011. Ciência e Teorias

239 32 2
                                    

Bombardier Learjet do modelo 25D, prefixo PT-LSD. Esse era o jatinho bimotor do acidente que ceifou a vida dos Mamonas em noventa e seis. Definitivamente um jato seguro, sendo um dos quais eu mais usei para "queimar" as minhas horas complementares na faculdade através de cursos de pilotagem. Eu definitivamente já sabia tudo sobre o avião. Só que eu não estava naquele momento, um pouco mais tarde após aquele rolê todo na casa do Bento, pesquisando sobre ele: eu estava lendo o relatório final do CENIPA sobre o acidente.

Mesmo tendo estagiado por um tempo no Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos, eu não havia tido a necessidade de ler o relatório feito sobre o acidente da banda. Antes disso, tudo o que eu sabia era que uma manobra errada havia sido feita. Qual era a manobra? Quantos metros de erro? Havia defeitos na aeronave? Os radares do aeroporto e da aeronave estavam funcionando? Qual era o ângulo que o avião voava em relação ao chão no momento do acidente? Essas e milhares de outras perguntas que eu havia anotado mais cedo estavam sendo respondidas por mim à medida que eu lia o relatório.

Foram vinte e cinco páginas repletas de informações relevantes e mais de uma hora para ler e grifar as partes principais. No inquérito final, foi dito que alguns fatores bem específicos contribuíram para o choque do jato com a Serra da Cantareira. Entretanto, ao terminar de ler todo o relatório, uma chama de dúvida acendeu na minha cabeça: como que o acidente aconteceu sendo que os pilotos haviam afirmado que estavam em condições visuais?

Eu sei que vocês não entenderam essa parte, mas ela é bem fácil de entender se vocês pensarem comigo. Dentro da aviação nós, engenheiros, controladores de voo, pilotos, enfim, temos um padrão de linguagem. Um desses padrões, mais usado entre pilotos e controladores da torre, é os comandantes da aeronave assumirem responsabilidade visual de navegação ao afirmar ao comando da torre que se encontram em um lugar de condições visuais. Desse jeito, o controlador de voo meio que deixa por um momento de se responsabilizar pelas condições visuais na qual tal aeronave está voando. Bem, pilotos mais experientes fazem isso, os com menos horas geralmente possuem receio em tomar as rédeas neste procedimento. Eu mesma nunca fiz antes. E, lendo o relatório, constatei que a tripulação assumiu a responsabilidade visual durante os últimos minutos de voo. 

Detalhe: o acidente aconteceu perto das onze e quarenta da noite de dois de março de noventa e seis, em uma área densa e florestal da Serra da Cantareira. Sabe o que isso significa? Que como não havia a luz do dia por lá, não se dava para enxergar nada de dentro do cockpit do lado de fora. O jatinho em hipótese alguma poderia ter assumido a responsabilidade visual, porque ele estava indo para uma área escura, que não dava para enxergar absolutamente nada. Mas então por que a responsabilidade visual foi assumida?

Isso definitivamente era um mistério. E o pior: naquele momento eu não fazia ideia por onde começar a pensar para resolvê-lo. No inquérito estava perfeitamente claro que a aeronave estava em perfeitas condições de voo, então o problema estava nas pessoas dentro do avião. Como eu "consertaria" as pessoas?

Fechei o meu notebook com a convicção de que eu não encontraria a resposta pesquisando na internet. Tive para mim que as pistas que eu deveria começar procurando estariam sendo levantadas pelos próprios meninos da banda muito antes deles se tornarem os Mamonas.

 Tive para mim que as pistas que eu deveria começar procurando estariam sendo levantadas pelos próprios meninos da banda muito antes deles se tornarem os Mamonas

Ops! Esta imagem não segue as nossas directrizes de conteúdo. Para continuares a publicar, por favor, remova-a ou carrega uma imagem diferente.
Playing Against Time | Bento Hinoto [SENDO REPOSTADO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora