16 CHÁ

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O sol atingia o topo do céu enquanto Abel, Eloisa e os guardas seguiam o rei em um passeio pelo castelo. Os criados e demais servos se amontoavam nos corredores sem acreditar que o rei estava realmente bem novamente.

Embora o rei desejasse recuperar o tempo perdido o mais rápido possível, seu corpo estava fraco e ele teve que ser amparado por Abel para não cair.

— Por favor não se esforce tanto majestade... — disse Abel, mas os olhos do rei ferviam em ira.

— Não vou perder nenhum minuto... Guardas!

Todos responderam em unicismo ao rei que ordenou a prisão de seus conselheiros imediatamente.

Enquanto os guardas se retiravam para atender a ordem da majestade, Abel conduziu o avô a uma sala privada, longe dos olhares curiosos dos criados. Eloisa ficou do lado de fora e se encarregou da governança do castelo que agora estava em alvoroço.

~ ~ ~

A reunião entre neto e avô durou horas. Muitas coisas haviam acontecido e o rei queria saber tudo que ocorreu enquanto estava sobre feitiço. Abel estava encantado com seu avô, todos aqueles anos que pensou ser odiado foram apagados.

Seu avô era sóbrio e de poucos sorrisos, mas seu olhar deixava escapar um misto de amor, saudade e admiração enquanto analisava o rosto de seu neto e ouvia-o falar.

Durante essa conversa que acontecia Eloisa e uma criada se aproximavam do corredor vazio que dava acesso aquela sala. Surpresas notaram a forma humana do dragão vigiando a porta.

Ao se aproximar a criada que trazia um carrinho de serviço com duas refeições, além de chá, pães e bolo foi impedida de seguir. Volker se posicionou na frente, a encarando como um assassino perguntou se aquela comida estava envenenada.

Assombrada a criada ficou muda, mas Eloisa se sentiu ofendida.

— Claro que não! Eu mesma preparei o chá e supervisionei a cozinheira.

Lançando um olhar desinteressado Volker apenas deu espaço para que a criada seguisse seu caminho. Tremendo ela bateu a porta e se anunciando pediu licença para entrar.

Assim que a criada entrou Eloisa tentou segui-la, mas foi impedida por Volker que a segurou pelo pulso, levantando ele até a altura do rosto e se aproximando tanto que a princesa só conseguiu se lembrar dos beijos que trocaram.

Seu coração disparou enquanto encarava os lábios daquela bela forma humana.

— Agora só sinto nojo... — disse Volker com desprezo.

A pobre Eloisa ficou em choque, nem mesmo respirava. O dragão, sem cerimônias, a deixou ali e seguiu para dentro da sala.

O rei ficou sem palavras ao ver um homem de cabelos prateados entra carregando em sua cintura a espada que sem dúvida era a da lenda.

Arrogante e agindo como se ali fosse seu território Volker serve-se de uma xícara de chá e senta-se elegantemente em uma poltrona próximo a Abel.

O clima do ambiente muda completamente e Volker quebra o silencio:

— Um tesouro raro desfrutar um chá feito pelas mãos de uma princesa...

Imediatamente Abel entende tudo e sorri tentando aliviar o clima.

— Então foi Eloisa quem fez esse chá? Precisamos agradecê-la meu avô. Ela esteve cuidando de seu leito todo esse tempo...

Admirado o rei ordena que a criada então chame a princesa. Mas ela não precisa ser chamada, ouvindo o pedido do rei se apresenta a porta com um olhar cabisbaixo e húmido, denunciando um choro recente.

— Não preciso de agradecimento. Só cumprir minha obrigação majestade. Agora se me permite irei me retirar...

Todos na sala ficam sem entender o que se passava com Eloisa, menos Volker que sabia muito bem o que tinha feito. Até mesmo sorriu de canto desfrutando do poder que possuia sobre aquela humana tola.

Em seguida a criada também se retirou.

Abel desejava retomar a conversa com o rei, mas a presença de Volker quebrava toda a intimidade do encontro. Talvez por sorte os guardas do palácio bateram a porta informando o cumprimento das ordens. Sem demora o rei pediu a Abel que aguardasse, pois precisava resolver esse assunto, mas desejava continuar a conversa mais tarde.

Após a saída do rei Abel se voltou para Volker que desfrutava de seu chá como se ninguém tivesse entrado ou saído.

Olhando atentamente para ele o príncipe percebeu hematomas discretos em seu pescoço e mãos.

— Volker, você está bem?

— Não! Você quase me matou. Como pode ser tão frágil a altitude? Sua fraqueza me puniu como se eu tivesse tentado lhe matar!

Abel nem sabia o que responder. Afinal como ele poderia saber? Mas Volker não estava tão furioso como queria aparentar ele se inclinou e estendeu a espada ao príncipe.

— Fique com ela por enquanto. Seu avô ficará orgulhoso em vê-la em sua cintura...

Abel aceitou de bom grado e agradeceu ao tio dragão.

~ ~ ~

Naquela noite a cidade estava agitada. A notícia de que o rei estava curado de um feitiço corria solta. Muitos nobres tentavam fugir na calada da noite. Os soldados estavam divididos entre os fieis ao rei que faziam prisioneiros e os fieis aos nobres que despistavam as tropas para facilitar algumas fugas.

No castelo o clima não era diferente, muitos criados apontavam criminosos entre si, o que causou muitas prisões preventivas. Gritos, choros e juramentos de lealdade ao rei podiam ser ouvidos da sala real onde Abel e seu avô recebiam os relatórios dos guardas.

Vendo o rei perturbado, sem conseguir lidar com tantas prisões, traições e o cansaço por ter estado enfermo por tanto tempo. Abel suplicou que ele descansasse. Relutante, mas vendo no neto o mesmo pedido que sua falecida filha costumava fazer, ele cedeu.

Ficando sozinho em seu quarto o rei sentou-se na cama pensando que não conseguiria dormir com tantas preocupações. Antes que pudesse se deitar sentiu um ar frio tomar o quarto. Olhou para a janela e viu a forma humana de cabelos prateados caminhando em sua direção enquanto pronunciava um encantamento.

Tomado pela magia o velho caiu em sono profundo. Volker então o alinhou na cama e o cobriu com bondade.

— Ahg... Eu deveria estar livre, não me preocupando com um velho humano...

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Guerra e DragãoWhere stories live. Discover now