Nessas semanas que seguiram após a morte de Anna, foram dias extremamente difíceis pra mim. Estava sempre me questionando, sobre minha existência, e com a vivida memória de meus pais. Isso tornava a convivência com meus tios muito mais difícil. Principalmente com minha tia.
Cada dia que se passa é como se não pertencesse mais a esse lugar. Estou morando em uma casa, mas não tenho um lar. Vivo junto com pessoas que não são minha família.
Essa sensação é estranha, esse sentimento de não pertencer a nenhum lugar, faz nascer a vontade de simplesmente não existir mais.
Estou deitada, encarando o teto branco. Hoje é sábado e eu não tenho ânimo algum para fazer qualquer coisa. Mas sei que se ficar aqui vou precisar limpar a casa.
Abri a gaveta da escrivaninha e peguei a carta.
Tio David, será o senhor minha salvação desse lugar?
Anotei o número de telefone que havia na carta -Vou tentar trocar algumas palavras com ele, mas não aqui. Podem entrar a qualquer momento no meu quarto -
Vesti meu velho moleton cor de pêssego, que tem um lindo R bordado no canto esquerdo e Calcei meu Nike.
- Runa?
A voz de minha tia ecoou vinda da cozinha. Hoje ela está de folga, vai ficar o dia todo em casa, preciso dar um jeito de ficar fora o máximo de tempo que conseguir.
- estou indo! - peguei o celular apressada e sai correndo do quarto. Para não dar tempo dela entrar aqui.
- o que vai fazer hoje?
Ela comia algumas torrada com geleia, dentro de seu roupão de ceda azul. E o cabelo está preso em um coque bagunçado.
- eu vou sair agora... Tem uma reunião na escola sobre o salário, preciso estar lá às... - olhei a hora no celular para poder complementar minha mentira - ...as... Nove horas! Minha nossa estou atrasada!
- então vá logo é uma reunião importante!
Peguei uma torrada e sai correndo, aliviada por ela ter acreditado. Minha tia é fácil de controlar, basta ter dinheiro.
Já no metrô, peguei meu celular.
Será que devo mandar mensagem pra ele? E se eu me arrepender? Bom, não custa nada tentar.
Lá no fundo do meu ser um fio de esperança começava a aparecer, a esperança de ainda poder conseguir viver uma vida tranquila, onde posso fazer o que quiser, e seguir meus próprios desejos, sem que eles sejam modificados por alguém.
*Mensagens*
- Olá! Aqui é a Runa.
...
( Esperei, e, nada.)
Guardei o celular
Acho que fui enganada, esse número deve ser desativado.
*Celular vibra*
Peguei rapidamente o telefone entrando na área de mensagens.
*Mensagens*
- Olá! Aqui é a Runa.
- Oi! Pelo visto recebeu minha carta. Como você está?
- Sim, eu recebi. E... Estou bem.
- e então? Decidiu algo?
- estou um pouco insegura e em dúvida.
(Fui direta)
- eu entendo... Foi bem repentino essa minha "aparição", sei que deve ser difícil, mas não quero pressiona-la. Eu apenas queria que soubesse que quando precisar minha portas estarão sempre abertas.
- sou muito grata ao senhor e sua compreensão.
- como estão as coisas por aí?
- estão bem... Tia Tânia, está bem feliz, Marco entrou para o time de futebol da escola e a Meg está fazendo aulas de ballet.
- Uau! A última vez que vi Marco, ele era um bebê, e Meg conheci apenas por fotos. Devem ser crianças muito boas.
- É... São sim. David, me fale um pouco sobre Oregon?
- claro! Com prazer. O que quer saber?
- Tudo.
- Hahahahah!! Ok. Vamos la! Oregon é pra mim é um lugar maravilhoso. O que mais amo aqui onde moro são as árvores...
(Me lembrei da pequena Anna e sua paixão pela natureza)
- aqui também há alguns lagos e riachos. As pessoas são bem amigáveis. Por ser uma cidadezinha bem pequena todos acabam se conhecendo bem. O ar aqui carrega o cheiro de relva, é incrível... Acho que você iria amar.
- quase consigo imaginar as florestas...
- é... Elas são lindas.
- vou pensar com carinho. Essa oportunidade e gentileza realmente importam muito pra mim. Mas não posso simplesmente deixar tudo e ir, tenho muito que analizar.
- fica tranquila, eu compreendo. Não tenha pressa.
- obrigada, David.
- disponha! Vou precisar ir agora. Mas podemos ir nos falando certo?
- Claro!
- até logo, Runa.
- Até!
Guardei o celular no bolso. Soltei um grande suspiro, pareceu que eu estava de baixo d'água prendendo a respiração - O que eu faço? Oregon parece ser um lugar incrível, e a cidade onde meu tio mora, soou ser tão aconchegante. E se eu for apenas à passeio? se gostar da região decido se vou ficar ou não. -
Depois de fazer uma longa caminhada, ir a algumas lanchonetes, e pensar muito a respeito, decidi que iria fazer uma visita.
Com minha decisão tomada, por enquanto, sinto que um pouco daquele peso da indecisão diminuiu. Agora está na hora de voltar pra casa e convencer minha tia me deixar ir.
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Parentes?
FanfictionUm garota ainda jovem, perde todas suas razões de viver. E agora sozinha no mundo, sem sua família, começa a lutar para tentar manter uma vida cotidiana, morando junto de sua tia que usa a garota para benefícios próprios . Até chegar a ela a notíci...