Capítulo 26

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Henrique Moretti


Acordei pouco disposto.

Para ser bem sincero eu mal preguei os olhos durante toda a noite repassando os acontecimentos passados. A minha mente não parou nem por um segundo e coisas ridiculas começaram a invadir a minha cabeça.

A Beatrice sente vergonha de mim? Se sim, por qual razão?

Cazzo, eu não sou um capo nem um subchefe como seu irmão e seu primo, mas também não sou pouca coisa!

Eu sei que ela me ama, acho que ela tem medo de assumir para a familia que eu e ela estamos juntos pelo simples fato de termos sido um segredo por tempo demais. Mas o que ela tem que entender é que ninguem tem nada haver com isso, cazzo ninguem vai se importar!

Marco não vai se voltar contra ela por ter se apaixonado santo Dio, ele mesmo sabe como as coisas acontecem sem esperarmos, mas o meu pescoço pode sim ficar a premio se as coisas não forem feitas da forma certa.

Me recuso a ceitar migalhas de novo, e se ela continuar querendo fazer tudo as escondidas então mesmo que isso me arranque o coração do peito, eu vou abrir mão dela e dessa vez para sempre.

— Me deixa ir, Henrique.— Domenico pediu segurando o meu braço enquanto estamos todos indo ao resgate de sua esposa e filho.

Eu o deixaria ir se achasse que isso não nos colocaria em um grande risco iminente, mas como não é esse o caso não vou arriscar.

— Sinto muito, mas é melhor você ficar em casa esperando noticias.— Retruquei e ele parece ter compreendido a pesar de não ter ficado nada contente com isso.

Entrei no primeiro carro e esperei todos os outros se acomodarem também, estou cansado e um pouco disperso mas não podia faltar  a missão de maneira nenhuma, e de qualquer forma toda e qualquer missão oferece seus riscos, não é como se eu não soubesse disso ou não tivesse passado por algo assim antes.

— Cara, alguem me explica como que sempre um de nós acaba tendo que ser resgatado?— Lucien perguntou entrando no mesmo carro que eu, acomodando uma metralhadora entre as pernas. Eu disse a ele que não deveria trazer aqui, que armas grandes deveriam ir no carro de apoio, mas ele argumentou que é sua metralhadora de estimação e tinha que ir com ele.

Obviamente perdi a discussão.

— Talvez seja por que todos tem o desejo incontrolável de nos matar ou de nos mutilar.— Enzo retrucou forçando um sorriso em resposta ao irmão. Eu acho interessante o tipo de humor que eles tem, sinceramente.

— Podem causar danos, mas no matar? Isso nunca!— Marco complementou a brincadeira depois de se despedir da sua esposa, seus pais e seus filhos.

Fico nervoso por saber que ele é quem mais tem o que perder nessa empreitada, precisa ser protegido mesmo que não concorde.

Ele decidiu ir dirigindo e eu não me opus, preciso desse tempo para trentar vizualizar como vai ser quando chegarmos lá.

Não sei o motivo, mas estou sentindo que devo estar preparado para o pior. Se for algo comigo eu sinceramente não me importo, afinal não tenho familia e a mulher que eu amo não quer que o nosso relacionamento seja publico, mas se for algo com algum deles... Eu nunca me perdoaria.

— Parem de brincar com isso, a missão é coisa seria e o Nicco não está para brincadeiras. A essa altura matar qualquer um de nós já seria de bom tamanho para ele.— Beartrice ecoou o meu pensamento depois de bater a porta do carro.

Que otimo, então vamos nós cinco no mesmo carro, que coisa mais confortável.

Fiquei em silêncio.

— Deixa de ser chata prima, aqui somos todos imortais.— Enzo respondeu lhe dando um empurrão de leve.

Imortais, sei. Ele mesmo esteve a beira da morte e não parece se importar muito em morrer de verdade.

O Domenico também. E agora a Stella.

Começamos a dirigir segundo as coordenadas do mapa, escolhemos o carro mais silencioso para este momento por que eu estou contando com o elemento surpresa, dessa forma conseguimos abater soldados antes que tenham tempo para revidar.

Assim espero.

— Pronto, vocês três subam para aquele declive ali, e não tirem os olhos da casa, vou precisar que vocês usem silenciadores para não serem descobertos, mas matem qualquer um que sair de dentro da casa.—  Dei as ordens para os soldados assim que nós entramos em meio a area arborizada, completamente seguros  e encobertos pela vegetação.

Fui para o carro de apoio e peguei as minhas armas e munições, aproveitei para prender algumas facas nos meus sapatos para o caso de um confronto corpo a corpo não previsto.

—  Marco, Enzo e eu vamos pela porta da frente, Lucien e Beatrice pela porta dos fundos, estão com um homem a menos então tenham o dobro da atenção. Todos prontos? Lembrem de não atirar caso a Stella esteja em linha de fogo.—  Instrui todos eles apontando nas direções para onde devem ir. Algo ruim começou a inundar o meu corpo e eu me esforcei para afastar a sensação de perigo iminente.

O que há de errado comigo? Eu nunca tive medo de missões antes, não posso começar agora.

— Eu cuido da Bea.—  Lucien me afirmou e eu assenti precisando confiar que assim será feito.

—  E de você quem cuida?—  Beatrice questionou debochada, como se não precisasse ser cuidada pelo primo, coisa que eu obviamente discordo.

—  Você, é claro.—  Respondeu dando de ombros despreocupado enquanto segura firmemente a sua metralhadora de estimação.

—  Não temos tempo a perder, andem logo.—  Reclamei fazendo todos sairem andando para os seus postos.

—  Ele é irritadinho, né? Nunca tinha reparado.—  Marco gracejou descendo a ribanceira.

Eu ia fazendo o mesmo, mas Beatrice me segurou e me fez parar depois que todos os outros já estavam relativamente longe.

—  Toma cuidado, ta bem?—  Pediu com a voz baixa e isso me irritou, pareceu que mesmo com eles estando longe demais para ouvir mesmo em tom de voz normal, ela quis assegurar ainda mais o segredo.

—  Você não se importaria nem se eu saisse morto daqui Beatrice, não precisa fingir.— Restruquei sentindo o gosto amargo das palavras.

— Henrique, eu amo você, quei nferno! Quando você vai entender isso?— Elevou um pouco mais a voz irritada com o que eu disse.

Infelizmente, ou felizmente eu não posso e nem quero dar atenção a isso agora.

— Quando você não tiver medo de mostrar que isso é verdade, que o que você sente é verdade.—Respondi e segui os outros sem dar a ela a oportunidade de falar mais nada.

Se eu sobreviver, quero que ela decida mostrar o que sente por que eu cancei de migalhas.

Maldita Perdição - Livro 3 da Série: Família Fontenelle Onde as histórias ganham vida. Descobre agora