capítulo 7

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Beatrice Fontenelle

— Nossa Stella, sua barriga já está tão linda.— Comentei passando a mão levemente pela protuberância já formada na barriga da minha amiga.

A Stella está vivendo o próprio conto de fadas e isso é incrível, ela merece isso mais que qualquer outra pessoa se formos analisar toda a sua história de vida.

A garota foi abandonada pela mãe, agredida e mantida presa pelo próprio pai e quando tudo isso não pareceu o bastante o miserável simplesmente a entregou para um destino terrível, pior que a morte em minha opinião, apenas para se livrar de uma dívida imensa.

Gazie Dio que ela acabou indo parar no mesmo cativeiro que o Dom e assim pudemos resgatar os dois e tomar conhecimento do que foi feito a Stella. Assim nós conseguimos fazer justiça por ela.

A nossa justiça.

Se eu tivesse vivido tudo o que ela viveu, certamente não seria uma pessoa tão doce e iluminada quanto ela é, até hoje me surpreende o fato dela ser assim.

Até mesmo quando o meu primo errou com ela, escondendo que tinha uma outra pessoa a Stella foi capaz de ouvir e perdoar, mesmo que o Dom não tenha tentado se safar da história, ele assumiu o seu erro e esperou pelo seu perdão... E ela o deu.

É instintivo comparar essa situação com a minha de anos atrás, mas uma das grandes diferenças é que eu não sou a Stella e e a outra é que era visível para qualquer um que tivesse olhos enxergar o quando o meu primo já a amava e que esse segredo sobre a outra mulher foi apenas um percalço que os dois conseguiram superar com perfeição.

Eu não conseguiria.

Além disso, a outra parte da minha história simplesmente não merece ser ouvida e muito menos perdoada.

— Eu estou tão contente minha amiga, o bebê está crescendo saudável e forte e o Dom está mais protetor do que nunca antes.— Ela disse com as bochechas coradas enquanto acaricia a própria barriga.

Era esse o tipo de relação que eu esperava construir, caramba.

— Ele tem toda razão nisso, especialmente por que o perigo ainda está a solta.— Preferi não dizer o nome do referido pedido, afinal segundo as consultas médicas que eu fui junto com a Ana durante a gestação do Rael os bebês, mesmo que na barriga e ainda muito pequenos podem absorver tudo ao seu redor, desde então eu todo todo cuidado com o que eu digo perto de qualquer mulher grávida.

Dio me livre de ser a responsável por encher o pequeno pestinha de sentimentos ruins antes da hora.

— Você acha que ele ainda vai vir atrás de mim? Ele disse que viria.— Stella questionou e não precisa ser um gênio para perceber o medo em cada uma de suas palavras.

É claro que eu acredito que ele venha, todos nós acreditamos ou caso contrário ele não seria uma ameaça tão grande, mas eu não posso mesmo preocupar uma grávida mais que o necessário.

— Se ele vier, estaremos prontos para ele, não se preocupe.— Respondi e me levantei do sofá de sua casa, vim aqui para fazer uma visita rápida por que desde que cheguei de viagem a longos dois meses que não a vejo. Dom não deixa ela sair de casa sem ele e ele está trabalhando feito um condenado com o meu irmão.

Precisei eu mesma fazer uma visitinha.

— Agora preciso ir, vou treinar um pouco e depois preciso tentar ver se encontro algum rastro novamente.— Avisei já me despedindo dela sem dar tempo para que ela também se despeça.

Eu sei que a Stella não iria querer me deixar ir embora agora, então melhor ser rápida e sorrateira.

Passei pela porta da casa distraída pensando se vou mesmo para o centro de treinamento no porão da casa do Marco hoje, chegaram novos equipamentos e eu queria muito testa-los, mas não estou com tanto ânimo para isso hoje.

Consegui dar exatos três passos antes de ser puxada pelo braço e chocar o corpo contra algo forte e importante.

Henrique.

— Ótimo, agora evoluímos ao ponto de você ficar de tocaia me esperando na rua, parabéns.— Comentei colocando meus braços entre mim e ele para manter um pouco de distância.

— Não estava de tocaia, eu estava passando e vi você saindo da casa do Domenico.— Ele respondeu me apertando ainda mais contra ele com força.

— Certo, vou fingir que acredito em você. O que você quer?— Perguntei ainda tentando me soltar.

Tudo bem, eu não estou me esforçando tanto para conseguir atingir o meu objetivo.

— Vim te dar uma notícia minha deusa.— Disse usando o apelido pelo qual ele me chamava quando estávamos juntos.

— Que notícia?— Questionei fingindo não ter percebido o uso do apelido.

— A festa da famiglia desse sábado, nós dois vamos representando o seu irmão e a sua cunhada.— Respondeu com um sorriso presunçoso no rosto.

Precisei gargalhar. Ele acha mesmo que eu vou acreditar que o Marco me comprometeria sem falar comigo antes?

Duvido.

— Precisa aprender a mentir melhor Henrique, o Marco jamais me colocaria em qualquer coisa sem falar comigo primeiro.— Respondi tendo certeza absoluta de minhas palavras.

— Pois ele fez, e eu nem precisei pedir.— Henrique disse prendendo o riso e dando de ombros como se achasse graça de mim nesse momento.

Ele falou com tanta certeza que me fez duvidar do meu irmão.

Ele faria isso comigo?

— Mentira.— Respondi simplesmente.

— Verdade.

— Para, é mentira.

— Paro nada, é verdade.

Me afastei dele em um pulo e comecei a caminhar na direção da casa do Marco, minha casa temporaria.

— Vejo você no sábado!— Moretti gritou para que eu pudesse ouvir e eu apenas o ignorei concentrada em ir falar com o meu irmão.

Dio, ser que ninguém pode me ajudar?

Já é difícil o bastante ter que trabalhar com ele, conviver e conversar como se ele não fosse o responsável por partir o meu coração em mil pedaços e como se ele não fosse o responsável por fazer os caquinhos baterem mais rápido diariamente, agora eu também preciso encarar uma festa com ele ao meu lado?

Simplesmente não é justo.

Marco não faria isso comigo.

— Aí está você!— Falei apontando o dedo para o meu irmão de forma acusadora assim que entrei em casa.

Ele me olhou com a cara mais deslavada do mundo.

— O que foi que eu fiz?— Questionou com a testa franzida.

— Vai me fazer ir na festa da famiglia com o Moretti?— Perguntei forçando a respiração pelo nariz.

— Ah isso, vou sim. Que bom que você já está sabendo.— Retrucou como se não fosse nada.

— Você nem me perguntou se eu queria ir!— Acusei.

— Bea, o Dom vai estar viajando, a Ana não me deixou sair sozinho para isso por que preciso ajudar com as crianças, então só sobra você.— Respondeu dando de ombros como se isso explicasse tudo.

— Então você preferiu arrumar encrenca comigo do que com a Ana?— Perguntei mesmo sabendo que a resposta é óbvia para qualquer marido.

— Isso aí.— Retrucou e saiu andando escada acima, talvez para o quarto de algum dos seus filhos.

Dio santo, o que eu vou fazer agora?

Maldita Perdição - Livro 3 da Série: Família Fontenelle Where stories live. Discover now