Sempre foi ela - Duskwood

Isso é culpa minha

Quando saio de casa vejo Ethan me esperando do lado de fora do carro, vou até ele e deixo a mala no chão, e ele me olha com empatia, e não diz nada, Ethan pode ser o maior galinha, mas sempre me aconselhou a dizer a verdade para Maria.

Então, ele simplesmente não diz a famosa frase "eu te avisei", ele apenas descruza os braços, pega minha mala no chão, e me dá dois tapinhas no braço, coloca a mala no banco de trás de sua pickup, e eu entro no banco do passageiro, após ele entrar, vamos em silêncio o caminho todo.

Chegamos em sua casa, quando ele abre a porta, Liam está aqui e Aiden me abraça forte. Coloco a cabeça no ombro dele e choro silenciosamente, Ethan segura minhas costas.

Estamos sentados na sala da casa de Ethan, bebendo já tem algum tempo, até que um de nós cria coragem de falar.

— Lamento pelo o que aconteceu, de verdade, Alan, eu acredito que vocês vão superar isso. — diz Aiden.

— Vocês são perfeitos juntos. Vai dar tudo certo. — Liam me consola.

— Você cometeu um erro, todo mundo comete, ela vai te perdoar. — Ethan diz.

Eu me levanto do sofá, com cerveja ainda na boca, acenando que sim, então, jogo a garrafa com tudo na parede fazendo vários pedacinhos de cacos de vidro voarem para todos os lados.

Me deito no sofá depois que todos vão embora, mas não consigo dormir, não sem ela, não depois do que eu fiz, me viro de um lado para outro e só consigo lembrar da expressão de decepção em seu rosto.

Alan: Maria, eu sinto muito por mentir pra você.
Eu confio em você, eu não confiava em mim e na minha insegurança, no meu medo de te perder.
Eu prometo querida, nunca mais vou mentir.
Por favor, me perdoe.

Alan: Me deixe voltar para nossa casa.

Alan: Eu estou indo.

Alan: Maria, por favor, me responda...

Alan: Me perdoe, por favor.

Alan: Vamos conversar.

Bloqueio o celular, não sei se ela irá me responder, estou exausto, e finalmente acabo pegando no sono.

Alguns dias depois o tratamento de silêncio continua, liguei, deixei inúmeras mensagens e recados na caixa postal, mas ela não retorna nenhuma, acho que ela nunca vai me perdoar por mentir.

Estou no trabalho agora, acabamos de fazer uma apreensão de drogas em uma quantidade bem considerável, o relatório deve estar bem detalhado, mas então, meu celular começa a tocar e um número desconhecido aparece na tela.

Alan: Alô?

Jake: Bloomgate? É o Jake, não desliga, é sobre a Maria.

Alan: O que você quer?

Jake: Ela está no hospital.

Não ouço mais nada, quando me dou conta estou no hospital desesperado para saber o que aconteceu, e preciso mais do que tudo, vê-la.

Jake me para antes de eu entrar no quarto, ele me diz que o médico vai nos explicar o que aconteceu primeiro e depois podemos falar com ela.

— Pelo o que o senhor Donfort nos disse, ela estava a 4 dias sem se hidratar e sem se alimentar, este é um quadro claro de depressão profunda. — explica o médico. — Pelo seu histórico médico, sabemos que ela tomava remédios para estes sintomas, mas nunca relatou pensamentos suicidas. Óbvio que ela sofreu um grande trauma que a fez ficar da maneira que está, se o senhor Donfort não a achasse, ela poderia ter morrido.

Fechos os olhos e expiro, não acredito que a deixei sozinha, estou comentendo uma sucessão de erros, eu não podia ter ido embora, eu tinha que ter voltado por ela. Meus olhos se enchem de lágrimas, minha garganta está em um nó.

Quando o médico libera para entrar no quarto, vou quase correndo até lá, Maria está parada sentada na cama olhando para o nada, mas ela não está lá.

— Querida, olha pra mim, por favor, me perdoe, Maria, por favor. — me sento na cama, olhando para ela e ela não se move.

Jake sai do quarto e vou atrás indo pra cima e quase o enforcando, colocando meu antebraço em seu pescoço o pressionando contra a parede.

— Isso é culpa sua! — digo entre dentes, meu ódio por ele ficando evidente.

Ele me empurra e eu volto e lhe dou um soco muito bem dado que ele estava merecendo a muito tempo, ele também consegue me acertar e nós caímos no chão, subo em cima dele e consigo acertar outro soco em sua boca que começa a sangrar, daria socos na cara desse merda até ela ficar em pedacinhos, mas alguém nos separa e me tira de cima dele.

— Você deveria ter continuado morto, você fez isso!

— Você era o noivo dela, ficou com ela por mais de um ano e tudo o que fez foi mentir. Pode dizer o que quiser para dormir bem a noite, mas a culpa do que aconteceu não é só minha. — diz ele com os dentes todos vermelhos de sangue e suas palavras me fazem engolir em seco.

— Por que você não vai embora? Deve ser fácil pra você já que não seria a primeira vez. — digo me aproximando dele, debochando.

— Por que você não a procurou depois que saiu de casa? Por que não ligou ou mandou mensagem, foi até a casa ver como ela estava?Você era o noivo dela, afinal. — ele diz, e está certo.

— Eu liguei, mandei várias mensagens, ela não respondeu. Pensei que só estivesse chateada comigo, que precisava de um tempo. — confesso— E eu ainda sou o noivo dela. — aviso a ele, depois fico próximo ao quarto, o suficiente para vê-la e meus olhos se enchem de lágrimas — Eu deveria ter voltado para casa. Obrigado por ter me ligado e avisado sobre isso. Teve uma coisa que ela não te contou naquele dia. — não tenho mais nenhuma razão para mentir, então digo a verdade para ele.

— Como assim? — Jake pergunta.

— Todos os meses, até o mês passado e acredito que ela faria isso este mês também se não estivesse aqui, no dia da sua "morte", ela ficava assim — aponto para o quarto — Ela não falava nada, não comia, não bebia água, não levantava da cama, não ia trabalhar, não respondia mensagem, nada. Ela nunca disse nada sobre isso, mas não precisava perguntar para saber que era sobre você. — meu celular vibra com algumas mensagens do trabalho, simplesmente larguei tudo lá sem falar nada e preciso voltar.

Não quero deixá-la sozinha aqui, muito menos com esse imbecil do hacker, mas eu preciso ir e conversar com meus amigos e avisar ao meu capitão o que está acontecendo.

— Jake — respiro fundo — Isso não é sobre nós, então, qualquer coisa me avise, por favor. — imploro.

Vou embora, totalmente arrasado, sei que quero culpar o Jake por tudo o que aconteceu, por tudo o que deu de errado, mas não seria verdade, e eu não quero mais mentir, nem pra mim mesmo. Isso também é culpa minha.