Capítulo 34

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Beatrice Fontenelle


— Eu acho que ainda é cedo para vocês serem liberadas daqui, o caso foi grave demais para saírem apenas com um misero mês de internação.— Lucien protestou enquanto eu calço o meu sapato com certa dificuldade.

Henrique se ofereceu para me ajudar em todo processo, mas eu recusei mesmo sabendo que ele só queria deixar tudo mais facil para mim. De qualquer forma eu preciso me sentir util, sentir que não importa o que o Nicco tenha feito, ainda assim ele falhou grandemente como sempre.

— Ah por favor não ajude mais ainda o lado super protetor do seu primo, por ele eu e o Riven ficariamos mais tempo aqui e eu já não aguento mais.— Stella ecoou o tipo de pensamento que eu também tenho.

Sempre odiei hospitais a pesar de durante a infancia ter frequentado muito esse tipo de ambiente. Não que eu fosse muito desastrada, longe disso, mas nos meus primeiros anos de treinamento eu tinha uma facilidade assustadora para quebrar algum osso.

— Estrelinha, você sabe que eu me preocupo, cazzo. Vocês três deviam ficar pelo menos mais umas duas semanas, mas como eu não sou medico não posso interferir.— Dom protestou e aceitou ao mesmo tempo, grazie Dio.

— Eu acho melhor a Bea sair daqui logo, melhor que seja com autorização medica por que ela estava planejando uma fuga caso isso nãoa contecesse logo.— Henrique comentou sorrindo e eu concordei. Muito bom saber que o meu noivo me conhece tão bem ao ponto de saber o que se passa na minha cabeça sem eu precisar nem mesmo abrir a boca.

— Enzo, acabamos atrasando a sua cerimonia, sinto muito.— Achei melhor mudar o foco da conversa por que pelo que eu sei da minha familia a discussão sobre sairmos ou não do hospital seria praticamente interminavel e eu definitivamente não quero ouvir isso.

Per Dio, os medicos são de extrema competencia, e além disso nossa familia mantem esse lugar funcionando, todos os medicos do concelho geral de medicina daqui sabem quais são as reais atividades da nossa familia, nenhum deles vai querer que algum de nós venha acertar as contas.

— Não tem problema prima, o importante é estarem bem. De certa forma foi até bom, eu continuei a minha fisioterapia e pude ver que é uma grande perca de tempo. A cerimonia ficou para a proxima quinzena.— Ele despejou de uma vez me fazendo ficar confusa.

Ele ficou muito distante e estranho depois que voltou do cativeiro, não era para menos é claro, mas uma das poucas coisas que ainda o deixavam empolgado era a fisioterapia.

— Por que diz isso?— Ana perguntou cruzando os braços.

Meus pais, meu tio e a Rute ficaram de babás hoje do Rael e da Stacy, ao que parece os dois irmãos estão se estranhando com muita frequencia utilmamente e preciasam aprender a lidar bem um com o outro. Segundo a Ana se eles não fizerem isso por bem ela vai trancar os dois em um armario da dispensa para serem obrigados a se darem bem, como eu e o Marco.

Se ela soubesse a quantidade de vezes que o seu marido levou pontos por que eu o machuquei...

Ele quebrou o meu dedo uma vez também, mas eu convenientemente sempre me esqueço dessa parte.

— Por que eu já fui em quinze medicos diferentes Ana, e todos eles dizem a mesma coisa. Os danos são permanentes, existem coisas que eu não posso mais fazer sozinho e coisas que eu não tenho a capacidade de fazer de forma nenhuma. Fora que movimentos mais precisos e que exigem mais do meu corpo eu sempre vou sentir uma certa dor e uma resistencia do meu corpo lutando contra. Para resumir eu nunca mais vou ser o que eu era antes, é isso ai, Nicco não ganhou a guerra mas a lutacontra mim ele venceu com certeza.— Enzo respondeu dando de ombros tentando fingir que não se importa tanto com a sua atual situação.

Foi ai que eu desci um pouco o olhar para a mão esquerda dele e notei algo que eu ainda não tinha visto.

Eu não fui rapida o bastante para desviar o olhar antes dele perceber que eu o estava fazendo.

Meu primo sorriu amargamente.

— Ah é, quase me esqueci do meu mais novo acessorio, sempre que eu fizer "esforço demais" eu preciso recorrer a humilhação de me apoiar nessa bengala aqui por que a porcaria do meu corpo esqueceu que eu fui treinado para ser uma arma.— Respondeu gesticulando com a bengala de cima para baixo algumas vezes, mas voltou a coloca-la no chão rapidamente quando sua perna cedeu e ele quase caiu.

Lucien se aproximou para apoiar o irmão, mas foi repelido imediatamente.

— Você sabe que eu não gosto que me trate como um invalido, eu sei me virar.— Enzo repreendeu e Lucien assentiu com a cabeça.

— Desculpe, estava tentando ajudar.— Disse levantando as mãos em sinal de rendição.

—Então não tente.— Dito isso Enzo deu meia volta e saiu do meu quarto, onde ainda estamos todos amontoados esperando a nossa alta ser assinada.

— Não liguem para isso pessoal, ele anda muito irritadiço ultimamente mas ele está tentando parar.— Lucien tentou defender o gemeo e sinceramente, isso não era nem necessario.

Acompanhamos de perto a recuperação do Domenico quando ele tinha sido capturado e comparando com o Enzo eu consigo ver que cada um tem uma forma de reagir, mas a cobrança com suas capacidades de antes do ocorrido funcionam como um parametro geral.

Dom se culpava diariamente pela "morte" do Enzo, mas a xobrança para que voltasse a ser o que era antes mesmo sabendo que era impossivel também o atormentava de maneira recorrente.

O Enzo não carrega culpa nenhuma, apenas uma raiva emaranhada em seu ser. Odeio o Nicco pelo que fez a ele, simplesmente odeio.

Meu primo costumava ser brincalhão e sorridente, e agora até mesmo o brilho de seus olhos estão completamente apagados, sem nenhum sinal de que isso seja apenas algo passageiro.

— Acha que ele vai melhorar?— Stella perguntou se sentando na poltrona embalando seu filho, meu lindissimo afilhado em seus braços.

— Bom, o Domenico melhorou, não foi?— Marco disse olhando para o nosso primo em questão, que prontamente concordou olhando para a esposa.

— Stella foi a responsavel por isso, e claro que o fato d oEnzo ter sobrevivido me ajudou muito também.— Ele respondeu sorrindo.

— Certo, então a solução é casar o meu irmão. Alguem tem uma noiva para ele ai no bolso? Não? Que pena então, vamos continuar procurando.— Lucien fez uma brincadeirinha super tosca, mas a verdade é que eu acho que se ele ao menos se interessar um pouco por alguem pode se concentrar em outra coisa que não seja trabalho ou sua debilidade fisica no momento.

Ele é muito capaz, sei que vai aprender a lidar com sua nova condição e vai se superar, por que ele está errado em pensar que o Nicco venceu a batalha contra ele.

Enzo é mais forte que isso.

— Talvez não seja uma má ideia.— Ponderei baixinho.

— Espera, e isso foi uma ideia?— Lucien questionou com os olhos arregalados me fazendo rir.

Sim, foi sim.

Maldita Perdição - Livro 3 da Série: Família Fontenelle Where stories live. Discover now