019. Fedor de Querosene

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O auge da minha vida foi ter escutado o meu namorado vir o caminho inteiro de volta me elogiando pelo meu desempenho no teste. A começar pelo tempo: eu tinha três horas para completar a manutenção, e consegui terminar antes mesmo de uma. Segundo, pela minha análise detalhada do caso que eu tinha nas mãos. Algumas falas do Alberto foram tão eufóricas que eu nem percebi o tempo passando enquanto o ouvia falando. Mas, o que me fez sorrir mais puramente ainda foi o fato dele estar me elogiando pela capacidade que eu tive de ter sob controle toda aquela situação.

— Eu jamais me colocaria sobre a sua pele, princesa — em dado momento, ele disse isso. — Você me surpreende a cada dia que passa.

— Eu acho que quando fazemos as coisas que gostamos, tendemos a fazer com mais eficácia — como ainda estávamos dentro do FlexAir e eu estava o pilotando, não olhei para o meu namorado para responder isso. No entanto, eu sorri quando falei. — Você está do mesmo jeito que eu fico quando te vejo tocando guitarra: perplexo.

Eu acredito que a minha frase não o pegou de surpresa, porém ele demorou alguns segundos para me lançar uma resposta para ela.

— Mas eu não tenho talento para a coisa — sabe um tom melancólico que faz qualquer um acreditar que seja verdade? Pois era assim que o Alberto estava falando. Porém eu não me deixava cair nesse papinho mole. — Bem, posso até ter, só que não sou um estudioso na minha área igual você é na sua.

— Sabe qual é a diferença entre você e eu, Alberto Hinoto? — Pode até ter soado um pouco rude para vocês, mas eu juro que isso não foi pronunciado por mim em tom de bronca. — A diferença é que eu tenho uma área de inteligência mais desenvolvida em uma coisa e você tem outra. Isso é super normal!

— Pois eu discordo — acostumem-se, leitores. O Bento é muito cabeça-dura. — Você é boa na música e nas exatas.

— E você também não é? Você está no quarto semestre da sua faculdade e já terminou Cálculo. Sabe quantas vezes eu repeti Cálculo? Sete vezes! — Tudo o que eu falei não era nem um porcento mentira. Ele já estava no quarto período da faculdade de Física e tinha passado na primeira tentativa em Cálculo I, II e III. Eu só passei de primeira no Cálculo IV, todas as que vieram anteriormente eu repeti. No total, foram sete vezes.

Cálculo é a pior matéria de qualquer faculdade de exatas e isso é um fato. Bento ia dar algum pitaco, porém eu o cortei com um gesto feito com a minha destra. Não tinha o que sequer ele retrucar. Fatos eram fatos.

Bem, estávamos já em aproximação com a rua da casa da minha tia. Dessa forma, eu me preparei para fazer o alinhamento e abaixar os trens de pouso. Porém antes de começar a baixar os pés e os knots para pousar, eu voltei o meu olhar rapidamente na direção do meu namorado. Dessa forma eu notei que ele estava portando uma expressão indiferente no seu rosto. Claramente era um sinal de que ele estava frustrado ou, então, se remoendo por dentro por ter me ouvido falar a verdade para si.

O Bento era um daqueles que não reconhecia o valor do seu próprio trabalho e ficava o tempo inteiro se diminuindo. Sim, ele admirava os músicos, principalmente os que ele era fã, aqueles que começaram uma banda e cresceram com o passar do tempo. Mas Alberto Hinoto era daqueles que enxergava as qualidades de todo mundo, exceto as suas próprias. Este fato baixava a sua autoestima aos extremos. E era exatamente por este motivo que eu tentava, quase todos os dias, o enaltecer assim como ele fazia comigo. Por mais que ele fosse teimoso e muitas das vezes discordasse, como fez na cena que narrei anteriormente, eu conseguia, de vez em quando, lhe arrancar um sorriso ou fazê-lo corar levemente. Aqui isso não aconteceu, mas pelo menos eu tentei.

Assim que pousamos e eu consegui parar o avião e desligar os motores, ele se soltou do cinto de segurança e desceu antes de mim. Me ajudou a arrastar o meu jatinho até dentro do quintal da casa da minha tia, porém, quando convidado por mim, ele se recusou a adentrar o local. Disse que já tinha dado muito trabalho para Miyuki mais cedo e que dessa vez iria embora logo. O opala do seu irmão estava estacionado do outro lado da rua, de frente para a residência da Aikyo, o esperando. Ele estava parado no portão de entrada dela no momento em que fez um sinal para mim, me indicando que eu deveria ir na sua direção. Prontamente eu o fiz sem sequer questionar.

Playing Against Time | Bento Hinoto [SENDO REPOSTADO]Where stories live. Discover now