03 A LENDA

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Quase meio milênio, sem dragão, sem espada e história modificada. Somente o nome de Ziusundra continuou firme contra os longos anos. A capital de Meradomum deixou de ser Assaph. O palácio de Mera, agora era habitado apenas por humanos.

~ ~ ~

O pequeno Abel no alto de seus seis anos estava escondido atrás do trono do pai, no grande salão real. O abrigo esculpido em madeira pauferro, com brasão de dragão em prata, cravejado com olhos de rubi, atravessava séculos.

Os cabelos loiros do príncipe e seus belos olhos azuis, como lápis-lazúli, estavam visíveis na lateral do acento real, bem como uma de suas mãozinhas de pela clara, levemente bronzeada pelos treinos de espada ao sol.

Quando o grande portão, de madeira maciça escura com dragões entalhados, se abriu, o rei Cadmo percebeu imediatamente o pequeno espião atrás de seu trono. Rapidamente dispensou os guardas e conselheiros.

Sozinhos com a porta fechada, Cadmo logo ouviu os gritinhos de alegria do filho, que veio correndo abraça-lo.

Com o príncipe Abel em seu colo, o rei sentou-se no trono macio, de veludo vermelho, e perguntou se o pequeno gostaria de ouvir, o poema de fundação do reino de Meradomum.

Com os olhos brilhando, o pequeno acenou que sim e o rei Cadmo começou:

Ziusundra era um viajante
Cruzou o mar até terras distantes
Desembarcou na Urk antiga
Enfrentou chapadas e fadiga

Entre vilas fundou Meradomum
E logo começou uma luta pelo trono

Sádico, o vizinho, tomou-lhe a força territórios e plantio
Mas um Dragão veio em seu auxílio tardio
Ziusundra curvou-se perante o frio
E uma benção de proteção conseguiu

De sua couraça prateada a própria criatura arrancou de seu peito uma de suas escamas

Com aquela grande placa de prata em suas garras
O dragão pronunciou palavras mágicas
O metal se contorcer ganhando a forma de uma espada
Que possuía o brilho gelado do poder que carregava

Ziusundra recebeu a espada em suas mãos
Com um golpe ceifou vidas sem perdão
Sádico pereceu diante da fúria gelada
E Meradomum se estabeleceu como morada

O Dragão...

— Onde está a espada papai? — interrompeu o pequeno príncipe Abel, com seus belos olhos azuis arregalados.

— Na floresta! Adormecida com o nosso longo período de paz. — disse sorrindo enquanto fazia um rápido afago nos cabelos dourados como trigo do pequeno.

Nesse momento a governanta entrou no salão real.

A senhora já possuía fios brancos, marcando o tempo, que estavam perfeitamente alinhados em um coque coberto por um lenço. Seus olhos eram gentis contemplando aquela cena.

—  Majestade, o tutor do príncipe o aguarda. — ouvindo isso Abel abraçou o pai, com a voz triste pediu para ficar um pouco mais.

— Quero ficar e ouvir todo o poema de fundação do reino. Por favor papai. 

—  Não seria certo deixá-lo esperando, não e mesmo? Vá dê a mão para Lourdes.

Com a despedida forçada, pai e filho se separaram. Abel seguiu para a biblioteca segurando a mão da governanta olhando cada quadro do corredor pensando qual deles era o grande rei que fez a aliança com o dragão no passado.

Guerra e DragãoWhere stories live. Discover now