Bad butterflies

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"Nós repetimos o que não consertamos", uma terapeuta me disse certa vez quando falava sobre eu estar reproduzindo os erros dos meus pais. Eu não aceitei, briguei e nunca mais voltei nela. Não fui eu que fiz todas aquelas merdas, não fui eu que causei os traumas em mim, por que deveria ser eu a limpar a bagunça?

Essa frase rondava a minha cabeça enquanto eu analisava um contrato no computador. Dei um pulo quando o telefone tocou.

— Srta Jane está a sua espera.

Antes que eu pudesse responder, Dinah abriu a porta, entrou e jogou a bolsa em cima da minha mesa.

— Ainda não entendo por que preciso me anunciar, até parece que você não vai me atender. Eu jogo essa porta no chão se não me atender.

— Bom dia também, estou bem, obrigada por perguntar.

— Chego de viagem e fico sabendo que você já tá aqui há horas. Que horas você chegou, mulher?

Puxei o ar com força e soltei devagar enquanto esfregava os olhos. — Não consegui dormir e vim pra cá. Fechar com eles é imprescindível.

Dinah me olhou compadecida. — Eu sei que demos um duro pra conseguir uma reunião com eles e tudo mais. Mas você precisa descansar, você vive aqui, vai acabar surtando qualquer hora.

Esfreguei minhas têmporas. — Daqui a pouco vou almoçar e fico uma hora longe daqui, pode ser?

Dinah se sentou na poltrona a minha frente. — Pode sim, apesar que não poderei ir com você, dia agarrado. — Retirou um Ruffles da bolsa. — Me conta do seu natal?

— Foi bom, gostei muito. Minha avó é tudo pra mim. Passar com ela e com o Kid foi perfeito. — Não consegui falar que Camila foi também. — Trouxe alguns biscoitos.

Peguei uma vasilha na bolsa, Dinah voou na minha mão. — Kitito ganhou o que de bom?

— Sim, seu presente foi o que ele mais amou, se é isso que você quer saber.

— Mas é claro que ele ia amar.

— Com certeza você não tem filhos, porque dar um karaoke de presente pra uma criança, sério, sei nem o que falar.

— Eu quero incentivar o garoto, ok? E ainda não perdoei sua mãe, então... juntei o útil ao agradável. Antes que eu esqueça, você vai na festa do Peter?

— Vou sim. Lá é uma ótima vista pra ver a bola descer no central park. Nem acredito que já é ano novo.

O telefone tocou, era minha secretária  avisando no viva voz que Camila estava a minha espera. — Pode deixar subir.

Dinah me olhou com olhos semicerrados. — Você ainda tá com Camila?

— Eu não estou com ela. Somos amigas.

— E o que ela veio fazer aqui?

— Não sei, veio me ver eu acho. Ela não tá na agenda. — Fechei meu notebook e encarei Dinah — Achei que você gostasse dela.

— Eu gosto dela, muito, aquela garota é o máximo. Só não acho que seja uma boa pra você e muito menos pra ela. Você acabou de sair de um relacionamento fudido. Não sei se ela vai aguentar todas as suas merdas.

— Ela não vai aguentar minhas merdas porque somos só amigas, ok? Não tem nada demais, vou almoçar com ela e é só isso hoje. Você mesma disse que preciso sair daqui um pouco.

— Você está saindo muito com ela pra serem só amigas.

— Vejo ela do mesmo tanto que vejo você, já falei isso. — Puxei o ar e respirei fundo, guardando minhas coisas na bolsa. — Nós só temos uma amizade, igual eu tenho com você.

— Mas vocês tranzam, nós não tranzamos. Viu como é diferente?

— Camila e eu temos só uma amizade com benefício de sexo, só isso, não vai passar disso.

— Você anda com cara de apaixonada.

— Mas que merda, Dinah! — Levantei, colocando minhas mãos na mesa — Já falei que não tô apaixonada pela Camila. Qual sua dificuldade em entender isso?

Vi Camila pela porta de vidro, não sei se ela conseguiu escutar alguma coisa. Ela sorriu amarelo e entrou.
Dinah levantou e deu um abraço nela, elogiou o cabelo que estava com um novo corte; eu levantei e peguei minhas chaves.

— Vamos?  Tchau Dinah, não ataque meu frigobar de novo.

Camila me deu um abraço, correspondi meio sem graça porque nem tinha cogitado dar um abraço nela, e abri a porta, passando por ela. Quando olhei para trás Camila me olhava diferente, a porta se fechou separando nós duas.

— Mas só tem coca zero e suco diet, tá de dieta de novo? — Dinah falou lá de dentro, com certeza mexendo no meu frigobar.

Camila arrumou a blusa e abriu a porta, saiu por ela devagar sem me olhar, andando ao meu lado. Fiquei sem graça, ao perceber que era possível escutar claramente através da porta. Ela havia escutado o que falei a Dinah.

— Vamos almoçar em algum lugar legal por aqui? Não tô afim de ficar aqui hoje. — Tentei puxar assunto.

Camila estava andando um pouco encolhida, suas duas mãos segurando a bolsa pequena a sua frente. — Tudo bem.

Tentei puxar qualquer assunto, mas ela parecia distante, mal me respondia.

— Saindo? — Guava, minha assistente, perguntou quando levantou os olhos do computador e sorriu para mim.

— Estarei de volta em uma hora. — Dei duas batidinhas em sua mesa e uma piscadinha.

— Quando você vai levar sua maravilhosa assistente para almoçar?

— Um dia desses, pode ter certeza. — sorri.

— Não brinque com meu coração. — Guava brincou, teatrando com a mão no peito. — Estarei esperando pelo almoço.

— Você ainda é minha favorita — Falei por cima do ombro enquanto saia com a  Camila.

Quando entramos no elevador, Camila hesitou algumas palavras que saíram inseguranças — O nome da sua assistente é Guava (goiaba)?

Levantei uma sobrancelha e ri. — Você conhece alguém chamado Honey (mel).

— Justo.

E um silêncio pairou quando as portas do elevador se fecharam. Olhei para Camila, ela parecia estar tendo uma luta interna.
— Você está bem? — Perguntei, ela olhava para o chão.

— Vo-você parece íntima.

— O que?

— Você e sua assistente. — Camila trocou o peso dos pes.

Franzi a testa não entendendo. — Eu não diria que somos próximas, mas ela é ótima. Definitivamente melhor do que qualquer outra assistente que já tive, embora ela esteja na empresa há apenas alguns meses.

— Ela é muito fofa.

Dei de ombros. — Acho que sim.

— E muito linda. Você já...?

Eu sei o que ela estava perguntando e ri do absurdo da pergunta. — Com a Guava?

Camila assentiu séria.

Percebendo que ela está falando sério, resolvi explicar.  — Não, isso nunca aconteceu e nunca acontecerá. Eu não me envolvo com pessoas do trabalho. Principalmente com meus assistentes. Ela só gosta de brincar e isso realmente não me incomoda.

Camila não respondeu. As portas do elevador se abriram e ela saiu sem dizer nada.
Me apressei para acompanhar seu ritmo e a impedi de andar ao agarrar seu braço na porta do prédio.

— O que está errado? Que que tem eu brincar com ela?

— Nada. — Camila puxou o ar e o soltou duas vezes. Reconheci aquele exercício de respiração, é para evitar um ataque de fúria ou ansiedade. — É apenas um dia ruim.

Eu sabia que isso era mentira e tive a sensação de saber por que Camila  estava chateada. — Olha, embora eu seja livre para fazer essas coisas com quem eu escolher e você também, não vou fazer isso. E concordamos em contar uma a outra se fizermos isso, você não deve se preocupar.

Camila balançou a cabeça, olhando para o chão. — Eu sei. — Sua voz estava monótona.

— E dormir com pessoas por aí nunca foi minha praia. Mas acho que confio em você. — Completei.

— Eu confio em você também.

— Bom. — Eu precisava ter certeza de que ambas estávamos claras sobre nossa posição. — Somos amigas, certo?

Camila não hesitou. — Claro que sim.

Olhei para a multidão de pessoas passando na calçada. — Há um fast food muito bom na esquina, vamos lá.

Camila assentiu com a cabeça. Ela não parecia estar bem, mas estávamos claras sobre sermos amigas.

— Na verdade não vou poder ir. Tenho que ir pra minha casa. — Camila parou, mas não me olhou nos olhos.

— Tudo bem, te levo então. Vamos passar em alguma lugar e pegar um lanche.

O caminho foi totalmente em silêncio, ela mal me olhava, respondia o que eu perguntava, mas não continuava os assuntos. Quando chegamos ela olhou para o prédio dela e soltou um suspiro.

— Não vai me convidar pra subir? — Falei brincando, porque ela sempre me chamava e dessa vez não chamou

— Gostaria? — Ela se animou um pouco, foi a única animação que tive dela durante todo nosso tempo juntas.

— Claro.

Minutos depois lá estava eu, sentada no sofá ao lado do boneco de posto, a tv passava futebol americano e Camila contava como foi a manhã dela. Ele colocou a tv no mudo para ouví-la. Ele estava sentado, corpo pra frente, atento a conversa.
Lembrei que algumas vezes Camila fez o mesmo comigo, contar sobre o dia, mas eu fiquei no celular porque tinha alguns e-mails para enviar.

Fiquei surpresa, pelo que entendi Camila tinha assinado com uma gravadora naquela manhã. E o boneco de Olinda disse que sentirá falta dela trabalhando na casa de shows. Então ela ia sair da boate? Há quanto tempo ela trabalhava lá? E por que ela não me contava essas coisas que obviamente o barbicha de bode sabia?

Eu queria arrumar uma desculpa para levar Camila ao quarto para saber melhor sobre essas coisas, queria ficar a sós com ela, mas o mal diagramado do homem não parava de dar atenção a ela. Fazia perguntas e ela respondia animada.

— Está tudo bem? — Camila me perguntou, então percebi que eu estava com a feição fechada.

— Está sim. Só não sou muito fã de futebol.

Senti os olhos do desenterrado me fuzilando.

— Vamos pro meu quarto então. Daqui a pouco o Tony tem que sair mesmo. — Camila beijou a testa do desaplaudido e eu levantei para segui-la.

— Deu certo, eles religaram. — O Uber de encosto falou sorridente para ela. Ele fechou a cara ao olhar para mim.

EU.ODEIO.ESSE.CARA.

Ela entrou no quarto que estava escuro pelo blackout e tirou o casaco. — Vou tomar banho, me espera aqui?

— Mas tomar banho agora? A essa hora?

Camila trocou o peso dos pés e me olhou sem graça, tirando um fio Imaginário do seu casaco. — A gente tava, tipo, sem aquecimento, ligaram de volta hoje. Tenho que aproveitar a água quente.

— Não posso ir com você?

Ela hesitou por alguns segundos. — Claro.

Camila ligou o chuveiro, voltou e tirou timidamente a roupa. Peguei suas mãos e a trouxe para a minha blusa. — Tira pra mim.

Selei nossas bocas. Ela retirou minha jaqueta e aprofundou nossos beijos. Paramos para tirar minha blusa. Nosso beijo voltou tímido, manhoso.
Sentei na cadeira e ela desamarrou minhas botas, retirou minha calça, a puxei para sentar sobre mim. Nosso beijo continuava lento, porém profundo. Ela me abraçava mais, me apertava mais, como se sentisse uma saudade que não passava.
— Me abraça, amor. — Ela sussurou, me puxando.

Ignorei o apelido carinho e a abracei. Ela emaranhou suas mãos em meus cabelos, a puxei mais para mim e comecei a tirar sua calcinha.

— Vamos pro banho? — Ela me perguntou parando o beijo.

— Você não quer? — Perguntei confusa.

— Quero, mas aqui tá frio.

Ela levantou e entrou no banheiro. Entrei junto, terminando de tirar minha roupa.

A água estava morna, em boa quantidade. Entramos com cautela, confesso que com ela eu não sentia vergonha do meu corpo. Aquele era meu primeiro banho com alguém, eu estava ansiosa, mas queria saber como seria aquilo.

Ensaboei suas costas, beijei seu pescoço, ela não estava com o cheiro de pêssego dessa vez, mas estava tão quente. Era tão gostoso abraçar aquele corpo macio.

Ela se virou e me abraçou, abraçou forte, como um náufrago abraça uma boia. A abracei de volta, colocando a cabeça em seu pescoço. Não sei quanto tempo ficamos assim, estava tão gostoso.

Sua mão delicada passava por minhas costas em um carinho gostoso. Ficamos assim, apenas sentindo a água quente em nós, o carinho em nossas costas.

— Precisamos sair, daqui a pouco a água quente vai acabar.

Morna, ela quis dizer. Morna para fria.

Saímos do banho, enxugando com pressa, entrei com rapidez debaixo do edredom. Camila riu e ligou o aquecedor portátil. Ela vestiu uma blusa social masculina branca e sentou na cama, pegando seu celular.

— Esse aquecedor não vai adiantar muito. — Falei olhando o pequeno aparelho bege.

— O quarto é pequeno, daqui a pouco esquenta.  — sorriu para mim, mas seu sorriso não encontrou os olhos. — Já estou agradecida porque tenho água quente, não vou reclamar dele.

— Vai me falar sobre a assinatura com a gravadora?

— Meu cunhado que conseguiu pra mim.

— Qual é?

— Island Records. — Ela não me olhou.

— Vou pedir pro David cuidar bem de você. Ele é o presidente lá.

Camila colocou o celular na cama e me olhou. — Eu queria que você cuidasse bem de mim. — Engatinhou até meu lado da cama.

— Você diz musicalmente ou outras formas?

Selou nossos lábios. — Você escolhe.

A puxei para cima de mim e a beijei. — Musicalmente eu não posso. Já passei por isso antes, não terminou bem.

Ela acariciou meus cabelos, dando alguns selinhos leves em minha boca. — Eu não sou sua ex, não vou fazer o que ela fez.

Optei por não falar nada e aprofundar nosso beijo. Tentei abrir a blusa dela e ela parou minha mão, se levantando.

— O que foi? — Perguntei confusa.

— Vou pegar a camisinha. — Foi até sua bolsa e retirou o envelope.

Mil pensamentos rodaram minha cabeça e nenhum era bom. — Achei que não precisávamos mais. — Falei ríspida.

Ela sentou na cama e brincou com o envelope na mão. — Eu não fui muito disciplinada com o remédio. Acho que não tomei alguns dias.

Ela colocou o envelope na mesinha de cabeceira, eu já não estava mais no clima após meus vários pensamentos de outras pessoas a tocando.

Abri meus braços e ela se aconchegou em mim.

— Seu abraço parece de um coala. — Camila brincou e entramos debaixo da coberta de novo.

— Feliz que você gosta. Sobre a camisinha, eu não sei se posso ter filhos.

Ela deitou melhor em mim, de uma forma que pudesse olhar em meus olhos. — O que falava o exame?

— Eu nunca fiz o espermograma. Não gosto dessa parte em mim.

Ela passou uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha. — Imagina que legal uma criança com esses olhos verdes lindos que você tem e com seu cabelo, pulando e cantando pela casa.

Eu consegui imaginar essa criança, mas ela apareceu em minha mente com o sorriso da Camila. Isso não estava certo.

— Por enquanto prefiro não saber.

Ela puxou mais o edredom e ficou ao meu lado, seus braços me prendiam com força. Comecei a observar sua respiração, seus olhos castanhos lindos me encarando. Eu não percebi quando adormeci, era estranho como que com ela a insônia não me incomodava.

Acordei com algumas buzinas, Camila  estava dormindo, retirei seu braço com cuidado. De acordo com meu celular não dormi nem 30 minutos, mas pareceu que dormi 5 horas, me senti revitalizada.

Vesti minha roupa em silêncio e saí em busca de água. O desencantado estava fazendo algo no fogão. Ele me olhou com raiva, muita raiva.

— Vem aqui fora, quero conversar com você.  — Sua voz grave soou como uma ordem.

O segui até a escada de incêndio, uma lufada de ar me fez tremer. Ele fechou a porta e se virou para mim, o indicador quase encostando no meu rosto.

— Olha aqui, você tem muita sorte de ser mulher, porque se você fosse homem eu já tinha te quebrado todo.

Teria mesmo, porque o braço do indivíduo era minha coxa.

— Posso saber por que essa agressividade toda? — por fora eu estava calma, por dentro meus órgãos estavam lutando para ver qual sairia primeiro pela minha boca.

— A Camila pegou dois metrôs e um ônibus pra ir te ver hoje, você tem noção da merda que são os metrôs dessas cidade? Você ao menos alguma vez na vida já andou de metrô aqui? Já viu a quantidade de rato e mendigo que tem nas estações? — a voz dele aumentou mais — Ela passou por isso tudo pra te ver e contar a novidade pra você.

Um nó se instalou na minha garganta.

— E pelo jeito que ela tava triste, você nem se importou com isso. Mas claro, pra trazer ela pra cá e tranzar com ela você quer. Você é desprezível!

— Como é que é? Você acha que é quem pra falar comigo assim?

Ele puxou o ar com força e olhou pra cima, soltando o ar devagar. — Eu que te pergunto isso! Você vem e da ideia errada pra Camila, fala que é só amizade e fica com ela sempre que você quer. Ela não é brinquedo.

— Não é desse jeito. — Me defendi. Aquele idiota estava me irritando.

— Eu sei tudo sobre essa coisa de amigas com benefícios, Camila me conta tudo. — Apontou o dedo para mim. — Isso é algo que ela nunca teria feito antes de você aparecer.

— Olha cara, eu não sei que merda você quer de mim. A Camila e eu somos adultas e podemos fazer o que quisermos.

— Você precisa deixar ela em paz. Você não pretende levar isso a sério mesmo, tudo que você fará é machucar ela.

— O que eu sinto por ela não é da sua conta, cara!

Ele me olhou diretamente, seu rosto estava quebrado. — Você não conhece ela como eu conheço. Ela merece coisa melhor que isso, melhor que você.

— Você tem sentimentos por ela.

Ele vacilou — Isso não tem nada a ver.

— É por isso que você me odiou desde o momento em que me conheceu.

Ele travou o dente como um cão rosnando. — Eu odeio o que você tá fazendo com a Camila.

— Isso não é problema meu. — Olha eu rindo na cara do perigo. — Olha cara, nós já conversamos e eu não tô fazendo nada de errado.

— Você tá fazendo muito mais do que pensa. Ela quer um relacionamento sério e você não. Você tá desperdiçando o tempo dela.

— Isso é problema meu, eu me resolvo com ela, não com você. Se tiver achando ruim, fala pra ela o que você sente, cara.

Ele engoliu a seco. — Eu já fiz isso. — Ele olhou para uma ambulância que passava lá embaixo. — Logo depois que ela te conheceu ela ficou bem chateada que você foi embora. Eu só queria que ela soubesse que tem alguém aqui que queria estar com ela.

— Mas ela te rejeitou.

Ele me olhou novamente. — Sim, porque tudo que ela falava era que "tinha que encontrar Lauren".

A culpa se instalou em mim, fiquei um tempo processando toda essa conversa.

— Nada a dizer?

Ele me olhou frio.

— Olha cara, sinto muito que ela não sinta o mesmo por você, mas tô tentando acertar as coisas com ela e preciso que você me deixe em paz.

Ele deu dois passos para próximo de mim. — Se quiser acertar as coisas com ela, só não a machuque mais, ou eu vou esquecer que você é mulher.

Ele balançou a cabeça, se virou e entrou. Fiquei um pouco lá fora, as rajadas frias de vento me lembrando que eu não estava com a roupa apropriada.

Quando retornei ao quarto Camila estava deitada, olhos abertos perdidos.

— Ei — Falei baixo.

Camila se sentou rápido. — Acabei de acordar. Achei que tivesse ido embora.

Fechei a porta atrás de mim. — Você não precisa se preocupar, ok? Eu prometo que nunca vou simplesmente levantar e sair de novo.

Sentei na cama ao lado dela, seus olhos estavam molhados.  — Fico feliz. Porque não sei se aguentaria passar por aquilo de novo.

A abracei. — Olha, eu preciso voltar. Tenho uma proposta muito grande que preciso conseguir.

Ela meu olhou com algo em seus olhos que eu não consegui identificar. Como se ela estivesse esperando que eu dissesse alguma coisa. Exatamente o que dizer, não sei.

— Tudo bem. Eu vou ficar aqui.

"Tudo bem, eu vou ficar aqui".
Era essa frase que minha mãe sempre falava ao meu pai todas as vezes em que ele saía para trabalhar e voltada dias depois. Ela sempre ficava e ele ia, até o dia em que ele voltou e ela não estava mais.

Intersex - a história  de LaurenWhere stories live. Discover now