Capítulo 2

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Beatrice Fontenelle

Voltar ao trabalho é sempre revitalizante, adoro me enfiar em uma nova obrigação por tempo o bastante para não pensar em mais nada, e isso geralmente funciona como a perfeição, exceto em momentos onde eu sou obrigada a trabalhar em conjunto com a raiz de todas as minhas crises de ansiedade.

— Estamos a horas nisso desde que você voltou e não avançamos em nada.— Ele disse tentando puxar assunto pela milésima vez, mesmo que em todas as tentativas anteriores ele tenha sido cruelmente ignorado por mim.

Geralmente o Marco me dá permissão de trabalhar sozinha até eu mesma decidir que preciso de reforços, mas no caso do Nicco ele simplesmente disse que não iria aceitar isso e que precisava de mim e do Henrique trabalhando em conjunto visto que ele próprio e o Dom andam muito ocupados com outros assuntos da famiglia e com suas famílias também, especialmente agora que a Stella ficou gravida do primeiro filho, o Dom está beirando a loucura com tanta preocupação.

Dio, os homens dessa família ficam insuportavelmente chatos e protetores a cada surgimento de uma nova gestação.

No ciclo intimo do meu irmão, restamos apenas o Henrique e eu com disponibilidade e capacidade o bastante para a função.

— Se fosse fácil ele não seria tão perigoso.— Retruquei simplesmente, torcendo para ter sido efusiva e vaga o bastante para que ele desista de tentar me forçar a conversar com ele.

Dio, ele é tão irritante! Fica fingindo que não tem nenhum problema entre nós quando ele sabe perfeitamente que eu nunca vou ser capaz de perdoa-lo.

Por que ele não me deixa em paz de uma vez?

— Posso te fazer uma pergunta?—Questionou depois de alguns minutos em silêncio, quando eu equivocadamente acreditei que ficaríamos calados, eu concentrada nas possíveis rotas do infeliz e ele em movimentações suspeitas.

— Já está fazendo.—Retruquei ficando sem paciência.

— Então eu mesmo me dou autorização para fazer outra. Como foram os meses que você passou na Escócia?— Henrique perguntou e a frase me forçou a tirar a atenção do mapa para olhar para ele com a testa franzida.

— Você está mesmo tentando conversar comigo sobre a minha viagem?— Questionei completamente desacreditada.

— Responde de uma vez.

— Bom, não foi nada de importante se você quer tanto saber, eu trabalhei mais que qualquer coisa para ajudar o Enzo a ser reinserido em seus compromissos.— Respondi dando de ombros me perguntando se teve alguma coisa de fato memorável naquela temporada, e a verdade é que não , tudo foi tão comum que não fez tanta diferença se eu estava aqui ou lá. 

— E você conheceu alguém lá?— Perguntou forçando um pigarro desconfortável.

Per favore, ele não se importava comigo nesse nível quando decidiu se atracar com aquela loira aguada.

— Está me perguntando se eu fiquei com alguém? Per favore seja mais claro.— Respondi sentindo uma imensa e egoísta satisfação ao imaginar por uma fração de segundos o quanto ele ficou consumido ao me imaginar com outra pessoa.

— É Beatrice, é exatamente isso, será que dá para responder de uma vez?— Realmente o meu irmão não conhece nem um pouco a personalidade dominante do seu chefe da segurança. Henrique sempre foi tão elogiado diante dos membros do conselho por seu controle e sua paciência em momentos onde muitos não a teriam... Perece que a sua " paciência" é um tanto quanto seletiva.

— Nossa Henrique, você costumava ser mais paciente.— Respondi me levantando da cadeira para pegar um  pouco de bebida. O dia está sendo frustrante e extremamente cansativo hoje, eu mereço um alivio mesmo que temporário.

— Responde a droga da pergunta Beatrice, para de tentar me irritar. — Disse ele em um tom de voz deixando claro que sua paciência está no limite, ele nem precisava ter feito isso por que q sua mão em torno do meu braço me puxando para si já era indício o bastante.

— E isso te importa por que?— Perguntei tentando me controlar para não olhar na direção da sua boca ou isso me denunciaria completamente e eu sou orgulhosa demais para isso.

Eu não posso deixar que ele saiba o quanto eu ainda tenho de sentimentos conturbados por ele. Simplesmente não posso.

— Por que você não pode ser de nenhum outro Beatrice, e você sabe disso.— Henrique respondeu aproximando o rosto do meu lentamente, mas interrompeu o seu avanço para cheirar suavemente o meu cabelo.

Ele sempre fazia isso quando estávamos "juntos".

— O que é sei Moretti, é que para todos os efeitos eu sou uma mulher livre.— Retruquei abrindo um sorriso lentamente, me satisfazendo conforme sua expressão de desejo é substituída por uma de puro ódio.

— Você é minha, não importa o que diga.— Depois de ter contemplado a expressão de ódio fervilhando nós olhos do homem a minha frente eu jurei que qualquer resposta que fosse vir seria uma com bastante raiva e talvez, com sorte, até alguns palavrões, no entanto ele acabou me surpreendendo.

Henrique desistiu do caminho da fúria, quando ele respondeu afirmando que eu sou sua seu sorriso foi longo e tranquilo como o de um gato, e isso me deixou intrigada, especialmente quando ele me soltou e voltou aos seus afazeres como se nada tivesse acontecido.

Claro que eu fiquei uns dois minutos parada no mesmo lugar com a cara mais estarrecida possível antes de conseguir voltar ao meu lugar assim como ele o fez.

É óbvio que eu não consegui me concentrar de novo no trabalho mesmo quase batendo a cabeça na mesa durante a tentativa. Minha mente fica dispersando e voltando para a conversa de poucos minutos atrás me deixando irritada no processo.

Depois de alguns minutos pensando a respeito eu vi que não iria conseguir parar de pensar e me concentrar, então deixei o trabalho de lado e fiquei olhando as minhas redes sociais sem me fixar especialmente em nada, apenas passando as publicações e dando um like vez ou outra apenas para enganar o meu cérebro e fazer ele entender que eu quero sim prestar atenção nessas amenidades.

Mas a minha cabeça insiste em voltar para a grande dúvida: o que a mente criativa do Henrique está pensando?

Maldita Perdição - Livro 3 da Série: Família Fontenelle Where stories live. Discover now