capítulo 28

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Henrique Moretti

— Enfia o pé nesse acelerador cacete! Que inferno, não sabe dirigir sem o cazzo do pé no freio? Comprou a droga da sua carteira?— Gritei com o Marco que está dirigindo mesmo estando com as mãos sujas de sangue e em pleno desespero.

Boa parte o sangue da Beatrice.

Faz alguns minutos que tudo aconteceu, apagamos o Nicco com uma coronhada e o colocamos no porta malas do carro, depois colocamos a Stella que também está em situação crítica, e seu filho em um dos carros acompanhada do Lucien e do Enzo que logo trataram de avisar a família que estamos indo ao hospital.

E no outro carro estamos eu, Marco e a Beatrice com o pulso muito, muito fraco. O que mais me apavora é que ela está ficando muito gelada.

— Eu já estou no máximo de velocidade que o carro permite, quer que a gente saia voando?— Marco gritou de volta, mas eu não me importei.

Não me importo com nada desde que ela ficou completamente imóvel na minha frente.

Ela levou um tiro por minha causa, para me manter a salvo.

O hospital parece não chegar nunca e eu já estou ficando completamente maluco de tanto nervosismo.

Coloquei a Beatrice deitada no meu colo para ter a confortável ilusão de que estou fazendo algo por ela, algo para manter ela aqui comigo.

Viva.

— Per favore Beatrice.— Sussurrei para ela segurando sua mão com as minhas. — Você não pode fazer isso comigo, não pode.

Lágrimas começaram a rolar pelo meu rosto incontrolavelmente, não me incomodei em esconder ou em controlar meu sentimento, meu desespero e o meu sofrimento, percebi que o Marco ficou curioso com tanta reação emotiva de minha parte, mas não perguntou nada. Ele é inteligente o bastante para saber que agora não é hora para isso.

Por sorte a rodovia esvaziou, Marco conseguiu avançar quase voando pela estrada finalmente, estou apavorado de medo do que pode acontecer, Beatrice está imóvel e cada vez mais fria. Como se dançasse sobre o véu dos dois mundos, o dos vivos e dos mortos.

— Chegamos, espera que eu já vou pegar ela.— Ele disse dando a volta no carro, uma pena para ele que seja tempo perdido, não vou desgrudar da minha mulher até que esteja fora de perigo.

Desci do carro com ela nos braços e entrei correndo, completamente aflito dentro do hospital. Não precisei falar muito, o estado dela já é informação mais que o bastante.

Rapidamente trouxeram uma maca e a levaram para uma sala de emergência.

Me encostei na parede procurando ar para preencher os meus pulmões, as pessoas a minha volta não passam de meros borrões desconexos. Eu sei que vi o Domenico tão transtornado quanto eu, tenho quase certeza de que vi o pai dele e os pais da Bea também, mas meu corpo clama por uma crise intensa de choro.

Escorreguei na parede até o chão e abracei minhas proprias pernas para chorar feito uma criança.

— Dio, eu nunca fui credulo, nunca me dei ao trabalho de rezar para qualquer coisa que seja, mas eu acho que não existe momento mais certo que esses para fazer a minha primeira prece. Per favore não a tire de mim, não a tire de mim. Eu não posso seguir a minha vida sem ela e ela esteve pronta para sacrificar a vida dela por mim. Dio, eu não espero e nem desejo nada mais que ela aqui comigo então per favore, se está me ouvindo tras ela de volta. — Sussurrei contra a minha perna, pedindo por tudo o que é mais sagrado que Dio faça um milagre, por que eu não vejo outra força que possa fazê-lo.

— Henrique?— Lucien me chamou com delicadeza, como se estivesse desarmando uma bomba e não chamando um amigo.

— O que aconteceu?— Perguntei com medo de qualquer noticia que eu possa ter perdido enquanto estava fazendo a minha prece. A minha tentativa desesperada.

— Sem noticias sobre a Beatrice ainda, estão tentando estabilizar o maximo antes de colocar ela para fazer uma cirurgia, mas a Stella vai entrar em cirurgia agora e o medico quer falar com toda a familia. Vamos.—Ele me estendeu a mão e eu aceitei.

Se eles me querem junto como parte disso, eu devo estar lá.

Sequei os olhos e me juntei a todos, que por incrível que pareça estavam mesmo apenas me esperando.

— Bom, a senhora Fontenelle está entrando em cirurgia agora, constatamos uma infecção bacteriana forte, presença de tetano por que o material usando para cortar a barriga dela estava enferrujado assim como os grampos, além disso existe a presença de uma hemorragia interna que precisa ser urgentemente controlada, ela possivelmente vai precisar de transfusão de sangue.— Domenico sedeu na cadeira atras de si completamente, se sentindo importente por não poder fazer nada por sua esposa.

— Preciso que o marido dela assine esse termo de responsabilidade.— O medico complementou olhando para o Dom.

— Por que?— Perguntou aceitando o documento, mas o rejeitando em seguida ao ler as palavras "risco de morte".

— Por favor, entenda senhor, não podemos nos responsabilizar caso o pior ocorra, e ela não vai ser operada enquanto esse termo não for assinado.— O homem avisou e Domenico se dividiu entre chorar e gritar, sem saber qual a decisão que ele deveria tomar com certeza.

— Assina, ela é forte e vai sobreviver a cirurgia.— Lucien tentou e meio que no piloto automatico o Domenico assinou a permissão.

— Otimo.— Foi tudo o que o medico disse antes de começar um furdunço não previsto dentro do hospital. Pessoas, mais precisamente medicos e infermeiros, correndo de um lado para o outro, todos indos no fim para a mesma sala.

— Peguem o desfribilador, rapido! — Ouvi gritarem de dentro da sala.

Não sei explicar, mas me senti sendo chamado naquela direção e eu não me neguei a segui-lo.

Passo apos passo, andando cautelozamente como se estivesse caçando, mas ainda assim não fui lento o bastante.

— Estamos perdendo ela! Mais potência no desflibilador!— Ouvi novamente e continuei andando até chegar no vidro da porta.

— Sinais vitais caíram ainda mais, maximo de força agora!— A mesma voz disse, mas dessa vez eu pude ver.

A voz veio de um medico com um desflibilador na mão, ele estava na frente da pessoa que estava tentando reanimar, mas se afastou um pouco antes de dar mais um choque para fazer o coração voltar a bater.

Meu peito foi destroçado de uma forma brutal e eu não conseguir ficar quieto.

Eu precisava salvar ela.

— BEATRICEEE!— Gritei por ela, berrei para que lutasse pela vida e por nós dois, mas o Enzo e o Tom me seguraram e me arrastaram para me tirar de perto daquela cena.

Da cena onde eu perco de uma vez por todas o amor da minha vida.









Gente, desculpem não estar bom, mas eu perdi o meu avô na madrugada de domingo para segunda, eu não estou bem, mas não queria deixar vocês sem capitulo. É isso, volto com mais um BEM TRISTE ( mas não se desesperem, vai dar tudo certo) logo. amo vcs

Maldita Perdição - Livro 3 da Série: Família Fontenelle Onde as histórias ganham vida. Descobre agora