Cap. 2

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A noite está fresca, eu decidi vir com meu vestido mais curto e combinar o look com um meia e uma bota.

A ansiedade me fez vir uma hora antes. Escolhi uma mesa mais escondida, quero fazer uma surpresa.

Alguns minutos após eu me assentar, vi ele entrar.

O local lotado não permitiu que ele me visse ali, mas, logo após que ele entrou uma outra garota, com belos cachos louros e olhos castanhos. Muito linda.

E... Ela se agarrava ao braço dele, como uma namorada.

Puxei meu capuz para me esconder. Os observei ir até uma mesa logo atrás de mim. Ele nem me notou - ainda bem - ele a chama de meu amor. Eu deveria sair daqui, mas minhas pernas não se movem!

- esse local vai se tornar nosso local de encontro, ok? nosso local, nossa sorveteria. -

essas palavras dele ecoaram dentro de mim, me levando ao primeiro dia que entramos por aquelas portas. Ele disse o mesmo para mim.

Um local especial!

Ouvi meu coração se partir em milhões de pedaços. Eu nem sabia que ele tinha uma namorada. De repente o garoto que cresceu comigo pareceu se tornar um completo estranho desconhecido, costumávamos compartilhar tudo, de comidas a segredos sigilosos - acho que chegou o momento de me afastar -

Me levantei sem olhar para trás e sai, sem que ele percebesse quem era. As lágrimas rolavam por minha face, frias pelo vento que parecia congelar meu corpo, mesmo quanto eu o sentia arder em dor. Carregava no peito o peso do meu coração em pedaços.

Chegando em casa fui direto para meu quarto. Vesti algo confortável e me enfiei de baixo do meu iglu de cobertas, enquanto agarro meu amiguinho. Esse pequeno coelhinho é tudo que me restou do que um dia me manteve próxima aos meus pais.

E agora também me faz lembrar do apelido que ganhei de Zack "coelhinha" preciso me curar desse coração partido, e tentar agir de forma normal, para poder encara-lo sem embargar a voz.

Após alguns minutos ali lutando para não chorar ouço uma batida suave na porta. Pensei ser minha tia, que vinha me chamar para fazer algo pra ela.

- Runa? Está acordada? - a voz mansa de Ethan expulsou o silêncio que reinava em meu quarto.

- sim... Pode entrar - falei sem sair de baixo das cobertas.

Ouvi a porta ser aberta e em seguida ser fechada. Seus passos calmos caminharam descalços até onde eu me encontrava escondida.

- você está bem?

- sim.

- mentir é feio.

- por que você se importa?

- não sei... Apenas me importo. Talvez faço isso pela minha própria consciência.

Respirei fundo e descobri apenas minha cabeça, finalmente respirando o ar frio.

Mantive meu olhar na janela, enquanto minha mente projetava a dolorosa memória de algumas horas mais cedo.

- desde quando ele tinha uma namorada? E porque nunca me disse nada... Eu pensei que era sua melhor amiga...

Senti o peso do braço de Ethan sobre as cobertas, entorno de onde estava minha cintura. O encarei brevemente, ele olhava para o mesmo ponto invisível que eu.

- escondemos aquilo que achamos necessário ou que é preciso. As vezes, não se trata de ser ou não ser.... - seus olhos sonolentos vierem vagarosamente de encontro aos meus - você também escondia algo dele, não é mesmo?

É ele tinha razão em parte de suas palavras, mas eu ainda estava de coração partido.

- eu gostava dele, mais do que um amigo... - confessei deixando uma lágrima rolar.

Apesar das várias cobertas, senti ele sutilmente acariciar minhas costas.

Ethan é o cara da família, que está sempre na dele, o ponto neutro. Pra mim é o único ser humano com coração nessa casa.

- simplesmente há coisas que não podemos mudar, o jeito é superar e seguir em frente... - ele soltou um longo suspiro e inclinou a cabeça para trás, mantendo os olhos fechados.

- a vida ainda vai te fazer muitas surpresas, boa e ruins. Mas você precisa aprender a usar essas coisas a seu favor. Deboche da desgraça, tire sarro da cara do desprezo, ria na cara da dor. Lute até não conseguir mais respirar... E quando não der mais... Pare conte até três tire a poeira da roupa e... - ele fez uma pousa dramática me fazendo ficar aflita.

- e... Tome uma boa dose de shoppe!

Ele riu! Ele riu! O que me fez sorrir também. Ethan não é de rir facilmente, mesmo com o coração partido, receber esse sorriso deixou minha noite melhor.

- eu não bebo seu bobo!

- eu também não.

- mentir é feio

- tá! Você me pegou.

Quando me dei conta meu coração estava leve e o ar em em meus pulmões faziam as trocas gasosa com facilidade.

- obrigada...

- você tinha q estar feliz por ter se formado e conquistado algo que batalhou por anos. Não deixe um cara como ele tirar essa felicidade.

- você tem razão - limpei as lágrimas, com um sorriso leve, aliviando um pouco mais o coração

- agora vá dormir, amanhã você precisa procurar um emprego.

- já tenho alguns lugares em vista para enviar meus currículos.

- isso é ótimo! Boa noite Runa. -

- Boa noite Ethan.

E da mesma forma que ele entrou, ele saiu. Silencioso e calmo.

Nem todo anjo possui um par de asas.

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Parentes?Where stories live. Discover now