Capítulo 22

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Henrique Moretti

Chegamos na casa do Marco bem rápido depois que chegamos finalmente em solo Italiano. A viagem pareceu levar o dobro do tempo e o quíntuplo da dificuldade.

Precisei de um esforço sobre-humano para falar daquela forma com a Beatrice, e só Dio sabe o quanto aquelas palavras ainda estão me doendo, especialmente por que meu coração deu diversos saltos dentro do peito quando ela disse finalmente que me ama, mas eu não pude me permitir fazer nada a respeito.

Todo o tempo em que passei na companhia da Angélica foi bem útil por que ela foi a responsável por montar essa técnica visto que as minhas tentativas se mostraram infrutíferas por longos três anos. Em poucos dias seguindo os seus concelhos eu já pude notar resultados, inclusive uma baita crise de ciúmes.

Justamente por conta dos resultados mais concretos é que eu sigo me obrigando com firmeza a rejeita-la cada vez mais, por que essa vai ser a forma dela saber que pode me perder e ai sim vai valorizar o meu amor por ela.

Espero que não demore muito para que isso aconteça, estou coma minha sanidade por um fio cada dia mais precário por me obrigar a ficar longe dela. É torturante.

Mas o foco principal agora é outro.

Nós dois entramos na casa do Marco ás pressas dando de cara com uma cena muito confusa para todos que a vissem de primeiro impacto.

Marco está sentado no sofá com a esposa em seu colo desacordada, pressionando um pano que deveria ser branco completamente ensanguentado pressionado contra a cabeça da mulher. Os pais do capo estão consolando os netos respectivamente.

Do outro lado do sofá está o Domenico, sub-chefe da famiglia com a cabeça baixa, imerso em seus próprios pesadelos enquanto lagrimas rolam copiosamente em seu rosto. Seu pai está dividido entre o próprio desespero e a obrigação de consolar e acalmar o filho. 

Me perguntei sobre a Rute, mas logo ela apareceu com uma bandeja de chá de camomila para servir a todos.

Foi tudo o que foi necessário para eu perceber que chegamos tarde demais, o Nicco levou a Stella.

— A Stella...— Beatrice com a voz fraca e tensa começou a falar, mas se interrompeu temendo qualquer que possa ser a resposta.

— Elas foram para a consulta, mas foram interceptadas no meio do caminho. Não sabemos o que aconteceu direito ainda, meus soldados encontraram a Ana desacordada e bem machucada no chão no meio da estrada, ela ainda não acordou.— Marco respondeu sem tirar os olhos da sua esposa desacordada. É nitida  a preocupação em seus olhos, mesmo que esteja tentando se conter por saber que dos males o menor é sua esposa estar desacordada.

Ao menos ela está aqui, diferente da Stella.

— A mamma vai morrer? — Rael perguntou voltando a chorar. O pobre garotinho colocou a cabeça no ombro do nono sendo acalmado pelo mesmo.

— Claro que não piccolo, sua mamma está dormindo, só isso.— Senhor Giuseppe tentou argumentar com o neto quando viu que o seu filho não o faria.

— Melhor levar eles para o quarto, querido.— A senhora Natasha sugeriu e o marido aceitou prontamente. Mesmo que a familia não seja o maior exemplo de normalidade do mundo eles sempre tentam proteger suas crianças a todo custo, e essa definitivamente não é uma cena que eles achem certo que crianças presenciem.

— Eles fizeram algum contato? Tentaram rastrear?— Perguntei amparando a Bea que está muito aflita.

Ela é bem contida em momentos de estresse amplo, mas eu entendo que ela precise de um tempo para colocar as ideias no lugar.

— Nenhum contato ainda, já estamos tentando rastrear, minha equipe de inteligência está empenhada nisso.— Marco respondeu ainda sem tirar os olhos da Ana.

Se eu fosse ele chamaria um medico por que pela quantidade de sangue que esta sujando o pano que deveria ser branco a poucos minutos atrás, ela certamente está com um machucado bastante profundo na cabeça.

— Santo Dio, ele está com a minha Estrelinha. Com o meu filho.— Domenico lamentou em voz alta desde que chegamos.

Seu desespero é perceptível em sua voz, e obviamente em suas lagrimas. Não consigo me imaginar vivendo o pesadelo que ele deve estar passando agora.

Per Dio, o homem não tem um momento de paz. 

Foi ameaçado por tempos, sequestrado, torturado, carregou nas costas o peso da morte do primo e nunca aceitava ser feliz plenamente até o momento em que esse primo em questão apareceu vivo. E agora que ele está casado com a mulher que sempre amou e está prestes a se tornar pai , ele estava vivendo aparentemente o melhor sonho de todos, e de repente uma coisa dessas acontece e ele se vê perdido, sendo obrigado a imaginar a vida sem suas razões para seguir vivendo.

— Eles estão bem filho, a Stella é forte e vamos encontra-la logo.— Senhor Tom disse tentando confortar ao filho e a si mesmo.

— Prometi que ela nunca mais passaria por nada de ruim na vida, e fracassei. Não posso viver sem ela pai, sem ela e sem o meu filho.—O desespero do Domenico está sendo o bastante para me deixar a beira de um colapso  nervoso.

Eu preciso encontrar a Stella, preciso trazer eles de volta a salvo para os braços do Domenico.

Preciso conseguir isso rapidamente, per Dio, a Stella está prestes a ganhar bebê, ela precisa ser protegida.

O Nicco é tão maníaco e desgraçado que esperou até a gravidez dela chegar nesse estagio para agir por que ele sabia que ela não conseguiria revidar.

— Vou trazer eles de volta para você Domenico, eu juro. Você vai ter a sua família do seu lado de novo.— Falei e prometi algo que sinceramente eu não faço a mínima ideia se vou conseguir cumprir, mas eu precisava me comprometer a fazer algo em prol do bem deles.

Mesmo que custe a minha vida, eu vou conseguir encontrar o Nicco.

— Se eles não sobreviverem... Eu também não vou.— Foi a ultima coisa que o homem falou e eu preciso admitir que não me restaram duvidas de que ele falou sério, suas palavras me causaram o frio na minha coluna.

Vou fazer todo possível para que isso não aconteça.

Se chegar no extremo de precisar escolher quem vive e quem morre... a escolha vai precisar ser feita rapidamente.

Olhei para a Beatrice pelo canto do olho.

Eles tem muito mais a perder do que eu.

Então se chegar ao ponto de escolher pela morte de algum de nós, terei que ser eu. Um sacrifício de sangue grande o bastante para que o Domenico e o Marco sejam felizes com suas esposas e filhos.

Não quero que chegue a tanto, eu também quero ter esse tipo de felicidade na vida com a minha Bea, mas se chegar eu vou precisar pensar nas pessoas que já tem isso.

Maldita Perdição - Livro 3 da Série: Família Fontenelle Where stories live. Discover now