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Cecília Albuquerque

    O alarme da Amanda tocou bem no pé do nosso ouvido fazendo a gente pular da cama de susto.

— Mas que caralho de alarme alto é esse, Amanda? - Perguntei colocando a mão no peito por causa do susto — Tá ficando surda?

— Caralho porra, que susto do cacete. - Ela falou se sentando e passando a mão no rosto — É porque eu pensei que estaríamos de ressaca da festa, esqueci total de mudar essa merda.

— A gente ia tá de ressaca, não mortas. - Falei me sentando também.

— Ontem foi bom demais. - Ela falou com um sorriso no rosto, lembrando da noite anterior.

— E olha que nem pegou o Felipe pra noite ficar completa.  - Falei com um sorrisinho malicioso e ela me deu um tapa me xingando.

— Não sei se você vai concordar, mas eles dois são totalmente diferentes dos nossos amigos da época de escola, não sei explicar. - Ela falou refletindo.

— Você ainda tem coragem de chamar aquele povo feio da escola de amigos? - Ela riu deitando de novo — Mas o pior é que eu concordo, o Felipe e o Enzo tem alguma coisa de diferente. - Falei pensando sobre também.

Eu e a Amanda viramos amigas na sexta série e desde então não tem quem faça a gente se desgrudar mais.

Já fizemos parte de vários grupinhos ao decorrer dos anos mas nunca durou muito. A galera começava a se separar, brigar por coisas mesquinhas e a gente já cortava logo, porque essas atitudes não era algo que combinava com a gente.

                                    [...]

Já tínhamos chegado na facul e estávamos na lanchonete sentadinhas papeando como sempre.


— Ih amiga, acho que os meninos tão procurando a gente. - Olhei na mesma direção que ela e acenei pra eles.

— E aí, cenoura. - O Enzo veio me cumprimentar.

— Cenoura? - Perguntei sem entender.

— É pô, com aquele vestido laranja de ontem ficou parecendo uma cenoura. - Arregalei os olhos e chutei a canela dele.

— Caralho irmão, ela tava parecendo uma cenoura mesmo. - O Felipe concordou gargalhando junto com ele.

— Tadinha da minha amiga, gente. - A Amanda disse tentando segurar a risada.

— Para de se fazer porque tu tá doida pra rachar o bico. - O Enzo respondeu fazendo a Amanda soltar a gargalhada que ela tanto segurava.

— Não to entendendo legal em. - Falei brincando olhando séria pra ela — E vocês dois me tiraram de palhaça, foi? Não vejo vocês implicando assim com a Amanda. - Falei revoltada cruzando os braços.

— Não pô, o papo da azeitona tá guardado. - Felipe falou passando o braço por volta do pescoço da Amanda, que tentava manter a postura.

— Eu já tava pensando em usar aquele mesmo vestido na próxima, mas pelo visto o look ficou marcado. - Falei negando com a cabeça.

— Pareceu um marca texto. - O Enzo me implicou mais ainda.

— A loirinha não gosta de andar despercebida, pô. - Felipe disse rindo entrando na onda do Enzo de novo.

— Caralho cara, mais respeito com a minha cenourinha. - A Amanda falou apertando minhas bochechas e logo mandei ela ir se fuder.

— Psicóloga pode falar palavrão? - O Felipe perguntou e eu dei dedo pra ele.







Enzo Martins

    Depois de encher o saco das meninas, mais especificamente da Cecília, fomos pra aula.

     Professor entrou em sala avisando que recolheria o trabalho no final da aula e eu olhei pro Felipe sem entender.

— Irmão, que fita é essa de trabalho? - O Felipe perguntou pra um moleque do nosso lado.

— É o trabalho que o professor passou na aula de segunda. -  O Moleque respondeu e o Felipe assentiu, me olhando com cara de desespero em seguida.

— Tá vendo, caralho? Se tu tivesse vindo pra porra da aula a gente não estaria parecendo dois patetas. - Murmurei puto.

— Tu também não veio, parceiro. - Felipe respondeu me dando um se liga — Mas que desgraça de professor é esse que passa trabalho no primeiro dia de aula? - Perguntou puto.

— Primeiro dia é pra quem é novato, cabeção. A gente já tá no terceiro semestre. - Respondi negando com a cabeça.

    Conheci o Felipe aqui na faculdade ano passado, já que caímos na mesma turma desde o início.

    No primeiro semestre a gente parecia dois adolescentes de 16 anos, indo pra festas no meio da semana e se arrastando nas aulas do dia seguinte.

    Até chegar um dia que a ressaca bateu forte e não consegui ir pra aula. Justo nesse dia meu pai tava em casa e me deu mó bronca. Chega a ser engraçado ele só estar presente nesse tipo de situação.

                                            [...]

    As aulas já tinham terminado e nós já estávamos fora do prédio. Vimos as meninas e fomos falar com elas.

— Amiga, tu me leva em casa? - Cecília perguntou pra Amanda.

— Só se for mais tarde amiga, tenho que buscar um dos livros que tão faltando nas minhas aulas e a editora fica na puta que pariu. - Amanda respondeu.

— Posso te oferecer uma carona ou tu vai tirar onda comigo igual ontem? - Perguntei pra loira.

— Dessa vez eu vou aceitar caladinha - Respondeu fazendo bico e eu ri.

    Nos despedimos da Amanda e do Felipe, e fomos em direção ao meu carro.

Aquela PessoaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora