IN THE DARK

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Sou acostumada a conversar com o rádio durante um engarrafamento, ligar a TV para tomar banho, me divertir com maratonas de séries...

Não sou adepta a escavar noites em busca de companhia e voltar para casa mais solteira do que quando sai. Mas aqui estou eu, perdida em alguma rua de New York, buscando por um endereço que parece não existir.

— Relaxa David, já estou quase chegando... Não, eu sei que é importante... David, eu... Dá pra acalmar? Quando você me ver aí é porque eu cheguei.

Meu sócio é estressado e eu sou ansiosa. .Fico receosa porque nem sempre sei como serei recebida ou se irão perceber o que sou. Então fico horas escolhendo a roupa que melhor irá disfarçar, que não chamaria tanto a atenção... As vezes me sinto exausta.

No momento que coloquei meus pés dentro daquele grande salão, com luzes irritantemente coloridas e piscantes, fui arrebatada com alguém cantando muito mal, rezei para não ser meu cliente ou teria uma séria dor de cabeça amanhã.

Para meu azar era meu cliente. Então só resta beber, amanhã não sei se a dor de cabeça será da ressaca ou dos problemas.

Comprei minha bebida e não demorou para minhas amigas Dinah e Mary me arrastarem para uma mesa. Somos idosas de 34 anos, precisamos de lugar para sentar.

O cantor não valia meu tempo, então resolvi curtir com minhas amigas, mesmo com meus ouvidos doendo com aquele som. Enquanto copos eram esvaziados, riamos e bridávamos a só Deus sabe o que.

A natureza me chamou e fui ao banheiro. Lá uma jovem ficou me observando através do espelho enquanto passava seu batom carmim, impossível não reparar naqueles lábios. Por mais que ela tentasse disfarçar, sentia seus grandes olhos castanhos sobre mim.

Nos apaixonamos primeiro, depois decidimos se é possível ou não. Porém para mim, amor e paixão é a impossibilidade do possível, então, reservei aquela atração para uma outra oportunidade, que eu sabia nunca vir.
Quando saí, na tentativa de voltar a segurança da minha mesa, aquela mesma jovem esbarrou "sem querer" em mim.

— Oh desculpa! Eu juro que não queria. Foi totalmente minha culpa. — Falou enquanto tentava me ajudar, quando por falta de equilíbrio e excesso de bebida eu caí no chão.

— Não, tudo bem. — Passei as mãos na calça um pouco molhadas. — E não foi totalmente sua culpa, eu também não estava muito atenta, então... — Tentei sorrir, sendo gentil. Ela ainda me encarava de uma forma enigmática.

— Você esta bem? — Me olhou preocupada, me analisando de cima a baixo. Acho que realmente se preocupou.

— Estou com a bunda um pouco doendo, mas fora isso, estou bem. E você?

— Estou bem, mas minhas bebidas não. — Olhou para os copos de plástico no chão. Ela fez uma carinha tão fofa que não resisti. Aqueles olhos eram encantadores.

— Vem, vou te pagar outras.
— Não. Não precisa. — Me olhou assustada.

— Faço questão. Por minha culpa você ficou sem... — Olhei os copos no chão enquanto evitava uma careta. — Coke e... O que é isso?

— Whisky — Me falou constrangida enquanto esfregava um anel em seu anelar, seu olhar ainda estava muito em mim. Ela não parecia ser uma mulher de whysky.

— Vem, vamos pegar as bebidas. — Andei em direção ao bar, com ela a reboque

— Você veio com amigos? — Ela tentou puxar assunto quando paramos na fila.

— Sim, e com colegas de trabalho também.— Apontei a esmo com a cabeça. Seus olhos em mim estavam começando a me incomodar.

— Oh! Que legal! E você trabalha com o que? — Se aproximou mais, seu ombro quase encostando no meu.

— Uma coisa aqui e outra ali. — Dei de ombros.

— Entendo. — Senti uma pontada de decepção em sua voz, enquanto ela alisava seu vestido preto básico. Não vai doer conversar com ela...

— E você? Está com amigos? — Me sorriu como se eu tivesse oferecido um presente.

— Sim. Na verdade mais ou menos. — Fez um biquinho infantil que tirou um sorriso de mim. — É que renovaram a temporada do seriado que trabalhamos. Então viemos aqui comemorar.
Ela falava o tempo todo sorrindo pra mim, olhando nos meus olhos como se pudesse me ler. Meu celular vibrou:

David: Quem é a garota?
Lauren: Ninguém.

Olhei para a área vip e percebi que Peter, August e David haviam chegado.
— Que bom. Assim é mais trabalho pra você. — Abaixei a chave, deixando meu celular no silencioso.

— Na verdade não. — Voltou a mexer no anel — Amanhã vou gravar a morte do meu personagem. Não estarei na segunda temporada.

Chegamos ao inicio da fila — Mas virão outros papéis. — Me virei para o atendente. — Um gim tônica e duas cokes com... Whisky?

— Isso — Me sorriu, ficamos alguns segundos naquela troca de sorrisos, até ela colocar a língua no dente e apontar o barman.

Aproximei meu cartão vip da máquina e entreguei os dois copos dela. — Aqui estão suas bebidas. Tomara que essas também não tenham atração pela gravidade.

— Tomara. — Sorriu sem graça, talvez desapontada, peguei meu copo e sai de perto dela, voltando à mesa, onde minhas amigas me esperavam como águias, ou seria abutres?

— Lauren, quem era a chica? — Dinah me perguntou fingindo um sotaque latino assim que aproximei da mesa.

— Parece caliente. Andole! — Mary me olhou com expectativa, e com um sotaque falso pior do que o de Dinah.

— Ela com certeza não é mexicana, nada de “andole”. E não sei quem ela é.

— É... Mas ela não para de olhar pra você. — Mary apontou com a cabeça e olhei sobre meu ombro pra ver a jovem parada no mesmo lugar onde a deixei. Nossos olhos se encontraram por um breve momento, antes dela olhar para baixo com um sorriso tímido.

— Não importa. E os outros? — Sentei à mesa.

— Bêbados. E você vai tirar essa bunda daí e vai lá falar com ela. Pegar uma rede social, trocar uns beijos, sei lá. — Dinah e sua delicadeza de coice de mula.

— Talvez ela nem curta. — Apontei pra mim.

— Estamos em uma casa de show em um show gay. — Mary fez uma careta para mim como se dissesse o óbvio — Ao menos curiosa ela é.

— Você não é gay. Alias, nenhuma das duas é. E estão aqui. Ou são curiosas e não estou sabendo?

— Eu pegaria uma gata como aquela, aquela raba me faz duvidar da minha sexualidade. — Dinah apontou a garota de novo com a cabeça. — Agora levanta essa bunda daí, não vou falar de novo. E vai lá. Deixa que bebo isso pra você.
— Bebeu no meu copo — Que isso aqui? Credo! É horrível! — E virou o copo, tomando todo seu conteúdo.

— Achei que estivesse horrível a ponto de não beber tudo. — Cruzei os braços a encarando.

— E estava. Mas agora você terá que ir lá comprar mais. — Sorriu satisfeita, teria achado graça se eu não estivesse tão bêbada.

— Não esqueça de pegar o telefone da muchacha. — Mary me falou esfregando uma mão na outra de forma ansiosa.

Revirei meus olhos e segui novamente até as proximidades da pista. Assim que a jovem me viu aproximar se acendeu, como uma criança na manhã de natal.

— Mais bebidas? — Me perguntou, tentando soar casual e tentando também esconder o grande sorriso que teimava em seu rosto.

— Sim, minha opala ali bebeu a minha. — Notei como seus olhos buscaram por Dinah. — Você é latina? — Nem sei por que perguntei aquilo.

— Sim. De Cuba. — Seu sorriso cheio ampliou enquanto ela apertava as bebidas na mão.

—  Legal. Tenho descendência. Eu...

— Ei Camila, cadê nossa bebida? — Um homem alto, forte e negro se aproximou de nós. Sem me olhar, apenas encarando a mulher. — Você saiu e parece que esqueceu da vida.

— Desculpa. — Entregou as bebidas ao homem que finalmente me viu ali. — Estava apenas conversando com a...

— Lauren. — Falei, odiei aquele cara.
— Tanto faz. — Virou quase de costas pra mim. — Mais dois copos desse, vê se não desaparece dessa vez.

Saiu de perto de nós e a garota me olhou sem graça. — Desculpa. Ele esta um pouco nervoso por terem escolhido esse lugar.

— Mas isso não é desculpa pra ele te tratar assim. Se não gostou, problema dele, ele que vá embora.

Entramos na fila de novo. — Ele é o protagonista.

— Poderia ser o diretor, o papa. — Chegou nossa vez na fila. — Um gim e tônica. Detesto pessoas assim.

— Duas cokes com Whisky e um gim também. — Ela pediu e entregou algumas notas trocadas demais.

Enquanto eu pagava, percebi ela me olhando de canto, estava me analisando. Quando o barman entregou os gins, Camila resolveu conversar... de novo.
— Então... Tem alguém te esperando em casa?

Eu sei que ela estava perguntando se sou casada. — Não. Não há ninguém no momento.

Ela balançou a cabeça e tomou um gole de sua bebida, e notei que estava sorrindo para si mesma.

— E você? — Não tenho ideia por que perguntei. Não é como se eu estivesse planejando prosseguir com essa garota.
— O seu namorado está esperando por você?

— Não há nenhum namorado. Ou namorada no caso.

— Não sabia que curtia. Aqui é GLBTQIA+, mas parece ter mais hétero que igreja no domingo. — Ri.

Camila riu junto, não costumo gostar tanto de risadas, mas achei o som dessa em particular é adorável.

— Seus amigos provavelmente estão sentindo sua falta. — Comentei e saímos da fila, levando nossas bebidas para o outro lado do balcão enquanto esperávamos a coke com whysky.

— Tenho certeza que eles estão bem. — Ela continuava me olhando, nos seus olhos... seria avidez?

— Você não parece o tipo desses lugares. — Falei olhando ao redor de toda aquela bagunça de corpos dançantes e músicas mal cantadas. Camila, provavelmente é de Harry Potter e Wandinha, ao invés de sair com os amigos para encher a cara.

— Eu realmente não sou, estou aqui com meus amigos e cumprindo um acordo também. — Camila balançou a cabeça, tomando mais um gole de sua bebida, sem seus olhos saírem  de mim.

— Nem eu curto. Meus amigos estão na área vip. Quer ir pra lá? — Normalmente é isso que as garotas querem não é?

— Não, obrigada. — Camila olhou apreensiva para o Vip, Dinah olhava para nós, como minha amiga é curiosa e intrometida.

E então percebi que enquanto conversava com ela, nem estava realmente prestando atenção na apresentação horrível, ou receosa se as pessoas estariam comentando de mim ou não. Olhei novamente para Camila.— Você olha muito. Por que isso?

— Desculpe, — gaguejou. — É só que você é tão bonita, e você está falando comigo, é quase inacreditável.

Corei, e antes que eu pudesse responder, David tocou meu ombro, olhando desconfiado para Camila que ficou tensa.

— O povo tá te procurando, Lauren. Querendo saber sua opinião.

— É sério que vocês querem minha opinião pra aquilo? Depois conversamos sobre isso. — Camila não tirava os olhos de nós dois. — Daqui a pouco eu volto pra lá.

— OK. — David saiu, não antes de lançar outro olhar desconfiado para a garota apreensiva ao meu lado.

— Acho que seu amigo não gostou de mim. — Ela passou o indicador na borda do copo e mordeu o lábio carmim. Confesso que aquilo mexeu com alguma coisa dentro de mim. Seus lábios volumosos captaram toda minha atenção.

— Ele só é protetor demais. — Dei um grande gole em minha bebida, eu já estava naquela fase de não sentir mais o sabor amargo.

— Mas é claro, você é uma grande amiga. Eles só querem o melhor pra você.

Antes que eu pudesse absorver aquela frase, eu a beijei. Rapidamente ela retribuiu; quando dei por mim, a estava prensando contra o balcão, nossas bocas se devorando.

O beijo foi ficando quente, ela realmente beijava muito bem, minhas mãos encaixaram tão bem naquela cintura que eu apertava a trazendo pra mim. Cresci em segundos e afastei meu quadril um pouco dela, na tentativa de disfarçar. Seus dentes puxaram com desejo meu lábio. Parei o beijo antes que ela percebesse algo que não deveria. Normalmente eu me controlo muito bem.

— O que foi? — Me perguntou confusa e ofegante.

— Há muitas pessoas aqui. — Olhei ao redor e ela acompanhou meu olhar
— Moro nesse quarteirão. Divido um apartamento com minha irmã e o marido dela. Eles estão trabalhando agora. — O desejo sempre cria possibilidades paralelas, escancarando portas que eu não deveria nem chegar perto.

— Acho melhor n... — Antes que eu pudesse continuar a frase ela me beijou com mais luxúria, descendo os beijos por meu pescoço, me excitando com mordidas, me puxando para ela. Quando percebi, estava a imprensando na parede de tijolos exposto do lado de fora da casa de shows. Eu a queria tanto.

Seus gemidos em meus ouvidos toda vez que eu descia ao seu pescoço estavam me enlouquecendo, eu precisava ter aquela mulher.

— Então, sobre seu apartamento... — Sussurrei, minha voz estava mais rouca que o normal.

Ela puxou a lapela da minha camisa me puxando para algum lugar. — Me acompanha.

Agarrou uma das minhas mãos e em poucos passos estávamos paradas na frente de um edifício pequeno e velho no meio do quarteirão, eu estava tão excitada que não estava raciocinando direito.

Enquanto ela abria o portão, mandei a localização para a Mary falando onde estava, no caso de estar entrando em uma fria.

Subimos três lance de escadas e então paramos em frente a porta 308. Ela abriu e notei o quanto era pequeno, porém bem arrumado. Com certeza eles não tinham muito dinheiro, mas possuíam capricho e bom gosto.

— Você quer beber algo? Tenho um tinto. — Colocou a bolsa sobre uma mesa e retirou os sapatos. Afirmei que queria, mesmo sabendo que ambas estávamos muito bêbadas, e ela me apontou o sofá.

Sentei entre almofadas macias e logo ela sentou ao meu lado, segurando duas taças. Seus olhos novamente em mim. Eles estavam pequenos, claramente bêbados.

— Você é tão linda. — Me olhou admirada, enquanto me entregava uma das taças. — Esses seus olhos são os mais lindos que já vi na vida.

— E então... você é atriz, né? — Beberiquei o vinho, não sei a marca, mas era bom.

Ela me sorriu e retirou os saltos. — Sim, também. Vim do Miami tentar carreira aqui. Faço mais pontas, mas ao menos estou fazendo algo né. — Bebeu de sua taça

— Todos começamos de algum lugar.
Ela me beijou novamente e senti o gosto de vinho em sua língua quente. Nossos beijos eram recheados de desejo, mordidas e chupadas. Deitei-a no sofá, ficando por cima e me deliciei com seu pescoço enquanto puxava seus cabelos sedosos. Sua pele era tão macia, tão fácil marcar, com certeza deixaria marcas ali.

Meu corpo estava tão quente e eu sentia que estava ficando duro novamente, tentei afastar meus quadris, mas ela me enlaçou com as pernas. Eu devia ter parado antes de chegar até esse ponto, nunca fui tão imprudente assim.
Me levantei em meus braços, parando o beijo.

— Eu te mordi? — Os olhos chocolates agora estavam realmente assustados enquanto ela me analisava. Balancei a cabeça em negativo. Eu queria fugir dali.

Ela me beijou de surpresa, parecia tão entregue. Sua mão em minha nuca me puxando possessivamente para ela de novo. Nossos corpos pareciam ter uma sintonia própria e estavam começando a suar.

— Lauren?

Bruscamente me sentei percebendo que estava esfregando meu centro na intimidade dela. — Eu vou embora, ok? Só não conta pra ninguém.

Me posicionei para levantar e com único movimento ela subiu em cima de mim, me impedindo.

— Por favor não. Eu só senti algo que não deveria estar lá. Senti o mesmo na boate também. Fiquei confusa...Você é trans?

Cocei minha nuca. — Na verdade não.
— Ela me olhou por alguns segundos.
— Então você é intersexual?

Fiquei surpresa por ela conhecer o termo. Apenas afirmei com a cabeça.

— Ele... ele é subdesenvolvido? — Sua voz, agora insegura, demonstrava timidez e um brilho de curiosidade. Senti alivio, nojo era o mais comum nesse momento constrangedor. — Pergunto porque você é muito feminina, me desculpe, muito pessoal, não deveria tá perguntado isso. Sei que sua genitália não faz quem você é. É que eu sou muito curiosa com...

— Tudo bem. É tamanho adulto. E como você pôde perceber, é totalmente funcional. Isso é só um detalhe.

Ela se afastou sentando ao meu lado. — Desculpa, eu só. — Parecia insegura demais.

— Eu vou embora, não preci... — Tentei levantar, mas ela pulou em cima de mim novamente, uma perna de cada lado do meu corpo enquanto suas mãos seguravam meus ombros.

— Por favor não! — Apertou mais suas unhas em meus ombros. — Eu quero. Desculpa se estou sendo evasiva, se estou insistindo muito. É que eu te quero, você é tão linda.

Apenas a observei por um momento. Ela realmente me queria, eu estava confusa, não estou acostumada a isso.

— Você é especial, Lauren. E esse detalhe só me faz te querer mais.

— Você tem certeza? Sou diferente.

— Já estou cansada do comum mesmo. — Sorriu. — Eu trouxe uma linda mulher pra casa.

Nunca, em toda minha vida, me senti tão acolhida por um estranho como naquele momento. Ela não me olhava como anormal.

Nos beijamos novamente, dessa vez um pouco mais calmo, mas quando percebi, estava deitando ela na cama, nem lembro como chegamos ao quarto. Ela tirou minha jaqueta, quando levantou minha blusa eu parei sua mão.

— Eu te quero. — Falou olhando nos meus olhos, como se pudesse ler minha mente. — Não precisa ter vergonha.

— Eu nunca fiz isso como menina. Prefiro ficar com a roupa.

— Você se veste de menino pra... — parecia envergonhada — Transar?

Apenas balancei a cabeça negando. — Já fiz isso, hoje não mais. Demoro um pouco pra me soltar, vou ficar com a roupa.

— Não sei como será, pra mim é novo. Nunca fiquei com uma mulher antes, mas... não se sinta obrigada a nada.

Nos beijamos novamente. — Você tem camisinha? Eu não sabia que teria uma noite diferente hoje. — Perguntei quebrando o beijo.

— Acho que meu cunhado tem. — Levantou da cama e saiu pela porta. Deitei na cama e olhei para a direção que ela havia saído.

Camila estava parada no marco da porta, me olhava, mais precisamente olhava para algo que por culpa dela estava muito ativo. Não era repulsa ou medo o que eu vi naqueles olhos, era curiosidade.

A vi corar ao ser pega me observando. Timidamente colocou alguns envelopes sobre a mesinha de cabeceira. E nada timidamente abriu o zíper lateral de seu vestido o deixando cair ao chão enquanto caminhava. Com um charme e delicadeza torturante ela fez todo o caminho, até ficar com apenas lingerie vermelha vinho. Engatinhou sobre a cama e deitou ao meu lado. Havia desejo em seus olhos, ela realmente me queria. Logo a mim.

Passei a mão por seu abdômen e subi aos seus seios que estavam pressionados pela sustentação do sutiã. Desci minha boca para eles, dando a devida atenção a cada um.

Voltei ao beijo e senti todo meu corpo se arrepiar quando a pequena mão adentrou minha box, deslizando para cima e para baixo no meu comprimento, como se certificando que era real. — É de verdade. — Brinquei enquanto mordia sua orelha.

— Não precisa usar ele se não quiser. Quero que se sinta a vontade.

Nunca me senti tão a vontade. Retirei toda sua roupa, queria sentir cada pedacinho dela,  sabia que não teríamos alguma outra vez. Passei meus dedos na sua intimidade. Não consegui evitar o gemido quando a senti tão molhada. Retornei a mordidas no pescoço enquanto penetrava um dedo dentro dela.

Tomei seus lábios no meu e aumentei a velocidade, penetrando mais um dedo. Senti Camila suspirando contra meus lábios, pareceu um pouco tensa.

— Você tem certeza de que quer fazer isso com alguém como eu? — Parei o movimento e olhei em seus olhos. — Eu não vou ficar louca se você disser não.
Camila puxou minha box para baixo, liberando minha ereção. — Tenho certeza.

Tentei descer para dar prazer a ela primeiro, um oral antes é quase que essencial, mas ela segurou meus braços, me trazendo para um beijo. Percebi que ela estendeu uma mão para pegar o preservativo, me entregou e senti seus dedos percorrendo minha barriga. — Não me sinto confortável com alguém lá.

Beijei seus lábios, como se disse que entendia que não gostaria do oral; e rasguei o envelope, desenrolei em meu comprimento, Camila não tirava seus olhos de mim um segundo, olhando todo meu corpo sobre ela. Senti sua mão me puxar para ela, poderia ser impressão, mas ela parecia tremer um pouco.

— Tá tudo bem, Camila?

— Só estou um pouco nervosa. — Sorriu, um sorriso que mostrava que não era pouco seu nervosismo. Sua respiração estava rápida.

Deitei sobre ela, ficando em meus cotovelos, direcionando lentamente em sua entrada. Corri a ponta algumas vezes para cima e para baixo antes de empurrar devagar.

Senti sua mão em meu quadril, como se estivesse evitando que eu entrasse mais, então percebi que ela estava segurando a respiração. Me retirei de dentro dela, não queria que fosse uma experiência dolorosa. Deveria ter ficado mais nas preliminares.

— Você está bem? Está desconfortável?
— Perguntei em quase sussurro em seu ouvido. Eu não tinha nenhum tamanho que pudesse preocupar, mas ela não parecia estar confortável.

— Desculpe. — Soltou o ar. — Continue. É só a bebida. Beber me atrapalha um pouco.

— Posso brincar mais com ela. Sou boa com línguas e dedos.

Ela segurou meu quadril, como se pedisse para eu continuar. Entrei devagar, empurrando e tirando delicadamente, senti suas unhas cravando fundo em minhas costas cada vez que eu a penetrava.

— Você é tão linda. — Sussurrei em seu ouvido tentando ser o mais sexy possível e gemi baixo.

— Sério?

— Demais, gostosa pra caralho. — Senti que sua tensão havia diminuído, levantei em meus braços e estoquei mais profundamente, ela se contorceu um pouco dessa vez de prazer.

— Isso é gostoso. — Levantou as pernas e apoiou os pés sobre meu quadril, ela ia me deixar louca bem rápido.

Ajoelhei-me na cama e segurei suas pernas, enquanto admirava suas caras e bocas. A forma como mordia o próprio lábio e massageava os próprios seios estavam me enlouquecendo. A cama estava rangendo, se eu não estivesse tão bêbada, estaria envergonhada pelo barulho da cabeceira batendo contra a parede e pelos gemidos bem audíveis que ela emitia. Mas, fodas! Ela é a mulher mais gostosa que já tive.

Camila puxou meus ombros, me fazendo deitar sobre ela, e abraçou minhas costas.

Seus gemidos estavam diretamente no meu ouvido, eu não iria aguentar muito tempo. Sentia que estava ficando mais difícil entrar, ela estava apertando muito. Então me abraçou mais forte, sussurrando safadezas em meus ouvido, em pouco tempo eu estava gozando para ela.

Eu mal tive a chance de recuperar o fôlego quando ela me beijou novamente. Depois de um minuto, afastei com uma pequena risada — Eu preciso de uma pausa.

— Oh, desculpe.

Selei novamente nossos lábios — Está tudo bem. — Levantei, indo em direção a pequena lixeira no canto do quarto. Camila se cobriu com o Edredom.

— Foi incrível! — Ela estava animada, com seus cabelos despenteados. — Realmente maravilhoso.

Sorri e deitei na cama ao seu lado, puxando o edredom, eu sabia que ela não tinha gozado, isso me incomodou. A puxei para um beijo.

— Achei que precisasse de uma pausa. — Ela sussurrou entre o beijo.

— Eu preciso, você não.

Sorriu. — Pode descansar mais. — Me deu um selinho. — Estou feliz por ter esbarrado em você na casa de shows. — Passou seu braço ao redor da minha cintura e deitou sua cabeça em meu ombro. — Realmente estou.

— Vou pegar meu celular. — Me desvencilhei dela e sentei na cama, peguei o aparelho, nenhuma mensagem. Ela distribuiu alguns beijos sobre meus ombros enquanto abraçava minhas costas.

Reparei melhor seu quarto, havia um poster de Evanescence. — Não consigo te imaginar cantando Bring me to life.
Ela me olhou confusa e apontei para o poster.

— Ah, isso é da minha irmã, não gosto dessas músicas antigas.

— Antigas?! Isso fez parte da minha adolescência. Sei lá, foi lançado em 2003.

— Eu nasci em 2003.

Passei a mão no rosto enquanto fazia a conta. — Então eu ofereci bebida pra uma menor de 21.

— Como se todo mundo não bebesse antes do 21.

— Olha, não sou esse tipo de pessoa, não sou como os caras que você já fez.
Se afastou de mim, sentando mais em cima na cama e me olhou confusa.

— Quis dizer com os caras que você fez sexo. Não embebedo mulheres menores de 21 pra tranzar.

Ela me olhou ofendida, puxando mais a coberta e cobrindo totalmente seu corpo ainda nu.

Realmente ela estava bem insegura para uma mulher experiente.

— Olha, desculpa, ok? Não era minha intenção te ofender.

— ok. — Não me olhava, ainda estava ofendida

— Então... não tenho costume de ficar ... de forma sexual com pessoas que não tenho intimidade. Pra mim é novo, mas gostei muito.

Ela sorriu tímido e balançou a cabeça. Deitei na cama e me cobri, novamente, ela se abraçou a mim.

— Você teve muitas mulheres? — perguntou após um longo período de um minuto de silêncio.

— Algumas, — Dei de ombros — na verdade foram bem poucas.

— Difícil acreditar. Você é tão linda.
Não havia como responder esse comentário. Apenas a beijei. Após alguns minutos de beijo, senti sua pequena mão em minha virilha, ela me acariciava, me animando.

Desceu os beijos por meu pescoço. Passando pelo meu abdômen e abaixou um pouco minha calça. Sua mão me alisava, coloquei a minha destra sobre a dela, mostrando o ritmo que eu gostava. Fechei os olhos e me assustei quando senti sua língua percorrer minha barriga, brincando um pouco ali. E descendo devagar para a região que eu tanto ansiava. Quanto tempo não sentia aquilo.

A olhei, quando os olhos se encontram durante um oral é perfeito.
Não havia experiência, mas havia vontade, isso bastava para eu ter que me segurar e não ir ali, na boca dela.
Puxei-a para cima, para que se sentasse sobre mim. Peguei um preservativo e coloquei enquanto ela me analisava. Passei as mãos pela lateral do seu corpo, instruindo para que ela se sentasse. Parecia insegura.

— O que foi?

— Desculpa, Lauren. Não sei como fazer nessa posição. — Deite-a na cama de lado, e me posicionei atrás, na posição em que ela poderia se sentir confortável. Novamente entrei devagar nela e comecei o movimento. Apertei seu seio por um tempo, desci e tateeei o lugar em que eu sabia que poderia dar prazer a ela.

Senti ela respirar mais profundamente quando achei o ponto certo. Seu clitóris estava bem inchado. Movimentos circulares fariam dessa vez ela sentir o que me fez sentir.

Beijei seus ombros e pescoço, enquanto sentia suas mãos me puxarem a encontro dela.

— Isso. — Gemeu quando fincou suas unhas em mim. Graças a Deus não eram muito grandes. Se contorcia, isso me enlouquecia.

Não demorou para que seus gemidos aumentassem. Ela se segurava nos lençóis, tentava segurar em meus braços, enquanto movia seus quadris de encontro ao meu. Fiquei surpresa com o quanto ela aprendeu rápido. Ela agarrou em meus cabelos.

— Lauren! — Seu corpo estava tão tenso e quente. Mas por algum motivo que desconheço ela não gozava, parecia estar na beira do precipício sem pular.
Ultrapassando meu limite gozei. Foi extremamente gostoso, mas me senti frustrada.

Ela me puxou para um beijo enquanto eu ainda recuperava o fôlego. Afastei um pouco, buscando ar e sai de dentro dela. Novamente me levantei indo até a lixeira.

— Foi incrível! — Sussurrou quando entrei novamente debaixo do edredom. Dei um simples selinho e a abracei, fechei meus olhos ao sentir o cheiro dos cabelos dela, mal percebi quando cai no sono.

Não sei quanto tempo dormi, quando abri os olhos, ela estava me observando, deitada de lado sobre um cotovelo, sorriu ao me ver acordar.

— Dormi muito? — Bocejei, bastava fechar os olhos e eu apagaria de novo.

— Nem meia hora. — Sorriu. Será que ela passou esse tempo todo velando meu sono?

— Alguém já te disse que você olha demais?

Ruborizou. — Desculpa. é que você é tão linda. — Me falou como uma confidência.

Apenas fechei meus olhos e dormi novamente.


***


Minha cabeça latejava com o barulho de tantos carros e buzinas, abri os olhos e percebi que já estava claro lá fora. Camila estava nua ao meu lado, seu braço possessivamente sobre minha cintura.

Ela parecia tão frágil. Não era uma mulher fácil e interesseira como pensei, como estou acostumada. Talvez fosse apenas uma garota que queria um pouco de diversão com sexo casual. Apenas mais uma garota.

Afastei uma mecha de cabelo do seu rosto, a maquiagem estava borrada, e então notei uma cicatriz em acima de sua sobrancelha. Dava-lhe um ar sexy, fiquei curiosa com a história por trás dessa marca. Todos temos nossas cicatrizes. Todos temos nossas histórias, algumas pessoas são como filmes que nunca vamos assistir. E essa garota é sucesso de bilheteria.

Retirei seu braço com o maior cuidado possível, não saberia como reagir se ela acordasse. Bêbadas que querem se divertir é uma coisa, ressacadas racionais de manhã é outra.

Sentei na cama devagar, estava tonta, boca seca, minha língua parecia um couro velho. Levantei tropeçando. Congelei quando ela murmurou algo, e voltei a respirar ao perceber que só estava falando dormindo. E era um sonho bom, pois estava sorrindo.

Peguei meu celular sobre a mesinha, pensei em deixar algum contato, por educação talvez. Mas pra que? Foi apenas sexo casual, eu não aguentaria criar expectativas e depois ouvir dela que sou uma aberração. Talvez ela só tivesse um fetiche. Peguei minha jaqueta e saí.
Ambas divertimos certo? E nunca mais vamos nos ver, isso extrai um pouco a culpa e o medo.

Intersex - a história  de LaurenWhere stories live. Discover now