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023. Dilacerante
dilɐsəˈrɐ̃t(ə)

1. Que dilacera. Despedaça.
2. Que tortura, que magoa profundamente.
3. Pungente.

Mantenho somente um olho aberto observando meu pai sentado à frente

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Mantenho somente um olho aberto observando meu pai sentado à frente. Expirando e inspirando, devagar, com calma, sem pressa e tudo que envolve estar em uma sessão de meditação.

Ele parece estar concentrado e ao mesmo tempo convencido que foi uma boa ideia me arrastar para isso.

Entendo que desde que a faculdade começou nosso tempo juntos foi reduzido ao máximo, e que o tempo em que tenho passado com Justin aumentou consideravelmente. Se juntarmos tudo isso ao fato de que Andrew não faz absolutamente nada o dia inteiro, sei que ele se sente sozinho.

O que me deixa triste e culpada.

Ele abre abruptamente os olhos e eu fecho os meus, "Você não está conseguindo, certo?"

Abro os olhos, "Desculpa, pai. Eu não consigo fazer isso. Todas as vezes em que você diz que devo inspirar e relaxar minha cabeça começa a me azucrinar."

"Ainda está pensando no palmito loiro?"

"Exatamente." Finalmente apoio as minhas costas no sofá. "Não consigo não pensar. Ela tem algo contra mim, posso sentir."

Ele sorri, "O que ela teria contra você?"

Que, por acaso, o meu namoro com Justin é falso? E se isso vazar, eclodir, se esparramar na boca de cada morador dessa cidade, eu estou ferrada! Humilhada! Perdida! Seria o ápice da minha vida social e completa humilhação. Resumindo, não seria algo agradável de estar vivendo e muito menos de estar lendo.

Ápice do fundo do posso, enterrada bem fundinho, encontrando petróleo...

"Não sei." Rá! Mentirosa. Isso vem se tornando um hábito, não é mesmo?

"Então respire..."

"Pai!"

"Tá. Tá bom." Andrew levanta abruptamente do chão, indo até a cozinha e voltando com um balde de sorvete de chocolate que na embalagem tem uma vaquinha sorrindo. Ela seria tão fofa caso não vivesse em um ambiente para procriação onde seu destino final é a sua, minha, nossa barriga. "Uma colher para você, uma para mim. O que está te incomodando?"

Pego a minha colher, pego a primeira colherada de sorvete, tento pegar a minha dignidade e força de viver, porém as duas escapam. "Não posso falar."

"Por que?"

"É vergonhoso."

"Por que?"

"Porque você é meu pai."

"Ai, meu Deus." Andrew fecha os olhos e balança a cabeça por alguns segundos. "Sua mãe faz falta nessas horas."

Agora começo a entender o que ele acha que está rolando aqui, "Não! Não!"

Procura-se uma Namorada!Where stories live. Discover now