II - Terris O'Brian

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As linhas de código que passavam pelo monitor em alta velocidade, significando que o processador central estava a efetuar os cálculos e que até ao momento a programação não apresentava falhas ou tudo já tinha sido reiniciado, iluminavam o rosto jovem do cientista ruivo, cabelo penteado para trás, formado em Física Teórica pela prestigiada Universidade de Cambridge, em Inglaterra

O cientista chamava-se Terris O'Brian e era um homem intelectual, calado, concentrado, fanático por números e com um certo grau de ambição que se podia ter como escandalosa para alguém ligado à investigação.

Trabalhava presentemente numa empresa que desenvolvia protótipos no âmbito da nanotecnologia para aplicação às ciências da saúde, nomeadamente na exigente área dos transplantes de coração e fígado, e utilizava as instalações, no seu pouco tempo livre, para desenvolver um projeto secreto e pessoal que já havia chamado a atenção de certas pessoas.

Ou melhor, pensou ele, relaxando sobre o encosto da cadeira de rodízios, esfregando o rosto com as mãos, fora ele que chamara a atenção dessas pessoas sobre si.

Estava um pouco arrependido porque o projeto ainda estava em desenvolvimento e ele quisera assegurar-se da sua produção. Mas na realidade não passava de um protótipo e tivera receio de que a sua grande invenção não passasse de um sonho que alimentara desde pequeno, desde que vira o filme "Terminator" de James Cameron pela primeira vez. Sim, o velhinho filme de 1984, o primeiro de uma longa série de excelentes filmes e de embaraçosos fracassos de bilheteira e da crítica...

Viagens no tempo!

E foi por causa do filme que começou a ler livros sobre Física, a estudar sobre o Universo, a investir no conhecimento sobre as teorias desenvolvidas por Albert Einstein. Requisitava livros na biblioteca, aplicava a sua magra mesada a comprar compêndios académicos. E depois quando chegou a altura de escolher um curso e uma universidade decidiu-se por Física Teórica.

Uma matéria complicada, todos lhe diziam à sua volta. Ele encolhia os ombros. Utilizar modelos matemáticos e combiná-los com técnicas de dedução lógica e análise crítica para conseguir explicar de uma forma racional e até prever os fenómenos físicos tornou-se fácil. Ele olhava para as complicadas fórmulas e via o que estas significavam e ilustravam. O mundo abria-se em possibilidades fantásticas e ele via o que mais ninguém via. Uma beleza transcendental e futura.

Ali estava o futuro.

Graduou-se com uma das melhores notas daquele ano e em breve fora requisitado para trabalhar como assistente num projeto arrojado de investigação no MIT, em Boston, nos Estados Unidos da América, a convite do seu professor de Física Quântica.

Foi no MIT, o Massachusetts Institute of Technology que aprofundou os seus conhecimentos sobre o funcionamento da variável tempo e foi também nesse instituto que Terris O'Brian começou a esquematizar a sério o seu grandioso projeto para realizar a primeira viagem no tempo pela Humanidade. Um feito que haveria de ser celebrado como a chegada do Homem à lua, em 1969.

Deslumbrou-se com a sua própria ambição e tentou conseguir uma bolsa para investigar por conta própria. O investimento aconteceu, mas foi sempre demasiado intermitente. Nunca conseguira um mecenas que apostasse a sério na sua ideia e ele, com receio de que o deixassem sozinho naquilo, que o achassem um louco, nunca contou a quem o financiava a história toda. Reservava o núcleo do seu trabalho para si e cobria tudo com uma série de conjeturas indecifráveis que, se lhe pedissem para explicar, ele dizia sucintamente que se relacionava com as viagens a Marte.

Ou seja, nunca disse a ninguém que o seu projeto era simplesmente sobre viagens no tempo. Porque não era tão simples assim. Quem quereria investir numa tecnologia impossível?

SentenciadosWhere stories live. Discover now