Something's Gotta Give

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Coisas boas aconteceram
Ruins também.

Não posso lidar com nenhuma por estar no passado.
Uma não anula a outra
Mas posso escolher a qual dou atenção.



— Tem certeza que não quer mais chá? — minha avó perguntou após eu terminar minha segunda xícara.

— Tenho sim. Estava delicioso, mas preciso manter minha forma.

— E desde quando chá engorda? Para a xícara aí,  deixa eu colocar mais. — Ela levantou o bule e eu apenas obedeci.

Camila corria atrás de Nathan pela casa, uma hora era piqui-esconde, outra era pega'pega. A pilha deles parecia nunca acabar, a minha já tinha esgotado só de olhar.

Ouvi batidas na porta, minha avó abriu e um homem alto, forte e barbudo, aparentemente na casa dos 40 anos entrou.

— Pode entrar, Juan. — A voz da minha avó ficou doce e o sorriso dela estava maior que seu rosto.
Camila passou correndo pela sala atrás de Nathan e o idiota barbudo quase quebrou o pescoço para olhar, bem que poderia ter quebrado.

— Essa é minha neta, a Lauren.— Minha avó colocou o bule na mesinha e apontou para mim no sofá. Finalmente o homem me viu ali.

O homem tirou o boné e me estendeu a mão. — Prazer, Juan. Sua avó elogia muito você.

Apertei a mão dele sentada mesmo, não quis levantar da poltrona. Seus olhos ficaram pouco em mim, voltando para Camila que parou envergonhada ao meu lado.

— E essa é  Camila, minha nova neta.

O homem ampliou o sorriso. — Buenas noches. ¿Qué grandes vientos hermoniosos te traen hasta aquí?


— No fue viento. la traje ella aquí (não foi vento, eu a trouxe aqui) — respondi séria. Mas ele me deu um sorriso fraco e rápido, pegando na mão da Camila, que pareceu ficar mais envergonha.

— Encantada. Debes ser Juan quien ayuda aquí  — Camila respondeu sorrindo, o idiota beijou a mão dela e pude ouvir minha avó segurando o riso.

— Juan, minha lenha acabou,  pode dar um jeito? — O homem afirmou com a cabeça e ela pegou o bule, se dirigindo a cozinha; ela olhou para mim, depois para ele e afirmou. — Vou fazer um café pra você.

Quando ela saiu, puxei a Camila que no susto sentou em meu colo, passando um braço pelos meus ombros. Trocamos um selinho e ouvi meu irmão rir, como se alguém tivesse contado um segredo.

Ele correu e subiu no colo de Camila, que estava no meu colo. O Juan ficou parado a nossa frente, trocando o peso dos pés. — Vou buscar lenha.

O homem saiu, Nathan pulou do "nosso colo" e deu alguns pulinhos na nossa frente — Camila, você sabia que eu comi chiclete amanhã?

— E não me deu? Ah, mas vou pegar você. — Camila pulou do meu colo e saiu correndo atrás do meu irmão que não sabia se gritava, ria ou corria.

Fiquei pensativa: por que eu só "assumia"  a Camila quando tinha alguém a fim dela?

Isso iria acabar me prejudicando, ela poderia achar que a vejo apenas como objeto. Como será que eu realmente a via?

O jantar chegou, montamos a mesa e Juan se juntou a nós. Deixei meu irmão livre para comer fazendo a bagunça dele. Comia uma colherada, corria pela sala e voltava para outra colherada, o jantar seguia nesse loop sem fim.

Meu irmão fez questão "dele mesmo" assar mais biscoitos para o papai Noel. Eu amei a ideia, seria uma ótima desculpa para comer biscoitos de madrugada. Fiquei no meu antigo quarto, Nathan ficou no quarto de hóspedes com a Camila, porque de acordo com ele era o melhor quarto para ver papai noel chegando de trenó. Juan dormiu lá também no quarto que meus pais costumavam dormir, vim a saber que ele passa todos os feriados com minha avó e ajuda ela nas coisas do dia a dia, tenho menos ranço por ele agora.

Por que o teto parece tão interessante de se olhar quando nossa mente está cheia? Não sei quanto tempo fiquei olhando para ele até me assustar com a vibração do meu celular.

"Tá acordada?" Chegou uma mensagem de Camila.

"Tô, daqui a pouco vou ser o papai noel."

"Posso ir aí?"

"Deve" Levantei e destranquei a porta, pulando de novo na cama, gelo da porra!
Segundos depois Camila entrou e pulou na cama também, correndo para debaixo das cobertas comigo.

— Por que essa casa é tão fria? — Me abraçou.

— Minha avó fala que tem alergia do aquecedor.

— Mas tipo, tá fazendo 3 graus.

— Eu te esquento.

— É bom esquentar mesmo, porque dei os dois cobertores meu pro seu irmão e, tipo, desvesti um santo pra vestir outro.

— Ouvi falar que sem roupa dois corpos esquentam mais rápido. — Passei a mão pelas coxas dela e roubei um selinho.

Camila riu e subiu em cima de mim. — Podemos testar essa teoria.

Nos beijamos por alguns segundos, ela interrompeu nosso beijo. — Você ficou com ciúmes do Juan?

Revirei os olhos. — Me incomodou você falando espanhol com ele.

Ela se aproximou do meu ouvido. — Posso falar com você também.

— E o que você falaria?

— Quiero lamerte hasta que te vengas en mi boca mil veces (quero te lamber até você gozar em minha boca mil vezes).

Gemi baixo, a agarrei pela cintura e subi por cima dela. — Não me provoca.

Ela me olhou fundo nos olhos. — O que você vai fazer se eu continuar provocando?

A beijei com vontade, mordendo seu pescoço, arrancando sua blusa de moletom. Senti saudades daquele cheiro de pêssego do corpo dela, daquele beijo doce e safado, daquele calor tão dela. Camila era viciante.

Ela tirou a calça de moletom, tirei a minha também. Suas mãos estavam um pouco frias percorrendo meu corpo, mas nossos corpos estavam esquentando cada vez mais. Pude sentir o cheiro de sua excitação, isso me levou a loucura.

Ela abraçou minhas costas, mordendo minha orelha. — Me fode gostoso hoje.

Onde ela estava aprendendo aquelas coisas?
Amei!
Não esperei mais um segundo, fiquei por cima dela, agarrei seu cabelo com uma mão e a penetrei devagar, aumentando aos poucos a velocidade e profundidade. A cama começou a ranger, fazendo um barulho alto. Arregalamos os olhos uma para outra.

— Lauren, por que sua cama tinha que ser tão barulhenta?

— Nunca fiz isso nela pra saber se era barulhenta, dá um desconto.

Fiquei envergonhada da proposta que eu ia fazer, me sentia uma adolescente tarada. — Quer ir pro chão, é só...

Ela saiu debaixo de mim em um pulo e jogou um edredom no chão, deitando nele. Sorri e pulei para o chão também, levando um cobertor conosco, mas optei por ficar embaixo, não queria que ela ficasse com as costas no chão duro.

Ela subiu sobre mim, calvagando com vontade, com desejo. Lembrei daquela noite na casa dela, em que ela se masturbava sobre mim. Decidi fazer algo parecido e comecei a tocar seu corpo, tocar nela da forma que ela se tocou aquela noite. Comecei devagar e fui tateando da maneira que eu conseguia naquela posição.

Ela fechou com força os olhos e abriu a boca, jogando a cabeça para trás, parou de cavalgar e ficou sentindo minha mão ali. Acredito que acertei o lugar, porque sua respiração começou a ficar mais agitada aos poucos. Até o momento em que ela deitou sobre mim, me beijando ofegante e gemendo baixo em minha boca. Se existe algo mais gostoso que ver uma mulher dando aquela tremidinha, eu desconheço e nem quero conhecer, se já me viciei nisso, imagina em outra coisa melhor.

Sua respiração ficou mais calma e ela voltou a cavalgar, dessa vez fazendo um oito nos movimentos.
Onde ela estava aprendendo aquelas coisas?

Não aguentei 2 minutos...
ok, sendo sincera não aguentei nem 1 minuto.

Ela riu e me chamou para a cama, não pensei duas vezes em voltar. Pareciamos duas adolescentes taradas.

Demoramos mais tempo tirando a roupa do que tendo o ato em si.
Durou tão pouco para nós duas, acredito ser a vontade reprimida, o desejo louco para ser satisfeito.

Deitamos no colchão macio, mas ela continuou passando a mão pelo meu corpo, sei que ela queria mais, eu também queria. Voltou a me beijar.

Parei o beijo. — Preciso de um tempinho a mais que você pra conseguir ir de novo.

— Você pode ter seu tempo me beijando.

Voltamos ao beijo, suas mãos voltaram a percorrer meu corpo. Ela ficou sobre mim de novo, mas apenas para melhorar o beijo, esfregando seu corpo no meu. Eu já estava pronta de novo, esperar pra que?
Sua boca percorreu desceu para minha barriga, eu sabia bem o caminho que ela ia seguir.
O meu celular tocou, era hora de ser o papai noel.

— Salva pelo gongo. — Ela brincou.

— Nossa, essa gíria é do tempo dos meus pais.

— Achei que fosse do seu.

— Sou velha, mas nem tanto.

Ela sentou e me olhou com aquele falso sério. — Tem um jogo de cartucho na sua mesa ali. E aquele computador ali é beje, olha o tamanho do monitor.

Olhei para minha desktop, meu super nintendo, meu antigo computador de tubo, meus cds, meu mp3 que só cabia 20 músicas. Saudades daquelas tardes no msn e no tumbler.

— Mas eu peguei a era de ouro do pop, ok? Coisa que você nunca saberá o que é.

— Eu vi MTV também. — Camila mostrou a língua.

— E Eu vi Britney, Madonna e Cristina Aguilera se beijando. Eu sou do tempo que cantor lembrava que precisa cantar e fazer turnês.

Camila me beijou. — Por falar em beijo.

Puxei ela pela cintura, aprofundando nosso beijo. — Por falar em beijo.

Ouvi batidas na porta. — Tá na hora do papai noel. — Minha avó sussurrou do lado de fora.

Vestir a roupa com uma certa velocidade, no escuro e com minha avó na porta era uma tarefa complicada.

Descemos para a sala, salpicamos açúcar no chão para fingir ser neve da bota do papai noel. Tomei do leite e dei belas mordidas em todos os biscoitos, dei a ideia do ano seguinte colocar achocolatado, minha avó não gostou muito da ideia. Falou que não é isso que papai noel bebe. Por Deus, ele nem existe e quem estava bebendo era eu.

— Está começando uma nova tradição hoje?

Minha avó me perguntou com um sorriso sapeca no rosto enquanto fazia marcas de bota no açúcar no chão
Não entendi e ela apontou para minha calça... que estava ao contrário, de trás para frente. Olhei para a Camila, a blusa de moletom dela estava ao avesso.

Quanto tempo demora pra cavar um buraco para eu me enfiar pela eternidade?

— Vou buscar os presentes.
Falei com o rosto queimando, subi as escadas com Camila me seguindo. No corredor ela entrou no quarto de hóspedes e eu segui para o meu, não entendi nada.
Quando saí ela segurava três embrulhos.

— Você me convidou, fiquei com vergonha de vir com as mãos vazias. — Camila falou envergonhada, olhando para o chão.

— Não precisava.

— Era o mínimo. Fiquei muito feliz por ter sido convidada por você.

Sorri para ela, seus olhos brilhavam. Passei a mão pelo seu queixo, ela colocou a cabeça em minha mão, como um gatinho procurando dengo.

Descemos com os presentes, minha avó estava parada admirando a árvore de natal. Uma árvore grande, enfeitada e brilhante, havia algumas fotos penduradas, eu não tinha reparado aquilo antes.


Minha avó se virou para nós, seus olhos estavam molhados. Ela andou alguns passos e me abraçou, sussurrando um obrigada. Foi quando eu percebi que aquelas fotos foram tiradas naquele dia:

Camila correndo atrás do Nathan; eu na sala com meu chá; Camila no meu colo; Nathan no nosso colo; Várias fotos minhas conversando com minha avó durante o jantar. Com certeza Juan havia tirado e eu nem percebi.

Meus olhos ficaram molhados também. Memórias foram criadas e gravadas em imagens. Como é bom estar em casa de novo.

Voltamos para a cama, Camila dormiu comigo, ficamos de conchinha e pés dados. Eu não tinha insônia quando dormia com ela.
Sei que aquela era nossa última noite lá, no dia seguinte iríamos abrir os presentes e ir embora, mas queria gravar mais aquela memória em mim, porque sei que após aquilo, muita coisa iria mudar.

Intersex - a história  de LaurenOnde histórias criam vida. Descubra agora