XIII - Viagem

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O caminho percorrido pelo carro prata do casal fugitivo já tinha percorrido mais de quatrocentos quilómetros desde a cidade de origem, naquela altura. O sol já se despedia, descendo pelo horizonte dando lugar a uma noite de lua cheia.

Terris, que envergava uma roupa descontraída como se fosse um turista, batucava levemente seus dedos no volante do automóvel ao escutar uma rádio aleatória que tocava muitas músicas dos anos de 70, 80 e 90 do século XX em especial as que ele mais gostava eram as de Phil Collins. Ele parecia se divertir no caminho devido à acústica no carro, embalado agora por "Another Day In Paradise", muito ao contrário de sua passageira, Amanda Scott, que se mantinha a mesma desde o começo do trajeto.

Olhando às vezes para a face desconsolada de Amanda, o cientista não sabia o que produzir para tirá-la daquele mundo das ideias que tanto a machucava. Imaginava como seria para Amanda estar abandonando tudo, mas também sabia que não era o fim do mundo para fechar-se daquela forma. Então em meio aquele ínterim de pensamentos lembrou-se que se queria fazer uma boa farsa com a secretária precisava criar um laço com a mesma. Para isso precisava entender quem ela era de fato, não somente ter as lembranças da pessoa que poderia ser, pois havia a possibilidade de ser completamente diferente da que estava ao seu lado.

Já se tinham visto algumas vezes, nas várias linhas temporais, mas foram sempre acontecimentos rápidos e desenhavam-se confusos na sua memória, pelo que Terris não podia considerar que conhecia aquela mulher.

Sentia-se atraído pela sua personalidade contraditória, mas descontando o impulso inconsciente em que a beijara – e talvez a tivesse beijado mais vezes nessas linhas temporais – considerava que eram, naquele estágio, perfeitos desconhecidos. Apesar de se ter apaixonado... e de sentir que lhe pertencia.

– Então... – pigarreou. – Me fala um pouco de você... – pediu ele ainda balançando a cabeça como quem acompanhava a música a tocar.

– Hã?! – Amanda olhou para ele como se não tivesse entendido bem o que queria sugerir.

– Eu quero saber mais sobre você... Tem família? Há quanto tempo trabalhava na empresa "Investimentos & Segurança"? Amigos? Quais são os teus passatempos? Um namorado? – O cientista tentou não parecer muito ávido, mas sem querer já tinha disparado algumas perguntas de rajada.

– Você se juntou com o Poleris para me investigar também? – indagou Amanda, arrancando uma risada forçada.

Ele mostrou-se incomodado.

– É sério! Vamos Amanda... Preciso conhecer mais de você. Afinal nós somos supostamente um casal. O casal Cooper – observou ele.

Ela balançou a cabeça, fingindo que se distraía com a música. Apoiou o cotovelo na porta do automóvel, descansou o queixo na mão e voltou a fingir, desta feita, que se interessava pela paisagem monótona que enquadrava a autoestrada.

Na realidade, pensava e após considerar o que ele lhe dizia, comentou:

– Bom, Amanda Scott morreu, então não faz diferença o que ela foi, em tempos, senhor Dimitri. É uma pessoa que já não existe. Agora temos a Zoe Cooper, que poderá conceder em responder a algumas perguntas sobre essa tal de Amanda Scott.

O cientista percebeu a sua mágoa – as ideias que continuavam a atormentá-la sobre o que estava a acontecer-lhe. Ele insistiu, num tom baixo:

– Sim, eu gostaria de conhecer um pouco sobre a Amanda Scott...

Mas como ela não dizia nada, e cismando com a vista que conseguia desde a janela do carro, ele completou:

– Mas se ela não quiser falar do passado, então que tal se o cientista do tempo começar contando um pouco sobre sua própria vida? Para quebrar o gelo e como princípio desta bonita história.

SentenciadosWhere stories live. Discover now