Cap. 9

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A mais ou menos Dois meses atrás, quando soube do estado de Anna. Decidi mudar as aulas e acrescentar alguns desejos dela.

Por exemplo: semana passada tocamos piano. E estudamos com tintas ao invés de massinhas de modelar.

Hoje a turma está agitada, vamos fazer a brincadeira do caça tesouro no pátio do colégio. A única parte ruim é que Anna não está presente, noite passada ela precisou ir para o hospital.

Essa é a brincadeira favorita dela.

- vamos Profe! -

As crianças me puxavam eufóricas para fora da Sala. Mesmo com o coração dolorido ainda sorri ao ver aqueles rostinhos radiantes e inocentes.

Acho que o pior desejo de uma criança, é quando eles almejam se tornar adultos. Ah! Se eles soubessem quão alto custa a perda dessa inocência. Pena que percebemos isso muito tarde.

- Primeiro quero todos em Uma fila única!

Rapidamente uma fila se formou.

- Ótimo! Agora vamos no passinho do elefante...

Eles me seguiram como pintinhos atrás da mamãe, dando passo engraçados junto comigo.

Já no pátio, o jogo se iniciou, eles se espalharam como baratinhas ao verem a luz da cozinha.

- Runa!

A voz preocupada da diretora me fez tirar atenção dos pequenos.

- é a Anna! Precisam de você no Hospital.

- que!?

- só vai! Eu assumo aqui. - ela estava ofegante, parecia ter dado várias voltas no colégio para me encontrar.

Sem mais perguntas fui o mais rápido para o hospital. Meu foco era chegar lá, minha mente não pensava em mais nada.

Entrando pela porta passei minhas informações na recepção e fui guiada até um quarto infantil.

Lá estava ela, cerca por seus pais e avós. Congelei por alguns segundo na porta. Quando me viu um lindo sorriso surgiu em seus lábios completamente pálidos.

- Profe você veio... - sua voz estava tão fraca e baixa que mal consegui ouvir.

Os pais dela me cederam um lugar ao lado da pequena criança.

- eu queria ver a senhora...

- eu estou aqui querida... - segurei sua mãozinha fria. Meus olhos mal conseguiam enxerga-la pelas lágrimas que eu recusava deixar cair.

- mamãe disse que eu vou dormir, e perguntou se eu queria ver alguém... por isso chamei a senhora.

- vo-vo-você quer dizer algo pra Profe?

Minha voz já estava embargada. E minhas mãos tremiam enquanto lutava desesperadamente para me manter firme

- sim... Eu-eu sei que quando dormir não vou mais acordar... -

Minhas lágrimas rolaram.

- então... queria agradecer por ter cido minha professora... E... Queria pedir também, para que a senhora mandasse um abraço a Todos meus coleguinhas.

- t-ta... Eu vou abraçar cada um deles por você. Prometo.

- promessa de dedinho?

- sim! De dedinho -

Ela estendeu a mãozinha agarrando meu dedo

- a Profe também te ama muito, você é uma garotinha incrível.

Ela tocou meu rosto, e encarou meus olhos.

- eu queria olhar uma última vez para seus olhos, eles lembram as lindas florestas verdes onde moram as borboletas...

Segurei sua mãozinha junto a minha face, e senti quando ela começou a perder as forças.

- Eu... Eu... quero sonhar que estou em uma floresta com muitas borboletas...

- você vai Aninha... e vai ser lindo! Eu prometo...

- Amo florestas...

Ela fechou olhos e sorriu. E nesse instante vi ela dar seu último suspiro.

Descanse em paz... Solucei com o choro.

Os familiares se juntaram a mim, num choro silencioso.

- descanse em paz pequena borboleta... Sussurrei beijando sua testa fria.

Senti uma mão trêmula tocar meu ombro.

- ela... Me pediu para falar com você... disse que queria te ouvir tocando enquanto dormia.

- eu vou tocar!

Abracei a mãe que se desmanchava em lágrimas.

E como prometido, enquanto Anna estava sendo velada eu tocava suas canções favoritas, no violino. Como dizia ela "violinos parecem bailarinas, por isso são meus favoritos"

Ficamos uma semana sem aula em luto pela família de Anna. Fiquei uma semana trancada em meu quarto, saia apenas para fazer minhas obrigações e tentar comer. Meu coração estava realmente em pedaços. A cena do pequeno caixão sendo posto no túmulo, trazem a vaga memória dos meus pais.

As vezes a vida até parece meio injusta.

- Por que ela? E não eu? -

Ela tinha uma família linda e maravilhosa. Eu não tenho. Ela tinha toda uma vida para ser feliz. Eu já sofri o bastante.

Então, porque ela, e não eu?

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