Cap. 10

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Nessas semanas que seguiram após a morte de Anna, foram dias extremamente difíceis pra mim. Estava sempre me questionando, sobre minha existência, e com a vivida memória de meus pais. Isso tornava a convivência com meus tios muito mais difícil. Principalmente com minha tia.

Cada dia que se passa é como se não pertencesse mais a esse lugar. Estou morando em uma casa, mas não tenho um lar. Vivo junto com pessoas que não são minha família.

Essa sensação é estranha, esse sentimento de não pertencer a nenhum lugar, faz nascer a vontade de simplesmente não existir mais.

Estou deitada, encarando o teto branco. Hoje é sábado e eu não tenho ânimo algum para fazer qualquer coisa. Mas sei que se ficar aqui vou precisar limpar a casa.

Abri a gaveta da escrivaninha e peguei a carta.

Tio David, será o senhor minha salvação desse lugar?

Anotei o número de telefone que havia na carta -Vou tentar trocar algumas palavras com ele, mas não aqui. Podem entrar a qualquer momento no meu quarto -

Vesti meu velho moleton cor de pêssego, que tem um lindo R bordado no canto esquerdo e Calcei meu Nike.

- Runa?

A voz de minha tia ecoou vinda da cozinha. Hoje ela está de folga, vai ficar o dia todo em casa, preciso dar um jeito de ficar fora o máximo de tempo que conseguir.

- estou indo! - peguei o celular apressada e sai correndo do quarto. Para não dar tempo dela entrar aqui.

- o que vai fazer hoje?

Ela comia algumas torrada com geleia, dentro de seu roupão de ceda azul. E o cabelo está preso em um coque bagunçado.

- eu vou sair agora... Tem uma reunião na escola sobre o salário, preciso estar lá às... - olhei a hora no celular para poder complementar minha mentira - ...as... Nove horas! Minha nossa estou atrasada!

- então vá logo é uma reunião importante!

Peguei uma torrada e sai correndo, aliviada por ela ter acreditado. Minha tia é fácil de controlar, basta ter dinheiro.

Já no metrô, peguei meu celular.

Será que devo mandar mensagem pra ele? E se eu me arrepender? Bom, não custa nada tentar.

Lá no fundo do meu ser um fio de esperança começava a aparecer, a esperança de ainda poder conseguir viver uma vida tranquila, onde posso fazer o que quiser, e seguir meus próprios desejos, sem que eles sejam modificados por alguém.

*Mensagens*

- Olá! Aqui é a Runa.

...

( Esperei, e, nada.)

Guardei o celular

Acho que fui enganada, esse número deve ser desativado.

*Celular vibra*

Peguei rapidamente o telefone entrando na área de mensagens.

*Mensagens*

- Olá! Aqui é a Runa.

- Oi! Pelo visto recebeu minha carta. Como você está?

- Sim, eu recebi. E... Estou bem.

- e então? Decidiu algo?

- estou um pouco insegura e em dúvida.

(Fui direta)

- eu entendo... Foi bem repentino essa minha "aparição", sei que deve ser difícil, mas não quero pressiona-la. Eu apenas queria que soubesse que quando precisar minha portas estarão sempre abertas.

- sou muito grata ao senhor e sua compreensão.

- como estão as coisas por aí?

- estão bem... Tia Tânia, está bem feliz, Marco entrou para o time de futebol da escola e a Meg está fazendo aulas de ballet.

- Uau! A última vez que vi Marco, ele era um bebê, e Meg conheci apenas por fotos. Devem ser crianças muito boas.

- É... São sim. David, me fale um pouco sobre Oregon?

- claro! Com prazer. O que quer saber?

- Tudo.

- Hahahahah!! Ok. Vamos la!  Oregon é pra mim é um lugar maravilhoso. O que mais amo aqui onde moro são as árvores...

(Me lembrei da pequena Anna e sua paixão pela natureza)

- aqui também há alguns lagos e riachos. As pessoas são bem amigáveis. Por ser uma cidadezinha bem pequena todos acabam se conhecendo bem. O ar aqui carrega o cheiro de relva, é incrível... Acho que você iria amar.

- quase consigo imaginar as florestas...

- é... Elas são lindas.

- vou pensar com carinho. Essa oportunidade e gentileza realmente importam muito pra mim. Mas não posso simplesmente deixar tudo e ir, tenho muito que analizar.

- fica tranquila, eu compreendo. Não tenha pressa.

- obrigada, David.

- disponha! Vou precisar ir agora. Mas podemos ir nos falando certo?

- Claro!

- até logo, Runa.

- Até!

Guardei o celular no bolso. Soltei um grande suspiro, pareceu que eu estava de baixo d'água prendendo a respiração - O que eu faço? Oregon parece ser um lugar incrível, e a cidade onde meu tio mora, soou ser tão aconchegante. E se eu for apenas à passeio? se gostar da região decido se vou ficar ou não. -

Depois de fazer uma longa caminhada, ir a algumas lanchonetes, e pensar muito a respeito, decidi que iria fazer uma visita.

Com minha decisão tomada, por enquanto, sinto que um pouco daquele peso da indecisão diminuiu. Agora está na hora de voltar pra casa e convencer minha tia me deixar ir.

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Parentes?Where stories live. Discover now