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Havia uma guerra entre o contraste das cores e o brilho dos cachos abaúla, onde os nós dos longos fios loiros se encontravam.
Raízes mais escuras faziam o contorno de um rosto tão branco, quase invisível aquele sangue que era pulsado dentre suas veias. E no toque suave de seus pés ao chão de terra goticulado pela água da chuva de inverno, chorada por não ter ganhado sua batalha contra a primavera.
Andara até o rio, d’onde surgiram as flores de narciso, enquanto cigarras cantavam a melodia noturna escrita num domingo. Sentara à beira das águas verdes cristalinas. Sua pele branca estava marcada por pequenos traços avermelhados que corria uma volta completa pelos arranhões, já curados pelo tempo, porém o mesmo assinara um contrato de duração aos significados.
Ela a cobria com suas unhas, as garras que a cortavam mais ainda arrancavam sua casca lisa, perfurando-a, até chegar a sua carne apodrecida por causa da vida.
Rezava baixo, pedia misericórdia pelos seus pecados, a pobre menina nunca havia antes se sentido tão solitária e nunca chegara ao ápice do ódio próprio.
O ódio próprio que fazia com que ela mesma deixasse seu sangue escorrer pelos seus braços, até alcançar o rio em que estava. Ali, o seu vermelho misturava-se com a correnteza das águas e nessa fluidez da natureza viva, desaparecia, deixava nem sequer um rastro de quem ela fora um dia.
Conturbada pela póstuma rotina em que, as discussões e assombrações caminhavam e bruscamente gritavam abandalhadas e agitadas sob a fumaça evacuada dos seus lábios, criadas por cada tragada de seu cigarro formaram sua adicta passagem pela terra.
Seu corpo nem sequer sentia mais o frio do inverno e se mesclava com o fundo de pedras deste grande rio, obsevava apenas as pequenas bolhas de ar sumirem enquanto esperava que a morte à abraçasse.
Dizer adeus à vida, assim como o inverno dizia, seria melhor que sobreviver perdendo cada precioso pedaço de si á cada guerra contra sua própria primavera, que sempre conquistava outra vitória, ali mesmo, onde as cigarras, pela noite de inverno cantavam sua última canção e as flores de narciso refloresciam na primeira madrugada de primavera.
362 palavras
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Fábrica de Textos: Lendas Urbanas
HorrorFÁBRICA DE TEXTOS: LENDAS URBANAS __________________________________________ Sinopse: Somos alguns amigos que se uniram e formaram a Fábrica de Textos: um grupo/roda para contar das mais diversas histórias aterrorizantes e horrendas. Cada capítulo d...