pelas gotículas de chuva, e seus lábios, cheios e desenhados no mais perfeito tom de rosa, se separam ligeiramente em uma respiração profunda. Mas é quando ele abre lentamente os olhos cor de esmeralda e me olha, que eu sinto meu peito se apertar numa dor tão profundamente excruciante que me faz soltar um grito calado, completamente angustiante, que fica preso no fundo da minha garganta.

Não é o Hugo que está à minha frente. Hugo morreu há meses atrás. Eu estou assistindo um estranho morrer bem diante dos meus olhos, e por mais estranho que possa soar, consegue me doer infinitamente mais do que a maior dor que já senti em minha vida: quando perdi Hugo.

Seus olhos piscam em minha direção e seu rosto não parece tão nítido à minha visão, mas a dor não me abandona. A sinto profundamente, até os ossos.

ㅡ Vai ficar tudo bem ㅡ sussurro em desespero, buscando sua mão machucada caída no asfalto, levando-a até o meu peito, que flameja em angústia. ㅡ Vai ficar tudo bem. Eu vou procurar ajuda. Você vai ficar bem. Fique comigo. Continue me olhando.

ㅡ Eu… ㅡ ele tenta, mas percebo o sangue escorrer de sua boca, me causando um calafrio que percorre a espinha e para diretamente em meu coração.

Shiii! Não precisa dizer nada. Só mantenha esses lindos olhos em mim. Eu vou chamar por ajuda. Você vai ficar bem.

Olho em volta e percebo que está tudo embaçado. Não vejo mais a avenida, não vejo mais nenhum carro, não vejo nem o táxi. Não vejo absolutamente nada.

CARDINAL [L.S]Where stories live. Discover now