005. Na Garagem

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— Eu não acredito no que os meus olhos me levam a crer! — Um moço de altura média, aproximadamente um e sessenta e cinco, meio gordinho, branco, de cabelo preto encaracolado curtinho, nariz arredondado na ponta, lábios rosados e bochechas acentuadas exclamou ao adentrar na garagem. Ele podia até não acreditar na cena que viu, mas eu me recusava a acreditar que eu e o Alberto havíamos sido flagrados. — Vim aqui buscar os instrumentos para o show de amanhã e acabei constatando o que os meninos diziam. Então a fofoca é verídica!

Então quer dizer que a banda já havia espalhado que eu e o guitarrista havíamos ficado? Não, pra mim não era nada interessante saber disso. Eu fiquei com tanta vergonha só de imaginar as palavras ditas na tal fofoca que até escondi o meu rosto entre as mãos para não entregar de cara que estava começando a sentir as minhas bochechas ficando coradas.

— Vocês gostam de cuidar da minha vida mais do que das suas próprias... — Alberto murmurou baixo, mas não o suficiente para que ninguém mais ouvisse. Eu não estava olhando na hora, mas pude escutar sons de passos,  o que me fez deduzir que o rapaz que eu ainda não sabia o nome havia caminhado até o guitarrista, e logo após pude ouvir um barulho de tapa acompanhado de um segundo murmúrio do Alberto, o que me fez concluir que ele tinha apanhado.

— Se manca, bebezão! Todo mundo sabe da sua vida!

Perceptível isso. Eu espiei a cena dos dois através de uma fresta entre os meus dedos e pude vê-los brincando de dar soquinhos um no outro. Ou melhor, Alberto tentava socar o moço, mas apesar de mais baixo, ele era mais ágil, e desviava com a maior facilidade dos golpes deferidos pelo guitarrista. Essa cena perdurou por alguns minutos, até o momento em que eu destampei o meu rosto quando senti que não estava mais envergonhada. Diante do meu gesto, o outro rapaz pareceu se lembrar da minha presença no local e parou imediatamente a brincadeira, saindo de perto do maior. Este veio até próximo à mim enquanto ajeitava a sua própria roupa no corpo e me disse:

— Me desculpe a desatenção, eu nem te perguntei o seu nome, princesa.

— É Ahri — princesa? — E não me chame de princesa, por favor.

— Mas você é muito linda, como posso resistir?

Antes que eu formulasse uma resposta dizendo que, primeiramente, não tínhamos intimidade suficiente para que ele me chamasse daquela forma, o Alberto deferiu um tapa muito certeiro contra a nuca do rapaz. Ele não parecia nada contente com o curto diálogo que eu e o outro tivemos.

— Você está dando em cima da minha namorada, irmão? Só eu chamo ela de princesa!

Namorada? E que ciúme era esse do Alberto? Nós havíamos nos conhecido literalmente no dia anterior, não havíamos ficado mais do que duas vezes e ele já tinha se apegado a tal ponto?

Mas namorada…

Porém não posso negar que ser chamada de namorada levantou um questionamento na minha cabeça a respeito do que éramos verdadeiramente. Eu e ele não éramos mais apenas conhecidos. Também não éramos simples amigos — isto é, não havíamos nem desenvolvido um laço afetivo tipo amizade até o momento. Mas era nítido que tínhamos atração um no outro. Comparando com a Química, nós éramos algo semelhante aos prótons e elétrons de um átomo.

Mas ao mesmo tempo não parecíamos simples ficantes. Quando eu ficava com o Kenzo, nós não ligávamos para esse lance de conhecer um ao outro e fazer perguntas como estava acontecendo com o Alberto. Ele realmente parecia interessado em descobrir mais de mim, e eu também estava ficando instigada a procurar saber mais dele. Diante de tudo isso, talvez naquele momento o que melhor se encaixaria nos nossos conceitos seria algo como "conhecendo melhor". Porém uma parte de mim se negava a recusar ser chamada de "namorada". Sim, até que eu gostei daquela ideia.

Playing Against Time | Bento Hinoto [SENDO REPOSTADO]Where stories live. Discover now