Capítulo 19

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Henrique Moretti


— Eu jurava que ela iria me bater.— Angélica comentou rindo depois que estacionamos o carro em frente a sua casa.

Eu e ela realmente visitamos o segundo galpão, o Marco já está ficando sem paciência e isso não é bom.

— Te bater não seria o bastante para ela, a Bea só ficaria satisfeita se te matasse.— Retruquei prendendo o riso, eu estou absolutamente contente por estar criando essa amizade inesperada com ela.

Ter com quem conversar abertamente sobre os meus conflitos me ajuda a imaginar menos e prestar mais atenção nos detalhes.

Hoje mesmo eu consegui ver que a minha relação  com a Bea não está totalmente perdida, na verdade bem ao oposto disso uma vez que ela sentiu tanto ciúme ao ver outra mulher supostamente interessada em mim.

— Acha que ela já chegou?— Angélica perguntou me olhando e eu meneei com a cabeça indicando que não faço a menor ideia. Beatrice é incrível, mas é impossível tentar antecipar seus passos.

— Vou subir para tomar um banho e depois pergunto ao seu irmão.— Avisei já me afastando em direção a escada.

Aproveitei para mandar uma mensagem para o Marco informando que amanhã vamos ao ultimo galpão, e com sorte encontraremos algum rastro do Nicco por lá. Não esperei para ver a mensagem, conhecendo ele da forma que conheço sei perfeitamente que ele vai falar que é bom que encontremos realmente, por que caso contrario é melhor nem voltarmos para casa logo.

Tomei banho rapidamente e depois de me vestir abri a porta de ligação do meu quarto com o da Bea para ver se ela já chegou, franzi a testa ao constatar que na verdade ela ainda não está aqui.

Estranho, já era para ela ter chegado a tempos, mesmo que tenha vindo andando.

Desci as escadas e na sala encontrei exatamente quem eu queria, o Thiago. Ele certamente saberá se ela tiver em algum lugar da casa, caso não esteja vai ser um bom momento para começar a me preocupar com o paradeiro dela.

— Thiago, boa tarde, você sabe onde a Beatrice está?— Perguntei interrompendo a leitura do homem. Bom, saber onde a minha maluquinha está é mais importante do que um monte de palavras em uma folha.

— Não, mas se ela estiver tentando se esconder é possível que esteja no Píer da cidade, fica sempre vazio.— Ele me informou e eu assenti me perguntando se deveria ir atrás dela ou se isso estragaria completamente os meus planos de dobrar ela.

Para que possa dar certo é preciso que ela realmente acredite que me perdeu e que a minha decisão não tem mais volta, quanto mais ela acreditar nisso mais as chances dela querer ficar comigo de uma vez por  todas se torna real. E é isso que eu quero.

Infelizmente vai ter que ser as custas do sofrimento dela, mas eu tentei desesperadamente ao longo de mais de três anos fazer isso de uma forma romântica e heroica, como fui rudemente ignorado e pisado no processo precisei mudar a minha área de ataque.

Decidi por fim fingir que não me preocupo com o seu paradeiro, enviei apenas uma mensagem dizendo " Esteja pronta amanha ás 7h para irmos ao ultimo galpão ou iremos sem você". Curto e grosso, como diria a Ana se estivesse aqui.

Depois eu segui para as dependências do centro de treinamento aqui ao lado, ando descuidando muito dos meus treinamentos avançados e não posso me dar ao luxo de fazer isso, tenho a estranha se4nsação de que muito em breve minhas habilidades precisarão ser exploradas com afinco, então é melhor estar pronto.

Tirei a camisa para conseguir atingir uma maior mobilidade e comecei. Primeiro testei meus reflexos lançando adagas de uma distância considerável, depois passei para o nível mais difícil onde ponho uma venda em meus olhos para aguçar os outro sentidos. Estou tentando implementar essa habilidade no treinamento de toda a equipe na Itália, mas para ser sincero e completamente honesto os resultados não tem sido dos melhores.

Os soldados são muito afoitos e tentam sempre agir desnecessariamente com a força bruta, mesmo quando eu digo infindáveis vezes que esse treinamento em especifico conta muito mais com a arte da inteligência e da atenção, como eles decidiram que eu, mesmo sendo o chefe da segurança, estou completamente errado acabaram se machucando e levando alguns pontos no processo.

Azar o deles, vão continuar se machucando até que comecem a agir da forma que se deve. Ou até que um deles morra por sua burrice. Se for assim eu torço abertamente para que a vitima fatal seja justamente aquele soldado em particular que ousou tocar na Beatrice naquela festa da família que nós fomos como representantes.

Ainda o castigo diariamente, mas não me parece o suficiente para o tamanho da ofensa.

Quando me dei conta já passa das sete da noite, um bom momento para encerrar o treinamento e ir comer algo antes de dormir.

O dia foi muito cheio e cansativo, preciso dormir o mais cedo possível.

Como se por obra do destino quando entrei em casa foi o mesmo momento em que Beatrice passou pela porta de entrada. Meu coração deu um salto dentro do peito ao vê-la, mas o senti se partir lentamente ao me dar conta de seus olhos vermelhos indicando que passou as ultimas horas chorando.

— Você está bem?— Não resisti e perguntei depois de um longo tempo presos um no olhar do outro.

Per Dio, Beatrice! Desista de fingir que não me ama para que eu possa te abraçar logo, cazzo!

— Como se você se importasse.— Retrucou enxugando o rosto que já começa a ficar novamente inundado.

— Se estou perguntando é por que me importo.— Respondi deixando por um tempo a minha mascara de distancia e indiferença de lado.

— Não, Henrique, você se importava, agora só se importa com aquela vaca.— Respondeu cruzando os braços, tal qual uma criança birrenta e muito fofa.

— Para Bea, eu só estou fazendo o que você queria. Te deixando em paz. — Falei dando de ombros voltando ao meu comportamento habitual das ultimas semanas.

Foco, Henrique.

— Não, o que você está fazendo é ficar se atracando com aquelazinha por ai. Foi isso que ficaram fazendo quando eu saí do galpão, não foi?— Perguntou um pouco alto demais me dando a leve impressão de que a própria Angélica pode ter ouvido a Bea falando dela dessa forma.

Não me importei, vou fazer ela se sentir ainda mais incomodada e com ainda mais ciúmes, quem sabe assim ela decide que orgulho não é nada perto do amor.

— E se for? Você me dispensou com todas as letras e eu respeitei o que você queria, qual o problema de eu me envolver com outra pessoa então?— Perguntei esperando uma resposta agradável, mesmo sabendo que ela precisa vencer a si mesma antes disso realmente acontecer.

— Não é isso que eu quero.— Disse baixinho olhando para baixo.

Andei como um gato até ela, passadas lentas e cautelosas.

Ergui seu rosto para que me olhe nos olhos.

— E o que é que você quer?— Beatrice conseguiu permanecer parada no mesmo lugar por longos cinco minutos, depois as pernas tremeram e ela simplesmente saiu correndo para o andar de cima.

— Foi o que eu pensei.— Falei para mim mesmo satisfeito com o resultado. Por hora.



Maldita Perdição - Livro 3 da Série: Família Fontenelle Where stories live. Discover now