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Enzo Martins

     Estacionei em frente ao prédio da Cecília e ela veio se despedir de mim.

— Vou subir lá com você, pô. - Falei desligando o carro.

— Pra quê? - Perguntou rindo tirando o cinto.

— Quase cinco da manhã e você atrás de Felipe comigo. - Respondi — O mínimo que eu posso fazer é te levar até a porta, né.

— Vamos então, já que insiste. - Aceitou com um sorriso antes de sair do carro.

    Saí do carro junto com a Cecília e tranquei o mesmo de longe.

     Cumprimentamos o porteiro, que levou um puta de um susto quando entramos na portaria, por provavelmente estar dormindo em serviço.

     Fiquei rindo disso sozinho e a Ceci começou a rir também quando percebeu do que eu tanto dava risada, nem precisei explicar o motivo.

     Assim que chegou no andar dela saímos do elevador e encostei na parede pra esperar ela entrar.

     Vi ela se apalpar toda com os olhos arregalados e não entendi nada.

— O que foi, doida? - Perguntei franzindo a testa.

— Puta que pariu, Enzo. - Arregalou ainda mais os olhos — Minha chave tá na bolsa da Amanda. - Falou desacreditada.

— Nem fudendo. - Neguei desencostando da parede.

— To falando, acabei de lembrar que coloquei minha chave e a minha carteira lá dentro. - Falou passando a mão pelos cabelos sem saber o que fazer.

— Pra que tu foi deixar lá? - Perguntei sem entender esse raciocínio feminino delas.

— Porque achei que não tinha necessidade as duas saírem de bolsa pro mesmo lugar e acabei colocando tudo lá. - Respondeu respirando fundo — Mas pode ir tranquilo. Vou ligar pro Guilherme, que tem sono leve, e resolvo isso. - Falou desbloqueando o celular e eu me aproximei dela abaixando o mesmo devagar.

— Até parece que eu vou embora tranquilo sabendo que tu tá pro lado de fora, sem juízo. - Repreendi ela, que revirou os olhos — É só tu ir dormir lá em casa, pô.

— Mas e seu pai? - Perguntou me olhando.

— O que tem ele? - Perguntei de volta.

— Não vai achar ruim não? - Explicou o motivo da preocupação através da pergunta.

— Tu tá achando que meu pai é um pai presente, Cecília? - Falei rindo — Ele nem tá em casa, pô. Tá viajando, pra variar.

— Ah, então tá. - Aceitou toda sem graça.


Concordei com a cabeça e apertei o elevador, que ainda tava no mesmo andar desde a hora que saímos dele.

O porteiro não entendeu porra nenhuma da gente passando por ele de novo e eu comecei a querer rir por lembrar da situação de minutos atrás dele dormindo.

Destravei o carro e entramos nele pela milésima vez na madrugada.

— Imagina se você não tivesse subido comigo. — Cecília disse enquanto colocava o cinto — Eu dormiria no corredor.

— Caralho, foi muito sexto sentido de mãe. - Falei lembrando de algo insistir dentro de mim sobre acompanhar ela até a porta quando chegamos aqui.

— Nossa, sim. - Concordou rindo apoiando a cabeça na janela, me fazendo olhar rapidamente pra ela.

— Cansada? - Perguntei bocejando prestando atenção no volante.

— Muito. - Bocejou também — Passamos a madrugada toda atrás de perrengue.

— Pior. - Concordei — Tu vai ver se eu me enfio em uma dessa de novo atrás de porra de Felipe.

— Duvido. - Riu balançando a cabeça.

— Meu pau no teu ouvido. - Falei no automático e ela gargalhou batendo no meu braço.

Chegamos aqui em casa e descemos do carro assim que eu estacionei.

— Nossa. - Falou pegando no meu braço chamando minha atenção — Olha pro céu, já tá clareando.

— Claro, Cecília. - Ri destrancando a porta — São mais de 5h da manhã, pô.

— Verdade, esqueci desse detalhe. - Falou sonolenta e eu neguei com a cabeça dando passagem pra ela.

Subimos pro meu quarto e ela sentou na minha cama tirando o salto.

Entreguei uma blusa minha pra ela, que sorriu agradecida.

— Vou tomar banho rapidinho, vai querer vir? - Perguntei na porta do banheiro e ela concordou entrando comigo.

    Como já tomamos banho juntos aquela vez na casa dela, nenhum de nós dois ficou com vergonha ou algo do tipo.

    Tomamos banho bem rápido sem fazer nada de demais, até porque ambos estavam cansados dessa madrugada exaustiva.

    Cecília vestiu a minha blusa, que ficava grande nela, e eu vesti uma cueca e samba canção mesmo.

    Fui escovar meus dentes e entreguei uma escova de dente lacrada pra ela.

    Arrumei a cama pra gente e liguei o ar pra ficar uma temperatura boa pra dormir.

   Deitei na ponta da cama e a Cecília desligou a luz deitando do meu lado em seguida.

— Bom dia. - Falou como se fosse um boa noite e eu gargalhei.

— Bom dia. Dorme bem, pô. - Entrei na onda dela e ela riu, se aconchegando em mim.



 

Aquela PessoaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora