Playing Against Time | Bento Hinoto [SENDO REPOSTADO]

008. A tal da "resenha"

Sabe quando você tem noção de que está cometendo um erro, mas, mesmo assim, insiste nele? Eu sabia o tempo todo que namorar o Alberto era errado. Só que tinha o ponto que o meu erro não me dava um pingo de vontade de consertá-lo — e eu odiava errar, fosse no trabalho, na faculdade, em casa ou com o Kenzo. Só que o Bento era uma exceção. Por mais que ele fosse um erro na minha história, ele era lindo demais para ser deixado de lado.

A única parte que eu queria arrumar era a do acidente da banda. Além de não querer sentir na pele a dor do luto, eu não queria que nenhum dos meninos se machucassem.

Tá, eu vou começar pelo início agora.

Eu e o Bento já íamos completar dois meses de namoro quando o aniversário dele chegou. Bem na véspera do seu dia especial ele me chamou para ter uma conversa particular na garagem de ensaio da banda. Nisso decidiu me falar a verdade e contou que ele nasceu em mil novecentos e setenta, ou seja, completaria vinte e um anos no dia seguinte. Anteriormente ele tinha me dito que possuía dezoito e eu nunca imaginaria que fosse mais velho do que isso. Quando o questionei o motivo pelo qual havia mentido a sua idade, ele alegou que tivesse medo de eu o recusar por eu parecer ter, no máximo, dezoito. Porém quando descobriu a minha idade, ele já tinha falado que ele tinha dezoito, então ficou com vergonha de desmentir naquela hora.

É lógico que eu não fiquei brava com ele. Depois de um mês o namorando, eu percebi que não conseguia mais ficar brava com ele por motivos pequenos.

Bem, o aniversário dele era dia sete de agosto. No dia seis à noite, depois que tivemos essa conversa, ele me perguntou o que eu acharia se ele fizesse algo diferente no dia seguinte. Como o Bento vem de uma família tradicional japonesa, que segue muito à risca a cultura do Japão, era de se esperar que ele não comemorasse o seu aniversário todo ano com uma festa, como os brasileiros costumam fazer. Os japoneses comemoram datas importantes, e vinte e um anos não era algo tão comemorável assim dentro da cultura deles. Vinte anos era, porque marca o início da maioridade. E eu já sabia desde anteriormente que ele ficaria em casa nesse dia e não faria nada demais, porque ele mesmo havia me dito a um mês atrás, aproximadamente.

O que eu não sabia era que ele já estava com um plano na ponta da língua. Quando respondi "faz o que você quiser, acho bom que tente fazer algo novo", ele me contou que já havia sido convencido pelos amigos da banda a ir em uma "resenha" que teria em um sítio de um amigo do Dinho justamente no dia do aniversário do Bento. Novamente, não consegui ficar com raiva dele só estar me contando isso naquele momento. Ele me pediu que eu fosse junto porque estava receoso quanto ao que o Dinho tinha preparado.

Bem, eu estaria pouco me lixando pra essa tal resenha se eu não tivesse passado a arrastar a minha irmã caçula comigo para o passado desde junho. Sim, leitores, eu realmente segui à risca aquilo de levar a Ayumi para aproveitar os anos noventa.

Ela conheceu o Bento e o resto dos meninos da banda Utopia ainda em junho e logo virou amiga de todos eles. Em parte, estava realizada por ter tido a oportunidade de falar com eles, criar um laço de amizade era lucro no ponto de vista dela. Só que eu não podia negar que os meninos influenciaram e muito a minha irmã. Eles gostavam muito de ir à festas e fazer bagunça, enquanto Ayumi sempre foi mais reservada. Depois que os conheceu, passou a acompanhá-los em muitos rolês, e nos que eu ia junto, apenas prestava atenção para que ela não bebesse muito — afinal, ela ainda era menor de idade —, mas não conseguia controlar com o tanto de gente que ela costumava ficar. Se eu for falar de números, posso afirmar que em cada saída a Ayumi pegava mais de cinco pessoas. Foi assim que ela descobriu a sua bissexualidade. Nos anos noventa, época em que tinha um homofóbico a cada esquina, a minha irmã insistia em ir contra os padrões e pegar meninos e meninas durante os rolês que ela dava com a banda.