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Harry Styles

Enquanto sinto os solavancos e os impactos do carro desgovernado colidirem conforme caímos em uma ribanceira que parece interminável, milhares de coisas tomam todos os meus pensamentos em segundos.

Minha vida passa como flashes elétricos em minha cabeça. Cada pequeno passo que eu dei até chegar a este momento.

Desde minha infância, quando nenhuma criança da minha rua queria brincar comigo ou quando eu chegava em casa depois de um dia animado na escola querendo conversar com alguém a respeito da tabuada e era recebido por olhares nada receptivos e cruéis. Quando na adolescência fui espancado por me defender com palavras porque acreditava em minhas convicções. Quando no início da vida adulta fui largado pela minha primeira namorada por ser acomodado e por não dar a ela a segurança ou confiança que precisava. Todas as noites que passei em claro matutando o que poderia haver de errado comigo, o que eu poderia fazer de diferente, o que eu deveria mudar para que alguém pudesse me ver e pudesse ficar. Cada passo, cada pedra, cada lágrima, cada momento.

Mas todas essas coisas parecem golpes tão pequenos perto de todo o resto: Heraclito, a facção, as mulheres que roubei, os cinco caras que passei o último ano da minha vida convivendo, a morte de Zayn, a vida de Louis, a permanência de Niall, a fuga de Liam. 

Se fosse uma escolha minha, nunca teria entrado nesta dança, nunca teria dançado com o diabo. Se fosse necessário, teria feito tudo isso sozinho apenas para preservar o coração de Zayn, a alma do Louis, a segurança de Liam e a inocência de Niall. Mas não há como refazer estes passos, não há como devolver a cada um deles aquilo que lhes foi arrancado. Nada disso volta, não há como voltar, não há como remediar o irremediável. É uma ferida aberta da qual terei que me acostumar até o meu último fôlego.

Meu corpo é arremessado para todos os cantos do carro, atingindo o metal gelado com força, cacos de vidros sendo espalhados pelo meu cabelo, meus braços indo em direção ao meu rosto para me proteger dos próximos impactos. Cada pancada dói na alma, e possivelmente, quebra alguns ossos, mas nada se compara e está tão quebrado quanto o meu coração estilhaçado.

Minha adrenalina e meu nível de cortisol estão nas alturas, então paro de sentir tudo. De repente sou apenas um borrão de memórias completamente dormente.

Minha mente se apaga por alguns segundos, mas puxando o ar como se estivesse me afogando em um mar tempestuoso e profundo, abro os olhos em um rompante quando ouço e sinto o estrondo do carro finalmente parando ao colidir lateralmente com uma árvore no meio da mata.

Meu coração dispara e tudo o que eu ouço é o barulho do motor rangendo, vendo a fumaça fraca que sai do capô. Pisco os olhos com angústia, não quero olhar para o lado. Estou vivo, mas não sei se Louis está. Prendo a respiração e os soluços que teimam em escapar da minha garganta devido a um desespero enlouquecedor que me atinge. Fecho os olhos com força sendo tomado por uma dor excruciante que não sei ao certo se vem do meu corpo ou da minha alma. Talvez venha das duas coisas.

Contando os meus passos, percebo que essa é a pior parte do caminho. De todas as coisas que precisei enfrentar, esse sem dúvidas é o pior momento de todos.

Eu não vou suportar perder Louis.
Eu não posso perdê-lo.

Minha respiração se torna desregulada e um choro ameaça me tomar quando sinto dedos em meu braço, me puxando sem nenhuma delicadeza. Abro os olhos esperançosos de imediato me deparando com uma imensidão azul me encarando com as sobrancelhas franzidas e um semblante completamente atordoado.

Meu coração parece regenerar em questão de segundos e volta a bater, parecendo nunca ter sofrido nenhum dano.

ㅡ Você está bem?

CARDINAL [L.S]Onde histórias criam vida. Descubra agora