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Enzo Martins

Já tinha se passado três dias que eu e a Cecília não nos falávamos.

A gente continuava sentando juntos no intervalo com o Felipe e Amanda e só isso, nada a mais. Eu não entrava nem no nosso grupo do WhatsApp, pra evitar caçar conversa.

Sei que três dias é pouca coisa, mas caralho, tava parecendo uma eternidade. Acredito que seja a consequência de todo o nosso apego nos últimos meses.

Eu já tava ficando meio envergonhado pela minha atitude, papo reto. Eu simplesmente fiquei estranho com ela, sem nem dizer o motivo.

Todo o incômodo que eu senti vendo o Fabio se engraçar pra cima da Cecília me consumia por completo, me imobilizando de qualquer atitude madura que eu poderia tomar.

Mas enfim, agora já foi. Tá esquisito pra caralho ficar distante da Cecília e eu não sei o que tenho que fazer agora. Parece que eu to travado e não consigo me mover diante disso.



[...]


Hoje era quinta, Felipe passou a manhã toda falando de um show que vai ter do Orochi aqui em SP.

— Maluco, se tu abrir a porra da boca pra falar de novo desse show, eu juro que faço você ficar calado pra sempre. - Ameacei esse imbecil e ele ficou quieto por uns segundos, mudando de assunto.

— Olha, daqui a pouco o intervalo começa e eu to sem tempo pra clima estranho causado pela sua birra com a Cecília, filho da puta. - Resmungou com cara de tédio enquanto guardava o caderno na mochila.

— Não tem birra nenhuma, pô. - Falei concentrando na última questão que o professor tinha passado há uns minutos no quadro — Já terminou, caralho? - Me referi as questões.

— Claro que não, porra. Parece até que não me conhece. - Respondeu fazendo careta — Vou terminar isso depois, bateu uma preguiça sinistra agora.

Olhei com os olhos estreitos pra ele durante uns míseros segundos e voltei minha atenção pra última questão filha da puta que tava me fazendo quebrar cabeça.


— Sobre a sua birra com a Cecília... - Foi falar e eu interrompi.

— Já falei que não tem birra nenhuma. - Falei sério fechando meu caderno.

— Cara, qual o teu problema? De verdade? - Olhou desacreditado — Você ficou estranho com a Cecília cabuloso por besteira, gerando o maior clima esquisito e quer vir bancar pra cima de mim que não tem nada acontecendo? - Falou extremamente puto.

— Pelo menos você tá sentindo agora o que eu tenho passado há meses contigo e com a Amanda. - Respondi revirando os olhos e ele respirou fundo.

— Olha, o meu problema com a Amanda já foi resolvido. Não vem usar isso como desculpa. - Falou mudando pra uma expressão mais séria — O foda da tua relação com a Cecília era o fato de vocês sempre se entenderem e agora tu vai jogar a porra toda que construíram no lixo, por puro chilique teu. - Falou apontando o dedo minutos antes de sair da sala, me deixando pensativo sobre suas últimas palavras.

Guardei o meu caderno com força dentro da mochila, sabendo que tudo que o Felipe tinha me dito era verdade.

Minha relação com a Cecília sempre foi muito de boa, nunca se quer tivemos um desentendimento. Por que eu to fazendo essa porra toda?

Na mesma hora que eu pensei isso, o Fábio passou por mim com o grupinho dele. Me subindo todo aquele incômodo novamente, puta que pariu viu caralho, que porra.

Saí quase que esbarrando nele, indo atrás do Felipe na lanchonete.

Chegando lá vi a Amanda e a Cecília sentadas com ele, o que me fez entrar na fila do caixa sendo que nem com fome eu tava.

Quando não tinha mais onde me enfiar, resolvi ir na cara dura mesmo atrás deles. Sentei, sem falar nada e os três me olharam normalmente.

Continuaram o assunto que estavam discutindo antes de eu chegar e a Cecília agiu no foda se. Sem me olhar com indiferença, sem revirar os olhos, sem fazer cara feia.

Agiu com toda a maturidade que ela sempre mostrou ter, moleque. Me fazendo sentir o maior crianção do mundo.

Me enturmei bem pouquinho com eles durante o intervalo e todos nós levantamos na hora de voltar pras salas.

Quando a Cecília ia saindo, puxei ela devagar pelo braço, que me olhou com um ponto de interrogação esperando eu dizer algo.

— A gente precisa conversar. - Falei pausadamente.

— Foi o que eu tentei fazer com você segunda. - Falou com firmeza.

— Eu sei. - Olhei por alguns segundos pra ela — Eu só tava sem cabeça na hora.

— Sem cabeça? - Me olhou sem entender — Sem cabeça por quê?

Fiquei calado na hora que ela perguntou isso, sentindo vergonha de admitir que era ciúmes.

Ela respirou fundo e cruzou os braços.

— Enzo, eu não gostei do jeito que você agiu comigo durante esses últimos dias sem me dar explicação.  - Foi sincera — Eu gosto de transparência e eu gosto muito, pra ser sincera. Então, quando você estiver à vontade pra conversar de verdade, me chama. - Disse saindo calmamente dali, me fazendo sentir um completo covarde por não conseguir admitir que o nome de toda a confusão que eu arrumei era ciúmes.

Aquela PessoaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora