Intersex - a história de Lauren

Know no better

Estava encerrando uma reunião com alguns representantes de um cliente em potencial. Para ser honesta, as coisas não correram tão bem quanto eu gostaria.

Por alguma razão, Peter queria ser o responsável pela apresentação desta vez, então deixei ele assumir as rédeas. Mas quando ele começou a gaguejar no momento mais importante, friamente o fiz sentar e assumi o controle.

E isso pareceu até ser programado, como uma jogada inteligente, pois os representantes pareciam muito felizes quando terminei.

É tão fácil enganar quando se sabe o que quer do outro. Assim como é tão fácil ser enganado quando não se sabe o que quer.

— Acho que é seguro dizer que isso está definitivamente indo na direção certa. Estamos ansiosos pra trabalhar contigo. — Um dos homens mais velhos apertou minha mão. Todos logo começaram a sair da sala de conferência, o ambiente ficando até mais leve.

Assim que os representantes estavam fora do alcance da voz, Peter soltou um suspiro, esfregando as mãos e se aproximou acanhado.

— Desculpe. Fiquei muito nervoso.

Foi inevitável não revirar os olhos. Quando peguei meu celular na gaveta, uma cartela de cigarros caiu, nem lembrava que estava ali. — Nem sempre estarei lá pra salvar sua pele. Esteja pronto na próxima vez.

— Foi mal, eu sei! Isso não vai acontecer de novo, eu juro. — Peter parecia à beira de um ataque de ansiedade quando pegou a carteira de cigarros e me entregou, confesso que me senti até um pouco mal por ele. 

— Eu também fiquei muito nervosa nas primeiras vezes. Você só precisa praticar antes. Ensaie na frente do espelho se for preciso.

— Sim, acho que posso. Obrigado, você sabe, por não me matar. — Peter ofereceu um sorriso sincero.

— Se não conseguíssemos este job, a história seria diferente. Mas correu bem na maior parte do tempo, por isso vou deixar passar desta vez.

A indignação subiu quando olhei no relógio e já era 5:42pm —Essa reunião durou muito mais tempo do que eu pensava. Vá para casa, Peter. Divirta-se neste fim de semana. Avisa ao pessoal que vou ficar.

— Devo avisar na portaria também? Como nas outras vezes?

Acenei um sim e abri meu notebook, as planilhas gritavam por minha atenção. — Que foi? Por que está aqui ainda?

— Sobre aquela moça, a Camila.

Gelei com o mouse no ar. — O que tem ela?

Peter deu de ombros colocando as mãos no bolso. — Não tivemos nada e ela... parece ser melhor que a Ashley.

Outra revirada de olhos, ele com seu divino dom de me irritar. — Tanto faz. Não tenho nada com ela.

7:32pm

Outra vez o relógio me dando claros sinais que eu precisava ir pra casa.

Levantei dando aquela espreguiçada barulhenta que denuncia os aniversários passados... que estão se amontoando cada vez mais.

Abri as persianas da janela do escritório, e acendi o quarto cigarro que eu jurei ter parado.

Mas como parar com algo que está logo ao alcance?

Apaguei a luz para admirar o brilho de Nova York, paguei tão caro por aquela vista e mal a via devido a correria.

Voltei para a mesa e deixei a luz apagada, decidindo que as luzes lá fora eram o suficiente. De qualquer maneira, eu estaria trabalhando no computador.