1 - IGOR - PARTE 2

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LIVRO INCOMPLETO. DISPONÍVEIS APENAS 4 CAPÍTULOS PARA DEGUSTAÇÃO.

Por algum tempo depois que ela se foi, minha mente ainda esteve voltada a ela e senti pena da mulher maluca abandonada. Ao contrário de suas suposições, sei bem como é se sentir da maneira que ela está se sentindo. Sei exatamente como é não ter respeito, ser humilhado e ser descartável. Talvez por isso me simpatizo por tantos minutos com sua dor. Apesar disso, não posso aparecer em uma festa qualquer fingindo ser o noivo de alguém que nem conheço.

— Astolfo — chamo pouco depois. — Veja o que consegue descobrir sobre Sury Ferraz.

— Já estava fazendo isso — ele responde.


Já é tarde, estou comparando as saídas e entradas dos últimos relatórios recebidos do financeiro da empresa. Eu poderia ter optado pela suíte presidencial e tudo o que ela tinha a me oferecer pelo tempo em que passarei neste hotel, mas optei por esta por ter uma workstation que me atende bem. Não pretendo trabalhar da empresa, e sim daqui. Por isso preciso de uma estação de trabalho eficaz e confortável para atender as horas de trabalho que me exigem. Astolfo, ao meu lado, resmunga vez ou outra, lembrando-me do horário.

— Você pode ir dormir, Astolfo. Não corro risco algum aqui dentro.

— Uma possível noiva entrou aqui hoje, então não podemos nos assegurar disso — retruca.

— Essa possível noiva ficou surpresa por esse velhinho ser meu segurança — conto com um sorriso, mas ao invés de uma resposta irritada, Astolfo aproxima-se demais, o rosto quase colado ao meu, observando-me bem de perto. — O que está fazendo?

— Isso aí na sua cara é mesmo um sorriso? Quer dizer, eu o ouvi gargalhar mais cedo e, apesar da surpresa, pensei que pudesse se tratar de uma reação nervosa a toda a situação inusitada a que estava exposto. Mas agora você está mesmo sorrindo? Igor Werneck voltou a sorrir?

— Não exagere.

— Não estou. Não sei há quanto tempo não via seus dentes. Você está sorrindo de mim ou da possível noiva? Espera, então quer dizer que você riu de verdade naquela hora? Não foi uma reação nervosa, você realmente riu? Gargalhou? De dobrar a barriga?

Deixo o relatório de lado e esfrego os olhos, cansado.

— Pare com isso, Astolfo, está me enlouquecendo. Não aja como se nunca tivesse me visto rir.

Ele demora um pouco a responder e o observo.

— Quase nunca o vi rir, na verdade. Você sempre foi desconfiado, com peso demais sobre as costas e medo demais sob os pés.

— Não que a vida tenha me dado permissão para ser diferente.

— Você ganhou muito da vida, Sr. Igor.

— Para depois ela me tirar tudo. Do que adiantou? No final das contas, não sobrará nem mesmo esse sobrenome que ela me deu. Até mesmo isso vão tirar de mim. De tudo o que ganhei não vai sobrar nada além das lembranças. Você acha que eu deveria ser mais feliz? Mais leve, talvez?

Ele não responde. Seu celular toca e me levanto, preciso de um banho e uma bebida se quiser continuar me concentrando nesses relatórios. Já que dormir não é uma opção, farei dessas horas produtivas.

— Onde está seu celular, Sr. Igor? — Astolfo pergunta confuso, olhando em volta pela workstation.

Tateio o bolso, mas não está. Não está no quarto, ou sobre a cama. Eu estava ao telefone quando vi uma mulher prestes a pular da murada da varanda e saí correndo para salvá-la. Ele deve ter caído no chão no momento em que corri. Revistamos o aposento procurando o aparelho, mas não o encontramos. Após alguns minutos e quatro pessoas entre seguranças e camareiras procurando, percebemos o óbvio: a maluca roubou meu celular.

Deixo-me cair sobre a poltrona com a mão na cabeça que parece latejar.

— Devo chamar a polícia, Sr. Igor?

De repente, estou rindo de novo.

— Não precisa, Astolfo. Rastreie o telefone e amanhã vá buscá-lo. Ela não vai conseguir nada nele, não conseguirá nem mesmo desbloqueá-lo. Não vai fazer nenhum mal passar uma noite longe dele, na verdade. Estou mesmo precisando descansar.

Astolfo concorda, quer dizer alguma coisa, mas desiste, apenas acata minha ordem e deixa a suíte com um sorrisinho. E consigo dormir por mais de seis horas finalmente, sem o maldito telefone tocando o tempo inteiro no meu ouvido.


Na manhã seguinte, não acredito que estou mesmo em um carro quando deveria estar em uma reunião, indo a um bairro de classe média, a um ateliê de vestidos de noiva e flores, aparentemente, onde o rastreador aponta que meu aparelho está. Ao longe, avisto o nome do local em uma placa simples The Bridge's House. Na vitrine, há dois manequins com vestidos distintos, um bem rodado e um justo, são vestidos bonitos, o outro manequim está nu. Astolfo desce para recuperar o telefone e acabo descendo também. Nem vou falar com a maluca, apenas estou curioso sobre seu ateliê. Astolfo entra acompanhado de mais dois seguranças e fico do lado de fora, porém, pela porta aberta a vejo.

Ela tem os cabelos negros caindo em uma bagunça mal presa nas laterais por presilhas, eles são compridos e cheios, percebo. Tem uma agulha na boca, olhos assustados ao reconhecer Astolfo e está vestida de noiva. O vestido é justo em seu busto, elevando seus seios redondos e cheios, marca bem sua cintura, e a saia é leve, não espalhafatosa como a da vitrine, possui alguma renda bordada com uma abertura que deixa sua perna à mostra.

Ela está bonita, muito bonita. Bonita o bastante para que meus olhos não consigam se desviar dela por algum tempo e meus ouvidos estranhamente parem de captar os sons à minha volta. Astolfo diz algo que a faz olhar em minha direção e seus olhos de mel encontram os meus, então percebo que não está de verdade bonita.

Ela está deslumbrante.

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Até sexta, amorecas.

PS: quem quiser me disponibilizar um enfermeiro gostoso pra ficar me abanando, prometo terminar os capítulos mais rápido.

Ou não... 

DEGUSTAÇÃO - UMA PROPOSTA PARA O BILIONÁRIOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora