012. Culpa do TCC

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Como eu não ia para os anos noventa no dia seguinte, eu aproveitei para acordar cedo e ir até a casa do Kenzo para continuar fazendo o meu TCC. Eu estava na reta final da faculdade, o trabalho que eu teria que fazer era um pouquinho grande demais e pesado para ser levado para a minha casa…

Um avião.

É, eu já estava a meses comprando peças e montando um avião próprio, tudo isso para tirar a melhor nota possível em um trabalho de final de curso. Mas aquele não era um trabalho qualquer, definitivamente. Desde o início da minha graduação eu já estava planejando aquele avião muito específico.

FlexAir era o nome que eu havia escolhido para o meu projeto. Isso porque ele se tratava, nada mais, nada menos, do que um aviãozinho híbrido, que pousasse e decolasse na terra e na água, fosse econômico em questão de combustível, muito rápido e fácil de pilotar — até para quem nunca havia pilotado nem um carrinho de controle remoto antes.

Suas asas se mexiam e trocavam de posição de acordo com o ar — se estava mais denso ou rarefeito, por exemplo — a fim de evitar turbulências. Não era um avião espaçoso: só haviam dois assentos no seu interior. A verdade é que desde os primórdios, eu pensei no FlexAir para ser uma alternativa paralela aos meios de transporte terrestres, algo que seria muito útil para evitar engarrafamentos na caótica capital de São Paulo e reduzir o número de acidentes de trânsito. Sim, o meu avião foi pensado para ser acessível à população. Eu costumo dizer que ele se assemelha bastante ao que muitos chamam de "carro voador", e eu não me importo com quem gosta de o chamar dessa forma. Primeiramente, porque realmente me inspirei um pouco nas aparências dos carros voadores de desenhos animados para o criar.

Como uma boa marketeira, eu preciso explicar os diferenciais do produto que eu estou a oferecer para o mundo: naquele dia na casa do Kenzo eu estava justamente ajeitando o trem de pouso frontal da minha invenção, isso porque eu tinha o intuito de o fazer pousar e decolar dentro do menor espaço possível, possibilitando de verdade que alguém prefira o ter ao invés de optar por uma moto, por exemplo. Aliás, o projeto dele era para, inicialmente, ser algo como uma "moto aérea" se fôssemos levar em consideração que, além de comportar poucas pessoas, era menos poluente do que um carro convencional, daqueles que fazem barulhão de britadeira quando se dá partida — e tinha uma velocidade máxima de até oitocentos quilômetros por hora, com uma velocidade de cruzeiro a aproximadamente seiscentos e setenta quilômetros. Comparando com aviões de grande porte, estas são velocidades reduzidas devido ao fato do FlexAir não ter sido projetado para voar na mesma altitude que estes, a fim de não atrapalhar o tráfego deles.

Outra coisa que faz o meu pequeno avião híbrido ser mais lento do que os comerciais, porém mais econômico e biodegradável do que meios de transporte terrestres, é o fato dos motores não funcionarem através de combustão. Eu projetei um avião que pousa e decola na terra e na água e se move através de um sistema de carregamento de baterias através da energia solar.

Eu tinha equipado placas solares por cima das baterias de cada um dos dois motores do meu pequeno jato. O painel de controle (que, falando de um termo mais técnico, é o conjunto dos computadores internos do cockpit) é automático e possui um sistema de inteligência artificial que detecta se do lado de fora está de dia ou de noite. Durante o dia, o sistema de funcionamento vai captar os raios solares e os converter em eletricidade na hora para recarregar as baterias dos motores, enquanto estoca energia para as duas baterias reservas (e é por isso que a Ayumi diz que o meu avião realiza fotossíntese. Bem, se para vocês é mais fácil associar dessa forma, sintam-se à vontade). Essa energia estocada é usada à noite, quando não há luz do sol para realizar a conversão ou no caso de algum dos motores principais dê algum problema com energia em voo.

Para mim o maior problema não foi a complexidade do projeto, mas sim a montagem dele. Quando eu apresentei a minha ideia, as pessoas que faziam grupo comigo disseram que aquela era uma realização utópica, levando em consideração que até mesmo grandes empresas aéreas estavam tentando criar aviões que não fossem movidos por querosene e estavam falhando. Seguindo essa lógica, por que o meu projeto daria certo?

Playing Against Time | Bento Hinoto [SENDO REPOSTADO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora